quarta-feira, 7 de outubro de 2009

O Curioso Caso de Roman Polanski

Um post meio fora de timing, mas ainda atual: o cineasta franco-polonês Roman Polanski finalmente foi preso por conta de um rumoroso caso de estupro ocorrido na década de 70 nos EUA. Ele foi detido na Suíça semana passada pela polícia local, quando ia receber um prêmio no Festival de Zurique, a pedido da Justiça norte-americana. O fato desencadeou uma série de reações nos meios artísticos e jurídicos internacionais, variando entre o apoio à prisão e um movimento chamado de Free Polanski.

O caso é daqueles bem complicados: Polanski, no auge da fama por conta da sua obra-prima Chinatown, levou uma modelo adolescente de 13 anos à casa de Jack Nicholson (sempre metido em safadeza...), e teria chapado e abusado da moça. A vítima, Samantha Gailey, afirmou na época que a relação não foi consentida; hoje, é uma das principais defensoras do fim do processo. Como Roman era uma celebridade à época, o caso virou circo, com juízes propondo acordos escusos e a boa e velha exploração sensacionalista da imprensa correndo solta.

Durante o imbrólio judicial, Polanski fugiu da América do Norte (onde não pode entrar, nem para receber um Oscar, por exemplo -- que ele ganhou por O Pianista) e se refugiou na França. Como o caso já fez aniversário de três décadas, as versões sobre o caso se multiplicaram. Deixo para vocês textos de dois "iguais" (críticos de cinema brasileiros) que têm visões discordandes: Isabela Boscov, da revista Veja, condenando o diretor; e o ótimo Pablo Villaça, do site Cinema Em Cena, que o defende (ainda que critique a relação com uma menor tão nova). Vale a pena, eles explicitam todos os detalhes do caso.

Polanski tem uma trajetória atribulada, a começar pela morte de seus pais num campo de concentração na Segunda Guerra. Um certo grau de violência e sexualidade são uma constante em seus filmes: a primeira obra sua a chamar a atenção internacional foi o thriller Repulsa ao Sexo, bastante polêmico à época. A ele, seguiram-se os sucesso de bilheteria Dança dos Vampiros (1967), comédia de costumes que flertava com elementos fantásticos, e o clássico Bebê de Rosemary (1968) -- que, nas palavras de José Mojica Marins, é o "melhor filme de horror da história". Nos anos 1970, já estabelecido nos EUA, Polanski passou por um momento dramático: sua mulher, a atriz Sharon Tate, grávida de oito meses, foi brutalmente morta pela "família Mason", na série de assassínios que consagrou o termo serial killer. Ainda nesta década (e antes do abuso de Samantha Gailey), o diretor se envolveria com a atriz adolescente Nastassja Kinski, num affair bastante rumoroso.

Os casos de estupro -- e demais denominações que os crimes de violência sexual possam ter -- são, de longe, os mais complexos. Ao passo que é, talvez, o ato criminoso mais abominado pela sociedade (sendo aquele envolvendo menores considerado a mais escabrosa das possibilidades), é também um dos mais incertos para a Justiça. Nos meus gloriosos dias de repórter policial em Montenegro, acompanhei casos de estupro em que a vítima retirava a acusação ou, ainda, em que o inquérito policial indicava que o delator tinha mentido ou sido condicionado a mentir. Casos escabrosos, como mães acusando filhos de as terem violentado, ou de crianças relatando abusos por parte de maiores, não raro se revelavam invenções de falsas vítimas, na tentativa de prejudicar alguém. Por outro lado, conheci histórias de mulheres violentadas que deixavam muito claro o quão difícil era ter que continuar a viver depois do estupro. Podem ter certeza: é um crime que destroi a vítima em todos os sentidos.

As diferentes noções que têm feito as pessoas condenarem ou louvarem Polanski é só o caso mais famoso desta terrível complexidade.

8 comentários:

  1. Não sei pq essa história me lembrou a do Phil Spector...

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  2. Ih, pelo que li até agora, mais o texto do Ulisses, o buraco é BEM mais embaixo...

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  3. Pois é, o troço é complicado. Tanto que eu nem consegui me posicionar sobre o assunto.

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  4. consagrou Helter Skelter

    Objeção! A música, por ser a mais pesada da carreira dos Beatles, já era famosa antes do acontecido e acredito que hoje a imensa maioria das pessoas que conhece e curte Helter Skelter e o Álbum Branco ou não conhece ou não liga a mínima pra essa história do Charles Manson. Se ela tivesse essaa pecha de ser "a música do assassinato" que tu implicou não acho que ela seria tão popular e coverizada.

    Uma relação "X consagrou Y" seria, sei lá, "Titanic consagrou My Heart Will Go On", onde realmente todo mundo que ouve essa música da Celine Dion associa ao filme. Dizer que "Charles Manson consagrou Helter Skelter" é, no mínimo dos mínimos, usar uma definição muito enviesada do verbo "consagrar".

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  5. "This is the song that Charles Manson stole from The Beatles. We're stealing it back"

    (Bono Vox, apresentando "Helter Skelter" em um show do U2 na turne "Rattle and Hum")

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  6. Bah, Ulisses, eu tinha escrito uma resposta super longa discordando de praticamente todas as frases que tu escreveu nesse último comentário, mas quando eu vi que não tinha chegado nem na metade, desisti. Chega um ponto que eu não sei se tu realmente acredita no que escreve ou só tá polemizando de brincadeira -- o comentário sobre O Cavaleiro das Trevas foi o fim da picada.

    Então que fique apenas registrado nos autos que eu discordo de tudo.

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  7. "Chega um ponto que eu não sei se tu realmente acredita no que escreve ou só tá polemizando de brincadeira".

    Hum. Não sou polemista, ou pelo menos não tenho esta intenção declarada. Mas também tenho por filosofia de vida não me levar muito a sério.

    Mas já que rolou algum deconforto por qualquer coisa (parece que rolou), faço questão de mudar o texto e de apagar a minha argumentação do último comentário. Acredito que a polêmica do texto (se é que tem polêmica) é o caso do Polanski em si).

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  8. Nah, sem stress. Não ligue para este beatlemaníaco exaltado. :)

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