quinta-feira, 15 de julho de 2010

O paradoxo da pirataria versus DRM

Hoje o Chico contou pra galera que comprou um box de filmes do Rocky que inclui de brinde um roupão de lutador de boxe. Uma compra certamente divertida. :)

Curiosamente essa semana me bateu uma vontade de comprar um box de filmes (De Volta para o Futuro, depois de ter re-assistido o III na TV) -- tudo estava alinhado, tenho até um vale-presente que posso usar na compra.

Mas na hora de comprar, fui ver e a caixa é restrita à região 4.

Lembro de quando peguei uns DVDs importados emprestados, botar no drive do computador e ele reclamar "você está trocando de região, só tem mais x chances pra fazer isso" e todas essas merdas. Não lembro quantas chances eu tenho pra mudar a região antes que o meu drive trave em uma só região.

Acabei me encontrando em uma situação paradoxal. Eu até compraria os DVDs, mas não vou fazer porque a opção *mais segura* para o meu hardware é piratear.

Já me disseram pra atualizar o firmware do drive pra botar um que quebra as regiões, ou comprar um DVD player da China que não respeita os tratados de comércio. Ou seja, tenho duas opções: "piratear o software" (filme) ou "piratear o hardware" (player). Que belo mundo em que vivemos. Tudo culpa dos mecanismos chamados DRM, que dizem significar Digital Rights Management, mas que está mais para Digital Restrictions Management, já que os "Rights" que eles defendem não são os do consumidor.

Hoje estava também lendo sobre os novos modelos de televisão. Eu já sabia do famigerado HDCP (High-Bandwidth Digital Content "Protection"), que foi o grande motivo pelo qual a indústria promoveu tão fortemente o formato HDMI (tente jogar Playstation 3 em uma TV HD antiga com HDMI mas sem HDCP -- o treco existe pra te impedir de gravar cenas do jogo!). Agora, inventaram uma nova, DNLA (Digital Living Network Alliance), para controlar as comunicações entre os dispositivos da sua casa (e enfiar mais restrição de conteúdo).

Lembro daquelas propagandas dizendo "fita/DVD/software/etc. pirata prejudica o seu VCR/player/computador/etc.", mas o que começou incipientemente com o tosco MacroVision no mundo analógico do VHS, prosseguiu com as regiões dos DVDs (que até hoje é um saco) e hoje continua com cada vez mais e mais controle na mão dos produtores de mídia e menos na mão dos consumidores, a ponto de eu não querer arriscar o meu hardware com o software oficial deles.

Conversando sobre isso, estava aqui falando com um amigo que tem coleção de DVDs... perguntei a ele: "diz aí: tu compra DVDs pelas caixinhas, né?", e ele respondeu que sim. Com esse constante surgimento de novos padrões e formatos digitais, cada um com mais restrições de uso que o anterior, a perspectiva de que um DVD continue funcionando ao longo dos anos sem fazer nenhuma falcatrua ilegal é, aos meus olhos, ínfima. Quer saber? Vou baixar os filmes e usar o vale-presente para comprar um livro, que é um dos poucos formatos de mídia que ainda não têm DRM (embora o pessoal dos e-books venha tentando fortemente mudar isso, com resultados verdadeiramente orwellianos).

No fim das contas, pelo menos o roupão o Chico pode ter certeza que vai continuar funcionando ao longo dos anos. :)

10 comentários:

  1. Ah, antes que digam "se tu só comprar DVD sem região, tu nunca vai comprar nenhum", digo que eu tenho o box do Anthology (aliás, ele ainda está emprestado pro Sílvio?) e ele é region-free. =)

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  2. E o que acontece com dvds e ebook pode vir a acontecer com seu pc muito em breve com o Chrome OS (http://en.wikipedia.org/wiki/Google_Chrome_OS). Imagine seu editor de texto preferido deseparecer do dia pra noite por motivos aleatórios.

    Como garantir, no mundo digital, que algo seu é realmente seu? =)

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  3. Bom, a isso já estamos sujeitos hoje... quem garante que o GMail vai estar online amanhã? ;)

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  4. Poizé, esse mundo digital é meio punk mesmo.
    Por isso, sempre que tem a opção de não usar o micro, eu não uso!

    Explico. Compro CDs e escuto no carro, compro DVDs de shows (muitos) e assisto no meu aparelho na sala (por sinal, nunca deu problema de região). Não uso banco na internet, prefiro comprar livros na livraria, uso muito pouco as "febres de internet" (tenho só o gmail, o orkut e essa semana criei um facebook). Ou seja, uso só quando necessário ou quando não existe outra solução.

    Resumindo, só compro algo se estiver bem validado e depois de MUITA gente ter comprado/usado. Só assim tu tem alguma garantia de que a coisa vai funcionar direito.

    No caso das regiões, olha no teu DVD de casa region free ;) (aparelho e não o do micro). No caso da TV digital, continua com a analógica até se resolver o assunto. No caso do navegador, usa o Firefox.

    Bom, e na luta das grandes corporações contra a pirataria, eu cito uma frase do meu amigo Fábio Vicio: "Enquanto tem um pensando para o bem, tem 1000 pensando para o mal".

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  5. Pro blu-ray as divisões são apenas 3, e muitos não são restritos. Me faz pensar que não querem repetir o exagero dos DVDs. Pra nossa sorte, muitos blu-rays americanos tem legendas em português.

    http://en.wikipedia.org/wiki/Blu-ray_Disc#Region_codes

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  6. Acabei de fazer um post relacionado no Buzz, mas acho que vale a pena colocá-lo aqui também.

    Há cerca de 1 mês foi consolidada a nova Lei de Direito Autoral de número 9610/98. Ela está disponível para consulta no site do Ministério da Cultura (abaixo) e contém algumas alterações interessantes, como:

    Título VII: Das Sanções às Violações dos Direitos Autorais
    Capítulo II: Das Sanções Civis

    §1º Incorre na mesma sanção [responder por perdas e danos], sem prejuízo de outras penalidades previstas em lei, quem por qualquer meio:
    a) dificultar ou impedir os usos permitidos pelos arts. 46, 47 e 48 desta Lei; ou
    b) dificultar ou impedir a livre utilização de obras, emissões de radiodifusão e fonogramas caídos em domínio público.

    Sendo o artigo 46 o seguinte:

    Capítulo IV: Das Limitações aos Direitos Autorais
    Art. 46. Não constitui ofensa aos direitos autorais a utilização de obras protegidas, dispensando-se, inclusive, a prévia e expressa autorização do titular e a necessidade de remuneração por parte de quem as utiliza, nos seguintes casos:
    ...
    II -- a reprodução, por qualquer meio ou processo, de qualquer obra legitimamente adquirida, quando destinada a garantir a sua portabilidade ou interoperabilidade, para uso privado e não comercial;

    Com isso, temos garantida a liberdade para exercer atividades de engenharia reversa de programas de computador.

    O item b) do Capítulo II também prevê que os direitos dos cidadãos são violados no momento em que mecanismos de proteção de acesso à conteúdo são impostos para dificultar o acesso à informação. Esse é o caso do uso de tecnologias como o HDCP, que dificulta a gravação em alta resolução de programas transmitidos por radiodifusores de TV digital, e do DRM, que é usado para impedir o compartilhamento de músicas, livros digitais e outros arquivos diversos.

    Temos o que celebrar, afinal! :)

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  7. Jean: pra TV digital existem receptores USB que acessam direto o fluxo de áudio e vídeo sem precisar de um HDMI no meio. Pura felicidade!

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  8. Hisham, sim o box tá comigo (usucapião).
    Em tempo, baixo o que posso, pirateio o que posso e crackeio o que posso.
    Moser

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  9. Lá em casa é tudo "region free", tanto nos computadores quanto dvd de mesa, pra dizer a verdade eu virei um dos "mals", desbloqueio tudo que tá ao meu alcance.

    Da tv digital, eu to pensando em comprar um receptor usb pra substituir meu antigo receptor pci/analógico.

    PS: Hisham, eu tenho o BOX de De Volta pro Futuro, se tu quiser, te faço umas cópias "region free". Se tu gosta do superman, eu tenho o BOX também.

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  10. Agora só preciso descobrir qual dos Fábios é esse que escreveu :-D

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