Muito se discute sobre as vantagens e desvantagens entre o vinil e o CD. Os mais saudosistas e conservadores insistem que o Long Play é muito superior ao Compact Disc, pois é uma mídia analógica com graves mais "profundos", agudos ultrasônicos e uma ampla faixa dinâmica. Do outro lado, os defensores da tecnologia digital minimizam estas diferenças e acrescentam em sua defesa as comodidades que o mundo digital proporciona.
Quanto a comparações técnicas como resposta em frequência, extensão dinâmica e distorção, recomendo a leitura deste artigo. Minha intenção aqui é analisar aspectos mais subjetivos que estão incrustados na revolução tecnológica dos últimos anos, impactando a forma como nós vemos a arte.
Apesar da grande admiração e respeito que tenho pelo LP e pela sua importância na história fonográfica e na cultura do século XX, me alinho ao grupo dos "digitais". Acredito que o CD tem inúmeras vantagens com relação ao vinil. Pode-se colocar muito mais informação em um CD; não é necessário virar o lado; a qualidade do som não degrada com o uso; pode-se fazer infinitas cópias fieis... A única exceção é a arte da capa, que perdeu em muito com a diminuição do tamanho.
Algo que se deve ter cuidado em analisar esta questão é o mito do analógico vs. digital. Mesmo sendo uma mídia analógica, ou seja, sem "degraus" numéricos entre os valores, o vinil tem uma granulação mínima, que limita a extensão analógica, criando os mesmos "degraus". Além disso, o ato de passar a agulha no sulco vai quebrando as ranhuras, diminuindo a resposta em altas frequências e a dinâmica, além de aumentar a distorção e o ruído. E esta degradação é acentuada a cada reprodução!
Do ponto de vista artístico, existe o costume de ouvir o som com aquele chiado característico. Na fotografia e no cinema ocorre o mesmo. A fidelidade dessas mídias está cada vez mais se aproximando da percepção humana. Porém, a textura criada pelo ruído e resposta não-linear da película ao brilho e às cores nos é muito mais convincente que um filme ou uma fotografia digitais. É muito mais agradável assistir um vídeo em película do que em um formato digital, pois aquilo nos remete muito mais facilmente ao "mundo da arte".
Para resolver a disputa entre LP e CD, pode-se fazer um teste cego e concluir cientificamente se a tecnologia digital limita estas características. Já que se diz que o CD degrada o som com relação ao LP, basta gravar um LP em CD e ouvir os dois sem saber qual é qual. Se o ouvinte notar diferença é porque realmente o CD degrada o som. Caso contrário, é apenas saudosismo.
Discussões técnico-artístico-subjetivas à parte, uma coisa é certa: a tecnologia digital está tomando conta do terreno pelas inúmeras vantagens que possui frente os métodos analógicos. E não há como escapar disto! Daqui alguns anos, os LPs, fitas, películas e filmes fotográficos serão peças de museu e serão utilizados apenas por saudosistas e artistas com a finalidade de resgatar o passado. Afinal, não se vê gramofone nem lambe-lambe à venda no shopping...
quarta-feira, 27 de maio de 2009
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Seu Coutinho, tenho que concordar com tudo, absolutamente tudo que tu escreveste. Só faço uma ressalva, que é um ponto que o Hisham levantou uma vez, e que concordo com ele: o ato de "trocar o lado" do disco - possível só no vinil - proporcionou aos ouvintes uma variável muito interessante na hora de ouvir um disco, que é acompanhar o raciocínio do artista na hora de escolher a ordem das músicas, a necessidade de organizar o disco de maneira coesa e que conte uma história.
ResponderExcluirÉ como o ato de terminar um capítulo e começar outro, como parece acontecer em vários exemplos clássicos, vide Dark Side of The Moon, o exemplo citado certa vez pelo Hisham, o Misplaced Childhood, do Marillion, e o citado outra vez pelo Gustavo, o Álbum Branco dos Beatles. Nesses casos, o "conceito" perde um pouco do sentido, de certa forma, já que a virada do disco - ladoA/ladoB - traz um respiro pro ouvinte, um certo silêncio para a absorção do que foi ouvido e uma preparação para o que está por vir no restante da experiência.
Logicamente, essa é uma questão muito mais filósofica do que qualquer outra coisa, e essa é uma prática que já não faz tanto sentido nos CDs feitos hoje em dia (a noção de "partes" ou "capítulos" de uma história fica mais restrita à divisão das canções mesmo, não aos lados de um disco).
E eu não sou um saudosista. De verdade.
Conversava este fim de semana com o autor do tópico sobre esta questão -- fecho com ele totalmente. Na minha opinião, o erro da discussão "vinil x cd" está no fato quase ideológico de que um formato ou o outro contribuiria decisivamente na qualidade artística e estética da obra.
ResponderExcluirPeguemos o exemplo do Chico, sobre o ritual da troca de lado de um vinil: isso é apenas um tipo de fruição diferente, motivado pura e simplesmente pelas características tecnológicas do vinil. A falta da troca de lado não desvalida o peso artístico do material, assim como a presença da troca de lado não salva um disco ruim.
Muitas vezes, vejo a defesa de quem prefere vinil como pedante: como se, daqui um pouco, vai ter gente dizendo que a única forma válida de ouvirmos Mozart é pegar a máquina do tempo e assistir a um concerto in loco do mestre -- ou seja, é uma tolice.
Claro, concordo contigo Ulisses. Acho que a questão de qualidade a gente nem discute mais (alguém vai se arriscar?), mas quanto ao ritual em si o que quis dizer é que este é, de alguma forma muito subjetiva por vezes, um aspecto que é positivo no vinil. Não que o fato de que o CD não precise trocar o lado seja algo negativo - muito pelo contrário. Mas me senti na obrigação de destacar um dos poucos pontos positivos do vinil, na minha opinião - e, sim, é um ponto que muita gente não dá bola ou não sente falta, até mesmo eu, que levantei a questão. Ou vocês pensam que eu tenho uma vitrolinha em casa e ouço vinil todo dia?... Não sou um saudosista, repito! Hehehehe...
ResponderExcluirRepostando o comentário que eu tinha escrito por email que o Chico citou, pro caso de alguém cair de paraquedas na conversa:
ResponderExcluir"Me arrisco a dizer que ouvir o Misplaced Childhood do Marillion sem a pausa entre os lados A e B, e o gesto físico requerido pelo ouvinte pra fazer a transição, não tem o mesmo efeito. Os quatro lados do Álbum Branco também têm cada um o seu fluxo bem definido: quando "Long, Long, Long" entra após "Helter Skelter" e encerra o lado do disco o impacto é bem maior do que se ela segue diretamente para "Revolution 1". Three of a Perfect Pair do King Crimson têm lados A e B totalmente diferentes. Inversamente, é só pegar algum álbum mais contemporâneo que tenha sido lançado com edição especial em LP e ver como ficam estranhas as tracklists, tipicamente por serem álbuns de ~70 minutos transformados em álbuns duplos com poucas faixas por lado."
A diferença que faz a experiência do vinil não é tanto a "beleza" do ritual em si como o fato de que a obra foi projetada para aquele meio. Os grandes longas-metragens são feitos para passar na telona do cinema com som alto. Ao ver ele em casa em DVD, estamos vendo "o mesmo filme" na mesma medida que ouvir um disco dos anos 70 em CD é "o mesmo disco", mas ao mesmo tempo de certa forma não é a mesma coisa.
Mas não invalida a qualidade artística de nenhum deles, apenas a fruição fica diferente. Essa é a minha defesa.
ResponderExcluirClaro que não, não tô afirmando isso... estamos falando a mesma coisa... :)
ResponderExcluirQuando remasterizaram o Dark Side of the Moon, foi tirado o espaço entre The Great Gig in the Sky e Money. Muitos fãs se revoltaram. O Alan Parsons respondeu dizendo que aquele espaço só existia porque foi lançado em LP, mas que a idéia sempre foi ter todas as músicas juntas. O Journey to the Centre of the Earth do Rick Wakeman e Tubular Bells do Mike Oldfield também são obras divididas por causa do LP. Assim, esse conceito de 2 lados pode também forçar a divisão de uma obra em duas partes distintas. Ou não...
ResponderExcluirSou professor de automação industrial e músico amador. Um dos conteúdos que leciono é a conversão de sinais analógicos para digitais.
ResponderExcluirO que define a capacidade de percepção do ouvido humano é a frequencia do som, que para os humanos se situa entre 20Hz e 20kHz.
No CD ocorrem perdas, devido ao sistema de conversão analógico digital, porém a taxa de amostragem do CD é de 44.1kHz e a resolução de 16 bits, isto é, duas vezes a maior frequencia que podemos ouvir, para não falar do DVD que tem taxa de amostragem de 192kHz e resolução de 24bits. Além disso, apenas alguns poucos harmonicos que compõem as frequencias audiveis atingem essas freqüências.
O Vinil por sua vez tinha dificuldades em reproduzir as freqüência mais altas, por esse motivo a equalização não era equilibrada. Carregava-se nos agudos para que na hora de reproduzir as perdas fossem amenizadas. Isso pode ser verificado ligando-se um vinil à uma mesa de som e deixando a equalização da mesa em resposta plana. Fica um som de lata, é so verificar. Para evitar isso a entrada de phono dos amplificadores possuiam uma pré-equalização que corrigia isso.
Uma outra coisa a ser levada em consideração é a seguinte: Não existe chiado do ponto de vista artístico. Isso é uma tolice sem tamanho. Quando toco meu violão ele não tem chiado de atrito de agulha. Quando eu ouço uma gravação dele, eu quero ouvir o som dele puro. Qualquer som acrescentado ao som do meu violão é falta de fidelidade. O ruído não faz parte da música quando ela é composta. É resultado falta de recurso tecnológico da época para reproduzir com fidelidade o som do instrumento.
Uma outra coisa importante a se levar em consideração é que as freqüências audiveis por uma pessoa situa-se entre 20Hz e 20kHz quando ela é jovem. Com o passar do tempo a capacidade que uma pessoas tem de ouvir os sons de alta freqüência vão sendo perdidas. Uma pessoas de 60 anos escuta, em média, freqüências até 11kHz. Se levarmos em conta que a maioria dos saudosiastas são pessoas com mais de 40 anos, eles realmente não podem perceber as perdas ocorridas em um CD, por isso a única justificativa é o saudosismo (eu tenho 48 anos).
Quando o som digital começou a ser popularizado existia uma propaganda com um conjunto semelhante ao The Platers, um conjunto vocal em que cada um fazia uma voz. Nessa propaganda tinha um sujeito na ponta que fazia só um chiado. Ai diziam o seguinte: - Esse é o som de vinil que você escuta. Então abria um alçapão e o cara que fazia o chiado caia e diziam o seguinte: - Esse é o som de um CD.
A propaganda resume tudo, pois o ouvido humano não é capaz de identificar perdas no som digital de um CD, muito menos em um DVD, portanto vamos deixar de bobagens e vamos ser realistas. O único motivo para um músico querer gravar em vinil é que a pirataria é mais difícil de ser realizada.
Me permita fazer algumas observações...
ExcluirUma resolução de 16 bits oferece uma faixa dinâmica de 96dB. Se considerarmos o ruído de fundo ocasionado pelo erro de quantização, essa faixa dinâmica cai um pouco. O ouvido humano é capaz de ouvir mais que isso. E uma orquestra sinfônica pode chegar tranquilamente a 110dB de dinâmica.
"Não existe chiado do ponto de vista artístico." - O chiado pode deliberadamente fazer parte da música, assim como a granulação pode fazer parte do filme.
"Quando eu ouço uma gravação dele, eu quero ouvir o som dele puro." - nem sempre...
A partir do momento em que um microfone é colocado em frente ao instrumento e ele é gravado, a fidelidade já foi perdida. E no processo de produção, a "mentira" só aumenta. Quem entrou em uma sala de ensaio sabe que, por melhor que sejam os músicos a sala e os equipamentos, a música nunca vai soar como a música gravada no disco. Portanto, o que se ouve em casa já é uma grande ilusão!
Neste momento a tese da "fidelidade ao que foi tocado" já foi derrubada. Só o que sobram são as características próprias de cada mídia. O CD não acrescenta nenhuma "coloração" audível ao som. É uma mídia insípida. Por outro lado, o vinil tem uma série de "defeitos" que criam nele uma personalidade própria. E aí que começa o fetiche! Além disso, a capa maior, a "cerimônia" de botar para tocar, virar o lado, etc. podem contribuir para a apreciação da música. Outra característica interessante dos bolachões é que, mesmo sendo produzidos em série, eles nunca soam exatamente iguais. E a cada vez que são usados, modificam seu som. Isso é perda de fidelidade? Sim! É perda de qualidade artística? Não necessariamente...
Baita comentário, seu Coutinho! Chegou a dar saudades do Sol :)
ResponderExcluirRealmente não tem como discutir com uma pessoa que usa a paixão e não a razão para uma analise crítica.
ResponderExcluir"Por outro lado, o vinil tem uma série de "defeitos" que criam nele uma personalidade própria". Isso é romantismo por uma tecnologia obsoleta.
"E aí que começa o fetiche!" Não é o trabalho do músico que conta, mas as imperfeições adicionadas por um sistema de gravação.
"Além disso, a capa maior". Muitos CDs vem com encarte. Um album em Cd traz, muitas vezes, encartes com as letras completas das músicas, com depoimentos de outros artistas sobre o trabalho, e principalmente, fotos do making off no estudio.
A discução é midia digital x midia analógica. dentro dessa discussão temos ainda o dvd que além da altissima qualidade, ainda permite assistir o show.
Resumindo: alguem ainda quer voltar a assistir televisão analógica porque o chuvisco "adiciona personalidade ao sistema de transmissão?
É a mesma coisa, só muda a midia.
Não tem mais como voltar atrás. Essa história de voltar a gravar em vinil é puro nostalgia.
Imaginem que, se voltarem a gravar em vinil, as empresas vão dar um jeito de filtar de forma digital o vinil para manter a alta qualidade do som digital, porque tecnologia não é caranguejo. Podem voltar a usar a midia para satisfazer saudosizmo de algumas pessoas, mas podem crer que haverá digitalização no processo, e mesmo que voltassem, a gravação no estudio, ainda assim, seria digital, mas os caras que escutam o vinil no final diriam: - Isso é que é som de verdade. som analógico.
ah, antes que esqueça. A faixa dinâmica de um vinil gira em torno de 80dB. Em "condições favoráveis", o vinil, pode atingir 120dB, porém, na maioria das vezes é 80, a quanto mais se escuta, mais cai a sua faixa dinâmica em função do desgaste.
ResponderExcluirOutra mídia digital, o DVD, tem faixa dinâmica de 144dB.
"Resumindo: alguem ainda quer voltar a assistir televisão analógica porque o chuvisco "adiciona personalidade ao sistema de transmissão?"
ResponderExcluirSe não fosse por isso, o Instagram não valeria 1 bilhão de dólares.
Ótima observação Hisham! Ainda não colocaram a opção de "curtir" nos blogs? hehehehe
ResponderExcluirSe prestar atenção, eu mesmo escrevi este post alguns anos atrás. E o meu texto vai ao encontro do que tu sustenta. Mas teu comentário me deu a chance de revisitar esse assunto - agradeço por isso - e fazer um contraponto à minha própria postagem, vendo o processo de forma mais ampla. Minha análise não é movida pela paixão, até porque pessoalmente não sou consumidor de LPs, e ultimamente, tampouco de CDs. Estou apenas levantando outras questões que parecem ser importantes neste debate.
Um erro comum em que pecam algumas pessoas de formação exata e tecnológica é fazer um análise restrita à tecnologia, esquecendo de todo mundo em que isto está inserido. A produção musical não se resume em qual tecnologia é mais avançada ou o que proporciona melhor "definição", seja lá o que isso queira dizer. O processo engloba muitas áreas. Assim, para uma conclusão mais precisa, devemos analisar além da tecnologia, o mercado, o conceito artístico, a necessidade e/ou vontade do ouvinte, etc.
"Imaginem que, se voltarem a gravar em vinil, as empresas vão dar um jeito de filtar de forma digital o vinil para manter a alta qualidade do som digital, porque tecnologia não é caranguejo."
Parece que a produção musical e o mercado estão indo no sentido totalmente inverso a isso. Segundo a tua análise, o que se busca é fazer com que o som ouvido pelo consumidor seja o mais próximo possível do som criado pelo músico no momento em que ele executa a canção, sem intermediários que modifiquem isso. Então eu pergunto: porque cada vez mais, as empresas que trabalham com tecnologia digital para o mercado musical se esmeram em tentar simular digitalmente o comportamento "defeituoso" dos equipamentos analógicos? E por que esta "tecnologia atrasada" tem um valor de mercado muito maior que os sistemas digitais? Seria apenas saudosismo e misticismo de uma minoria de fanáticos que querem ouvir o "verdadeiro som do analógico"?
Ainda em tempo... músico não opta por lançar em vinil por causa da pirataria. Na realidade, o músico é o que menos se importa com a pirataria. Mas de qualquer forma, tudo que é lançado em vinil, é também lançado em CD e em lojas virtuais, sendo que o primeiro é o que representa o menor faturamento entre todos.