sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Os 50 anos do primeiro lançamento dos Beatles


Depois de longas horas de gravação e muita confusão digna de uma Sessão da Tarde, finalmente no dia 5 de Outubro de 1962 foi lançado o single Love Me Do, com P.S. I Love You no lado B, que sem contar com a  gravação de "My Bonnie" com Tony Sheridan, foi a estreia comercial dos Beatles.



Pra continuar a confusão, por algum motivo que todos desconhecem, a versão do Ringo do dia 4 de setembro acabou sendo lançada nas primeiras prensagens do single, “erro” que apenas foi corrigido em setembro de 1963. Conclui Mark Lewisohn: “Isso prova que a versão de 11 de setembro [com Andy White na bateria] não foi uma grande evolução”.



Decidiram então manter apenas uma versão oficial, a do dia 11 de setembro com o baterista Andy White, e a master com o Ringo foi destruída. A versão com Ringo que a gente ouve no Past Masters (observada como “Original Single Version”) foi restaurada a partir de um disco de um colecionador, considerada a melhor fonte disponível.

O single chegou em 17o. lugar nas paradas britânicas - provavelmente devido ao visionário Brian Epstein ter comprado milhares de cópias para a sua popular loja NEMS - chegando ao primeiro lugar nas paradas americanas quando foi lançado apenas um ano e meio depois, em abril de 1964, na carona da Beatlemania.




terça-feira, 11 de setembro de 2012

O triste 11 de setembro de Ringo Starr

90 dias após a primeira gravação dos Beatles nos estúdios Abbey Road com Pete Best, eles retornam com um novo baterista, que se tornou oficialmente um beatle no dia 18 de agosto anterior.

No dia 4 de setembro de 1962, foram gravadas a versão de Love Me Do que aparece no álbum Past MastersHow Do You Do It (que aparece no Anthology 1), empurrada goela abaixo pelo produtor George Martin - os Beatles desde o início queriam apenas gravar músicas próprias.

Foto foi tirada no dia 4 de setembro pelo eslovaco Dezo Hoffmann, cuja simpatia estabeleceu um longo relacionamento com a banda.

Mas George Martin não estava satisfeito com a bateria do Ringo. Há 50 anos atrás, no dia 11 de setembro de 1962, o entusiasmo do batera desabou como as torres gêmeas ao chegar no estúdio e ver um baterista profissional, chamado Andy White. Os Beatles gravaram três canções neste dia: a versão de Love Me Do que aparece no álbum Please Please Me; P.S. I Love You, do mesmo álbum; e Please Please Me, que aparece no Anthology 1.

Love Me Do e P.S. I Love You foram escolhidas para ser o primeiro single da banda, lado A e B respectivamente. O Ringo apenas acompanhou as duas primeiras músicas, tocando na primeira um tambourine (instrumento bem similar ao nosso pandeiro) e maracas na segunda. É aí que dá pra facilmente distinguir as duas versões de Love Me Do, pois a primeira não tem o tambourine. 

Quanto a Please Please Me, tenho uma dúvida sobre quem tocou bateria. Primeiro porque esta gravação havia sido perdida e encontrada apenas em 1994. Segundo porque apesar do Anthology creditar White, o engenheiro de som Geoff Emerick informa que lembra ter visto o Ringo gravar com a bateria, após White ter ido embora (ele também lembra de ver o roadie Mal Evans montando a bateria pro Ringo). Terceiro: consta que o George Martin "sugere após o final da sessão que a música seja tocada num tempo mais rápido". Ora, como a gravação encontrada é praticamente na mesma velocidade da gravação oficial, gravada posteriormente, pode ser que eles tenham tentado uma última vez com o Ringo após White vazar.

A essa altura do campeonato, nem o Ringo deve lembrar se foi ele que tocou ou não. Os Beatles voltariam a gravar Please Please Me (com Ringo, com certeza) no dia 26 de novembro.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

...e os Beatles conheceram Abbey Road

6 de junho de 1962: há 50 anos John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Pete Best pisavam pela primeira vez nos estúdios Abbey Road.

Voltando mais alguns meses no tempo: os quatro fizeram uma enérgica audição nos estúdios da Decca no primeiro dia daquele ano. O teste foi reprovado, sendo motivo de piada na EMI logo que o sucesso dos Fab4 alavancou. Norman Smith, engenheiro de som do Abbey Road, relata no livro “The Beatles Recording Sessions”, de Mark Lewisohn:

Smith recalls a rather cruel joke played on EMI's great
rivals, Decca. "We sent a tape of `Please Please Me'
under plain wrapper to Dick Rowe, the man who turned
down the Beatles. We hoped he would think it was from
a struggling artist looking for a break, and that maybe
he would turn them down a second time! I honestly can't
remember what, if anything, he replied."

Mas é claro que naquele 6 de junho eles estavam com a autoestima abalada. Porém, Brian Epstein tinha muita confiança nos garotos e conseguiu o teste na divisão Parlophone da EMI, administrado por George Martin. Este selo era focado em discos de comédia, principalmente pelas gravações de Peter Sellers, a eterna “Pantera Cor-De-Rosa” (e por falar nele, acho hilária a sua versão de “A Hard Day’s Night” imitandoLaurence Olivier interpretando Richard III, e bem estranho um encontro dele com os Beatles, que parece ter sido durante as gravações do Let it Be).

Mas voltemos ao grande dia que completa 50 anos! George Martin, no espírito de “não tenho nada a perder” decidiu recebeu os garotos no estúdio. Várias músicas foram tocadas, mas apenas quatro gravadas. Destas, apenas duas sobreviveram ao tempo: Besame Mucho e Love Me Do. Sendo que a última foi encontrada pela esposa de Martin no porão da casa deles em um acetato, muitos anos depois. Ainda que mais lenta, é um pouco mais “gingada” do que a versão que Ringo Starr gravou alguns meses depois (como eu não gosto muito dessa música, não me faz muita diferença).

E Martin lembra bem de não ter ficado satisfeito com a bateria de Best (ele também não ficou satisfeito com a do Ringo depois, mas isso é outra história). Os Beatles também já estavam querendo trocar de batera. Algumas pessoas relatam a "injustiça" com a substituição pelo Ringo – e Paul admite que faltou tato ao tratar deste assunto.


Mas a troca foi justa. E quem já tocou em bandas pode concordar comigo: o Ringo era muito mais sintonizado com os outros três, e não me refiro só musicalmente. Alguém consegue imaginar uma entrevista dessas com o Pete Best? Eu imagino ele quieto e com cara de cú o tempo inteiro. Apenas com Ringo a banda teria todos os integrantes carismáticos.

"Ringo is Ringo, that's all there is to it. And he's every bloody bit as warm, unassuming, funny, and kind as he seems. He was quite simply the heart of the Beatles."
- John Lennon.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Sobre Legendas e Dublagens - 2

Tempos atrás, o Hisham publicou este texto, debatendo sobre benefícios e malefícios dos filmes serem legendados ou dublados -- motivado por sua vez por este texto que eu escrevi em outro blog. Quando li o post, vários dias depois, a correria (e uma certa falta de paciência) me impediram de poder responder ou eventualmente rever (ou esclarecer) minha visão.

No entanto, um fato curioso me chamou a atenção essa semana e me fez lembrar do texto, por conta do que eu achei interessante retomar o debate.

O fato é o seguinte: na atual programação dos cinemas de Canoas, São Leopoldo e Novo Hamburgo, temos a seguinte situação:

Novo Hamburgo: Seis filmes estrangeiros em cartaz, Três deles legendados.
São Leopoldo: Oito filmes estrangeiros, Três deles legendados.
Canoas: Seis filmes estrangeiros, NENHUM legendado.

Isso ocasionou que o novo Sherlock Holmes está em cartaz nestas cidades sem sequer uma cópia que não seja dublada, por exemplo. É um quadro cuja tendência é aumentar.

Isso é ruim? Bem, se somarmos a população destas três cidades de acordo com o último Censo, veremos que nada menos que 777.286 pessoas não têm a escolha de poder ver um determinado título com seu som original. Isso faz mal para o cinema, conforme defendi no meu texto original.

Onde o texto do Hisham se encaixa nisso? Na sentença "Eu acho o fato de que uma grande parcela prefere filmes dublados uma excelente defesa para a presença deles no cinema" -- mais ou menos repetida no comentário do Flagg, que diz "Sério, só o fato de à maioria do povo querer filme dublado já justificaria sua existência", complementando com "Mais útil seria gastar este tempo sobrando e fazer manifestos contra o Sarney e o Maluf" -- o que eu suponho que seja uma brincadeira pândega, já que é meu TRABALHO pensar e debater cinema.

Mas enfim, divago: estas colocações me fizeram pensar que eu não expus minha ideia corretamente. Ou por outra: que eu fiquei mais preocupado em desabonar o filme dublado do quem em sublinhar a ideia geral que eu tentava defender: a de que o crescente número de filmes dublados retira a possibilidade de OPÇÃO do espectador, deixando-o sem ter como escolher que formato prefere assistir.

Mais tarde, me aprofundarei porque esta falta de escolha é, ao ver, danosa para o cinema. Por enquanto, as refutações ao argumento do Hisham que se fazem necessárias:

A legenda é tão ruim quanto a dublagem: Para não dizerem que estou falando sozinho, vou evocar o crítico Pablo Villaça (que, num debate semelhante, chegou a dizer que este argumento é o "mais estúpido de todos"): "Então as legendas atrapalham a apreciação do filme, mas ouvir uma voz completamente diferente da original e em absoluta falta de sincronia com os movimentos labiais é algo que não incomoda? Mesmo? Há quem realmente seja capaz de alegar que a legenda seja uma distração maior do que a dublagem?".

Complementando daí: lógico que QUALQUER processo de tradução (e isso é um "problema" da literatura) terá perda do significado original. Porém, a legendagem é um método infinitamente menos traumático do que a dublagem. A começar pelo fato de que ela se baseia diretamente no roteiro final do filme enviado pelo estúdio, já com os tempos em que as legendas devem aparecer.

Ou seja, seu significado em relação à versão dublada é infinitamente mais próximo do original: se por um lado deixa de fora sutilezas (sempre por questões de velocidade da fala ou espaço), também resume sentenças que em certas línguas são mais extensas do que sua tradução -- na dublagem, o dublador terá que enrolar ou aumentar o texto para que caiba no tempo desta frase (em filmes e desenhos japoneses este problema é comum), deturpando o mais significado do que a supressão de eventuais subjetividades. E se a revelação de uma fala antes de ser dita pode acabar com o timming de uma fala, o que dizer deste sentimento com uma dublagem mal feita?

Lembrando do exemplo de Harry Potter dado pelo Hisham: as "traduções" das legendas são as traduções que os LIVROS sofreram e que o cinema manteve (a experiência de ver um HP dublado seria menos dramática neste sentido?).

Sobre a legenda arruinar o "pensamento na composição de uma cena (...), conduzindo o olhar meticulosamente como um quadro", creio que este argumento se deve a um certo desconhecimento de como a condução do olhar funciona no cinema em contraponto às artes visuais. Na arte cinematográfica, o olho do espectador é levado a certos lugares muito mais pelo movimento de câmera, pela montagem, pela mise-en-scène do que pela disposição do quadro. Até porque quando temos alguém falando em cena, imediatamente nosso foco se dirige para a boca.

Eu, enquanto realizador, prefiro infinitamente que alguém coloque letras (num espaço controlado e menos valorizado do enquadramento, diga-se de passagem) do que mude a voz dos meus atores de maneira onipresente. Até porque o cineasta pode prever a posterior existência de legendas no seu filme, mas não tem como saber como farão a dublagem. E posso garantir: a experiência que se pode perder com a legenda não se compara àquela perdida com a dublagem.

O filmes dublados na Europa: Isso é uma questão mais velha que o cinema preto-e-branco. Temos que levar em consideração a extensão das expressões em alemão (não por acaso, o país em que mais se dubla na Europa). Em alguns deles, podemos debater se as causas da dublagem não são mais fundamentadas no nacionalismo do que no gosto popular (como na França, onde o protecionismo à língua e ao cinema nacionais é pedra de toque). Tenho sempre um pé atrás quando debatemos diferentes realidade culturais tentando deixá-las análogas à nossa.

No entanto, olhem que interessante: no mesmo link disponibilizado pelo Hisham, vemos que na Suíça cidades com mais de dez mil habitantes exibem ambas as versões para um filme -- lembrem do início: aqui, mais de 700 mil espectadores têm cada vez menos esta escolha.

Eu fecho com o Hisham num ponto: "Acho que tem que haver espaço pra tudo, para que haja espaço para todos". Isso é lógico. Então porque eu defendo que uma supremacia de dublados é maléfica para o cinema?

Imaginemos então que as pessoas têm ido mais ao cinema porque os filmes são dublados e portanto mais acessíveis (e não por outros motivos). Vamos pensar por alguns instantes que os cinéfilos não sejam assim tão representativos nos lucros e que quem sustenta mesmo esta indústria seja o espectador eventual, que vai ao cinema poucas vezes por ano (até porque carecemos de pesquisas que nos digam o contrário). Ok, as pessoas vão mais ao cinema, criam um hábito de consumir cinema, enquanto os cinéfilos se dedicam a baixar filmes em casa por não aceitar vê-los dublados no cinema (esses radicais!).

Eventualmente, ao criar tal hábito e se aproximar da atividade cinematográfica cada vez mais, parcelas deste público poder aos poucos ir se tornando... Ora, amantes de cinema, que descobrem o quanto de qualidade fílmica eles perdem com as versões dubladas. Mas então, vamos ver filmes legendados! Só que... Bem, não tem filme legendado para ver no cinema. E agora?

Um círculo vicioso?