sábado, 30 de janeiro de 2010

Show em São Paulo é outra coisa

Esse post é de certa forma uma continuação do anterior, mas focando em outro assunto: as diferenças de set list dos shows das grandes bandas nas diferentes cidades do Brasil.

Tem bandas que fazem a tour inteira com variações mínimas de set, como foi o caso da tour de reunião do Police, e outras que são famosas por variar bastante o set list, como o Dream Theater. Outra que varia bastante o set é o Pearl Jam. Quando eles vieram pro Brasil em 2006, me chamou a atenção a diferença entre os sets do Rio e de São Paulo. O show na Apoteose, que eu assisti, foi um show pra todo mundo cantar junto do início ao fim. O set foi focado nos álbuns mais conhecidos: tocaram cinco músicas do primeiro álbum (Ten) e cinco do segundo (Vs.). Pra minha tristeza, não sobrou espaço pra nenhuma do meu álbum preferido da banda, o No Code, que é um disco mais "lado B". Pra minha surpresa, lendo o set list de São Paulo, vi que várias do No Code foram executadas. Fiquei a ver navios enquanto os paulistanos curtiram "Present Tense" e "Hail Hail"...

No ano seguinte, teve show do Dream Theater no Rio e São Paulo. Eu andava meio afastado da banda desde o Six Degrees of Inner Turbulence (e o Train of Thought me afastou de vez), mas o Octavarium foi um disco interessante então resolvi ir no show (também para compensar ter visto o show deles pela metade nos EUA). Como vários amigos foram pra assistir o show em São Paulo e lá eles tocariam duas noites consecutivas, decidi pegar a ponte-aérea-de-pobre (ônibus overnight Rio-SP, 7 horinhas de viagem) e ver os dois shows. Em se tratando de Dream Theater, não é loucura -- foi praticamente um show de 6 horas de duração dividido em duas noites. Se bem me lembro acho que só 2 ou 3 músicas repetiram. E a indiada pra SP valeu a pena: tocaram o Octavarium inteiro (metade em cada noite) e no final da segunda noite rolou a "surpresa" que eles sempre prometem pra cidades onde fazem 2 shows consecutivos: pro Brasil, foi a íntegra de um dos meus discos preferidos deles, o Scenes From a Memory.

Hoje, novamente, uma história similar se repete. Quinta-feira, show do Metallica em Porto Alegre. Um set list forrado das "confirmadas", focado nos três discos mais populares da banda -- Black Album, Master of Puppets e Ride The Lightning (que surpreendeu com 4 músicas!) -- além de uma de cada um dos discos, por assim dizer, não-renegados. A do meu álbum preferido, ...And Justice For All, foi a obrigatória "One", como já comentei no outro post. Entre as músicas eu gritava simbolicamente pedindo mais músicas do Justice, mas sem nenhuma esperança. E ainda teve o riffzinho de "The Frayed Ends of Sanity" tocado antes do bis, só pra deixar na vontade.

Dois dias depois, show em São Paulo, o primeiro de duas noites. Tenho um amigo que mora do lado do Morumbi e vai no show de domingo. Hoje, ficou ouvindo o show de casa e twitando o set list. E qual a minha surpresa: tocaram três musicas do ...And Justice For All! Pros paulistas rolou "One", "Harvester of Sorrow" e "Blackened" (se essa última tivesse sido tocada em Porto Alegre, não sei se estaria aqui ainda pra escrever isso pra vocês!). Além disso, o bis teve uma música a mais: tocaram duas do Kill 'Em All, "Motorbreath" e "Seek & Destroy", ao invés de apenas a última.

Pois é, estou começando a detectar um padrão aí... nos shows de São Paulo as bandas parecem sair do feijão-com-arroz. Eu sabia que isso acontece nas turnês americanas e europeias quando as bandas passam por algumas cidades chaves como Nova York ou Londres, onde elas já tocaram muitas vezes e por isso procuram dar algo mais pros fãs que não estão indo pela primeira vez. Mas não tinha me dado conta que São Paulo parece estar adquirindo esse status.

Pra nós de Porto Alegre resta ficarmos felizes que a cidade voltou enfim para o circuito de shows internacionais. Afinal, como me disse a recifense Alexandra, eu estou "reclamando de barriga cheia", já que os fãs da maior parte do país não têm shows das suas bandas preferidas vindo pras suas cidades. Mas de qualquer forma, fica a dica: dependendo do nível de fanatismo por uma banda, gastar com o deslocamento e com os preços salgados dos ingressos paulistanos pode até valer a pena.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

A volta do Metallica

O Metallica de verdade, que tocou pela primeira vez em POA em 2010

Ontem, no show do Metallica, uma de minhas teorias se confirmou: realmente, a banda acabou depois do Black Album e foi reformada ano passado, com o lançamento do Death Magnetic.

Pra quem insistia em me contradizer, dizendo que o Metallica continuava na ativa, ontem tive a prova: James Hetfield anunciava que ontem era o primeiro show do Metallica em Porto Alegre!

É claro que alguns fãs ficaram confusos, especialmente porque há 11 anos atrás tocou aqui outra banda com o mesmo nome (e há quem diga, praticamente os mesmos integrantes, mas há controvérsias).

Os canastrões do outro "Metallica", que vieram pra cá
em 1999 e tomaram uma aula de metal do Sepultura


Mas enfim o verdadeiro Metallica voltou e fez a alegria de seus fãs, tocando músicas dos seus 6 álbuns (Kill 'Em All, Ride The Lightning, Master of Puppets, ...And Justice For All, Metallica (o "Black Album") e Death Magnetic), além de duas covers: "Die, die my darling" do Misfits, e "The Memory Remains", uma música legal de alguma banda que eu não conheço.

No mais, o show foi excelente. James Hetfield simpático e falando aquele inglês-devagar-pra-todo-mundo-entender, marca de um frontman experiente; Kirk Hammett fazendo os seus esperados solos de wah-wah tocando com suas ESPs pintadas com cartazes de filmes de terror; Robert Trujillo empolgadíssimo como sempre, e já tem o meu voto para ser adicionado como personagem no próximo Street Fighter (já tem até o especial!); e o velho Lars Ulrich se matando pra tocar as baterias que deixaram o mundo do som pesado boquiaberto quando ele as gravou quando era guri... esses anos de parada do Metallica devem ter deixado ele destreinado!

Pessoalmente eu gostaria de ter ouvido mais alguma do ...And Justice For All -- só tocaram "One" e testaram o público com a intro de "The Frayed Ends of Sanity" mas infelizmente a maioria não soube acompanhar o canto viking -- mas pelo esforço que já foi pro Lars tocar "One", achei melhor ser compreensivo e achar o suficiente. O Justice é daqueles discos que as bandas gravam no auge da habilidade e que depois se tornam uma pedra no sapato pra tocar ao vivo (mas isso é assunto para um outro post, outro dia). De qualquer forma, estou feliz de ter visto o show de uma das bandas mais relevantes pra minha formação musical. Só por isso, a volta do Metallica depois de quase 20 anos de inatividade já valeu a pena pra mim.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Quem envelheceu: eu ou o Bon Jovi?


Este post é um desabafo de um fã (não tenho vergonha de admitir: EU GOSTO DE ESCUTAR BON JOVI).

Estava animado com as entrevistas pré-lançamento do álbum "The Circle". Estava mesmo. Era, pela primeira vez em 10 anos, a promessa da volta ao hard rock que consagrou a banda.

Bullshit. Cascata. Lorota. Mentira grossa. NON TEM NAAADA QUE VER.

Vamos a uma análise individual:

1) "We Weren't Born to Follow" - O disco já começa pra cima (YES, WE CAN style). E eu já começo... pra baixo. Batera genérica, compressão à toda, guitarras genéricas, nenhuma dinâmica e... cadê o David Bryan? Jon Bongiovi canta: "this one goes out to...". Acho que eu já ouvi isso. Ah, tá aí o teclado, no refrão, fazendo um "clima". Vozes de arena gritando "yeah" por toda a música. Já me sinto desolado.

Pérolas: "Let me hear you say YEAH" e um grito de "GUITAR!" muito do chocho antes do solo... genérico. Sambora já foi MUITO melhor.

2) "When We Were Beautiful" - A coisa melhora um pouco. Um porto seguro da banda: as músicas que falam da época que eles eram jovens, ou, neste caso, "beautiful". Geralmente nessas eles acertam a mão. Aqui, eu confesso que não sei se eles acertaram a mão ou se a anterior era tão ruim que eu achei essa boa. Chegou o solo. Mais melódico, menos "já ouvi isso antes". A música é melhor que a outra mesmo. Mas não é nenhuma "Just Older" (caceta, pra vocês verem como a minha exigência até está baixa, tô comparando com uma música do "Crush", lançado em 2000, um disco medíocre).

Pérolas: "Shalala, shalala, HEY", rufadas militares no primeiro refrão, entre outros clichês bagaceiros.

Pérola positiva: "Back, when we were beautiful, before the world got small, before we knew it all".

3) "Work For The Working Man" - Ó! O DAVID BRYAN TÁ VIVO! Ouço piano nessa música! Mas as surpresas positivas são ofuscadas pelo refrão ESTÚPIDO. De novo, os coros de vozes são ridículos, gritando "WORK!", e "HEY!" como um bando de robôs. Nenhum solo ou trabalho de guitarra inspirado do Sambora ainda. O que, pra mim é uma profunda decepção, já que eu espero algo mais decente dele desde 1995.

Pérolas: ah, desisti de destacar um ou dois pontos a cada música.

4) "Superman Tonight" - Quase pulei a faixa só pelo título. Devia ter pulado. NÃO, PERAÊ! O Jon Bongiovi tá subindo pros agudos no refrão! Não acredito! Desde o "These Days" ele não fazia iss... ah, parou no meio do caminho. Merda. Devia ter pulado mesmo.

Preciso descansar os ouvidos.

... 24 horas depois...

5) "Bullet" - Cheguei ao absurdo de ficar com saudades de ouvir "Have A Nice Day". Desliguei o mp3 player e liguei a Last FM. "Have a nice day", a música é um belo dum rock. Excluindo esse último disco, daria pra fazer um belo e digno álbum do Bon Jovi com as melhores músicas desde o "Crush" (alguém me disse isso uma vez, e é realmente verdade mesmo).

6) "Thorn In My Side" - Não dá mais pra comentar. Desculpa aí. O disco é muito chato.

Desisto. Juro pra vocês que não ouvi até o final. E se as músicas finais forem boas, bom, perdão, mas se uma banda é tão BURRA a ponto de colocar no "lado B" as ÚNICAS músicas do disco que valem uma audição, não merece a atenção de ninguém mesmo (o Hisham se deu conta dessa, e tem o meu aval). E então, quem envelheceu: eu ou o Bon Jovi?

Preferia ter ido ver o filme do Pelé.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Performance capture: mecanização ou liberdade para os atores?

Um termo relativamente novo é a buzzword do momento no mundo do cinema: performance capture. Basicamente é um nome novo para a conhecida técnica de motion capture, que visa enfatizar o impacto artístico que o avanço tecnológico da técnica proporcionou.

O motion capture, a técnica de gerar uma representação digital movimentos para aplicá-los sobre modelos 3D, começou como um meio de gerar movimentações mais realistas para personagens animados por computador, já que traçar manualmente o movimento de cada parte do corpo é muito trabalhoso e demanda um grande talento de "puppeteer" dos animadores. Ao longo da evolução do motion capture, a técnica veio sendo usada em conjunto com a animação manual, já que a tecnologia permitia capturar grandes movimentos, como braços e pernas, mas apresentava dificuldades com a sutileza de um rosto. Essa dificuldade com as sutilezas foi em grande parte o motivo da técnica encontrar mais uso em comédias de animação, como os filmes da Pixar, onde não há problemas em se ter movimentações caricatas e expressões faciais pouco realistas.

A primeira grande tentativa de fazer um filme 3D usando inteiramente motion capture visando resultados realísticos foi em Final Fantasy, produzido pela Square (que não é um estúdio tradicional de cinema, mas sim uma empresa de games). Os resultados foram impressionantes para a época, mas mesmo assim todos sabíamos que a tecnologia ainda estava longe de "chegar lá".

Com o passar dos anos, o processo foi evoluindo e os filmes lançados ficam como retratos do avanço da técnica: basta comparar os filmes The Polar Express (2004) e Beowulf (2007), ambos do diretor Robert Zemeckis.

O exemplo de hoje, claro, é Avatar de James Cameron. Mas e aí, ele é só mais um passo em um processo gradual ou o avanço na técnica de motion capture deu um salto que justifica um novo nome?

Assistindo ao "making of" das cenas com os na'vis em Avatar, tendo a acreditar na segunda opção. Mais do que o avanço tecnológico, é notável a diferença no processo no que tange o trabalho dos atores. Provavelmente em cinco anos acharemos o resultado visual de Avatar ultrapassado, mas o mapeamento que existe entre a performance emotiva dos atores e o que aparece no resultado final é muito mais direto. O simples fato de que a performance corporal e as expressões faciais são capturadas em conjunto permitem compor no modelo 3D uma representação consistente do trabalho do ator. Compare isto com o processo tradicional e a diferença é gritante: no motion capture os atores capturando movimentos são quase como "dublês" dos modelos 3D.

O interessante disso tudo, muito mais do que a "graça hi-tech", é o potencial que essa técnica tem ao proporcionar novos graus de liberdade artística. No "making of" de Avatar, vemos o diretor filmando as cenas do voo dos ikrans capturando o movimento de miniaturas, como uma criança que brinca com um aviãozinho de brinquedo, ao invés de traçar curvas na tela de um computador. Mais impressionante ainda, vemos Cameron controlando o ângulo da cena movendo fisicamente uma câmera virtual no set que reage a uma performance previamente capturada, como se estivesse navegando no ambiente 3D de um jogo. Hoje um ator pode dar uma performance emotiva única e o diretor tem a chance de mover a câmera e testar outros ângulos depois do "corta!". É análogo ao salto que a música deu quando a gravação multi-pista foi criada.

A técnica ainda está na infância, claro, mas já podemos visualizar qual será o passo seguinte: a renderização de personagens humanos realmente indistinguíveis de uma pessoa filmada por uma câmera tradicional. Cruzar essa barreira é o grande desafio, pois envolve não apenas tecnologia mas superar uma resistência psicológica dos espectadores, o chamado "uncanny valley": foi observado que de maneira geral a reação das pessoas a figuras humanóides é particularmente negativa quando a figura é quase-quase humana.

Ainda não chegamos no ponto onde se pode fazer um filme plenamente realista renderizado totalmente por computador, mas estamos mais perto do que a maioria pensa. As duas partes do quebra-cabeças são a captura dos movimentos e a renderização das imagens. Na captura dos movimentos tivemos um belo show com Avatar, e pesquisas recentes mostram como a tecnologia pode simplificar bastante, como podemos ver nesse vídeo apresentado no SIGGRAPH de 2007. Na parte de renderização das imagens, fiquei realmente impressionado com estes resultados apresentados no SIGGRAPH de 2008. (E isso que ainda nem parei pra ver os vídeos do SIGGRAPH de 2009, e já estamos em 2010! :) )

Mas e aí, quais os resultados práticos disso? Eu acredito que, quando chegarmos nesse ponto, uma nova era vai se abrir na maneira como se produz cinema. Os diretores terão um grau de controle sobre o resultado final muito maior que o de hoje. E principalmente, os atores não serão mais limitados pela sua idade ou aparência, somente pelo seu talento: poderemos ver uma performance magistral de um jovem Hamlet produzida pela experiência de um ator de 70 anos.

Enquanto não temos o pleno realismo, podemos experimentar um pouco disso com personagens fantásticos como os na'vi ou desenhos animados. O já citado Robert Zemeckis anunciou que fará um remake do desenho Yellow Submarine usando performance capture, e anunciou os atores que interpretarão os Beatles: surpresa nenhuma que eles não se parecem nem um pouco com os Fab Four. O importante é o talento pra interpretação e o trabalho de voz. Inclusive, as cenas de performance musical serão capturadas por músicos: ou seja, as pessoas mais indicadas para fazer cada parte, sem a velha esquisitice de ter que evitar filmar o rosto dos dublês nas cenas de ação.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Já estamos em 2010...

Dizem que em ano eleitoral a gente sente que o ano passa mais rápido. Mas bem sinceramente. Todos os anos estão passando cada vez mais rápido. É o que muita gente tem sentido.

Será que agora além de anos de eleição, anos de tentativas de impeachment de governadores e escândalos de políticos no senado também vão fazer sentirmos que o ano está passando mais rápido?

Se for assim, infelizmente envelheceremos logo. Como se já não fosse suficiente o estresse da correria diária, da insegurança de sair de casa, ou até mesmo dentro de casa. Ainda mais essa.

O que antes era um ano sim outro não, está sendo um ano sim, o outro também. Chega um ponto que cansa. E não dá nem tempo para descansar. Alias, dá sim. No carnaval. E viva as mulatas seminuas e as festas. Afinal de contas, brasileiro adora festa. E as mulatas seminuas são como um bola de futebol para um menino. Falando em bola de futebol, em 2014 tem Copa do Mundo no Brasil. Sabemos que a arbitragem brasileira não está lá essas coisas. Seria influência da política? Só esperemos que para essa Copa não haja muita roubalheira. O que infelizmente certamente vai acontecer.

Claro, errar é humano. E juízes de futebol erram, jogadores erram, treinadores erram, políticos erram, aliás, e como erram! Mas tudo bem. Não adianta a gente gritar "vamo invadir!", ou "juiz ladrão, porrada é a solução", porque quem invade são eles, os políticos. Invadem nossos porquinhos com seus leiões e quem leva porrada é o povo.

Mas nem tudo está perdido, no Natal podemos ganhar panetones. Para quem não conseguir ser previlegiado dos panetones da capital, todo interior tem uma pizzaria. Não me recordo nenhum sabor que inclua pepino, e não seria por falta. Mas enfim. Tudo sempre acaba em pizza.
É... Viver é difícil. Mas que fiquemos tranquilos por um lado. Do jeito que vai, essa dificuldade vai passar rapidinho. Mas infelizmente nossa vida também.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Por que não verei o filme do Lula


Para retomar as postagens do blog com força total (e a pedido do Jean):

Lula, o Filho do Brasil, o longa brasileiro mais comentado do ano passado, chegou às telas dia 1º de janeiro, com pretensões de bater todos os recordes de bilheteria no país. Há uma intensa campanha do seu produtor, a raposa velha Luiz Carlos Barreto, para exibir a obra a preços populares (leiam este link, é exemplo de clientelismo puro) e em cidades que não possuem cinemas.

A discussão a respeito do uso político que seria feito de Lula, o Filho do Brasil é muito forte, especialmente sendo 2010 ano eleitoral. Produtor e atores usam extensamente o batido argumento de que "o filme não é político", o que obviamente é uma balela. Não se faz uma obra sobre uma liderança política sem tomar partido, e fosse o filme uma crítica a Lula (o que não é) ou uma elegia (o que é), de qualquer maneira estaria se posicionando contra ou favor de algo.

Então sim, Lula, o Filho do Brasil é político (até porque, como diriam os especialistas, "toda ação humana é política"), e isso se nota tanto na data do seu lançamento quanto na já referida campanha de divulgação para as massas. Há que se ressaltar, claro, que o orçamento de 17 milhões de reais (o maior registrado na nossa cinematografia) foi todo conseguido com patrocínio direto, sem o uso de leis de incentivo à cultura – portanto, sem dinheiro público. Foi uma tentativa de Barreto para diminuir a celeuma negativa em torno da obra.

Mas não é por nenhum destes motivos que eu não pagarei ingresso para ver o filme.

O motivo pelo qual não assistirei à Lula, o Filho do Brasil cabe em duas palavras: Fábio Barreto.

O diretor do filme, filho de Luiz Carlos e que sofreu um grave acidente na semana passada, é um dos piores cineastas nacionais. Ele é nascido numa família que sempre trabalhou com cinema: a mãe, Lucy, também é produtora e o irmão, Bruno Barreto, dirigiu sucessos como Dona Flor e seus Dois Maridos e O Que é isso, Companheiro?. Mas pode ser considerado o seu membro menos talentoso. Enquanto o irmão Bruno tem uma filmografia interessante e até realizações em Hollywood (ainda que fracas), Fábio tem em suas costas uma penca de filmes que transitam entre o ruim e o pavoroso.

É de sua responsabilidade o terrível A Paixão de Jacobina, uma verdadeira aula de como fazer mau cinema, além de outras drogas, como Bela Donna e Índia, a Filha do Sol. Seu único bom filme é o interessante O Quatrilho, e só.

Se Lula, o Filho do Brasil fosse dirigido por um cineasta mais talentoso ou mesmo por um estreante, confesso que as suas intenções políticas seriam o de menos na minha avaliação. Mas pagar para assistir a um filme conduzido por um diretor ruim (ainda mais quando a duração ultrapassa duas horas) não costuma fazer parte dos meus planos de férias.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Tony da Gatorra e a arte do instrumento improvisado

É verão e o Sol Desafinado está em marcha lenta, praticamente em ritmo de férias. Isto porém não quer dizer que os solistas não continuem em suas intermináveis discussões sobre a vida, o universo e tudo mais: na virada do ano, nos encontramos na praia onde os assuntos iam passando por Nikita Khrushchev, Ivan O Terrível, Avatar, Lady Gaga, Glauber Rocha, Samwell (percebam que a função descrita pelo fluxo da conversa é y = -x, onde felizmente x era limitado pelo sono das pessoas ou pelo nascer do sol) e chegou até um peculiar personagem do universo musical gaúcho que ainda não havíamos comentado aqui: Tony da Gatorra.

Para quem não conhece a figura, o seu artigo na Wikipedia dá uma introdução informativa, mas nada dá uma ideia melhor da natureza desse ser do que ser apresentado ao seu maior clássico, "Assassino".

Evidentemente, o que faz Tony se sobressair dos demais hippies malucos que tocam pelas ruas é a gatorra, o instrumento musical que ele inventou. A gatorra é, no fim das contas, uma bateria eletrônica em forma de guitarra de plástico cheia de botõezinhos. Vale notar que qualquer semelhança com um controle de Guitar Hero é mera coincidência: Tony está por aí com sua gatorra desde os anos 90.

Instrumentos malucos, aliás, foi outro tema recorrente no final de semana, com os experimentos do Daniel na recriação artesanal de instrumentos antigos da música folk americana, como o washtub bass, um contrabaixo feito com um balde, e o popular washboard, uma tábua de lavar roupas usada como instrumento de percussão (interessante o foco em itens da lavanderia...). Esta cultura de instrumentos improvisados era muito forte entre os escravos americanos, cuja tradição musical podemos traçar como origem do blues e por consequência do próprio rock and roll.

Não seria Tony da Gatorra então, com seu instrumento de percussão improvisado e suas canções de protesto, um herdeiro legítimo dessa cultura? De certa forma, não seria a gatorra uma espécie de washboard digital?

E finalmente... o Tony da Gatorra não é a cara do ex-guitarrista do Scorpions, Uli Jon Roth? (Aliás, este também adepto dos instrumentos esquisitos.)


(Créditos da montagem ao Daniel, autor da pertinente observação.)