quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

COP15: o resumo da ópera

Sexta-feira passada acabou o COP15 em Copenhagen. Como era de se esperar, nossos políticos discutiram, discutiram e não concluiram nada.

Primeiro, só foram os representantes dos chefes-de-estado. Como não tinham autonomia para resolver muita coisa, só brigaram e falaram bobagens. As ONGs ficaram de fora da discussão, já que sua presença resultaria em uma pressão dentro da sala de conferência e os representantes mundiais iriam se sentir forçados a fazer algo útil.

Os americanos querem decretar uma política intervencionsta nos países emergentes e acham uma besteira essa coisa de efeito estufa. Os chineses não querem saber de mostrar como são as coisas por lá. Os outros emergentes não aceitam ter seu crescimento econômico capado pelos ricos, maiores responsáveis pelo estado como as coisas estão. Os europeus estão se fazendo de salame, como se não tivessem falando com eles. Os fanfarrões só querem avacalhar o negócio. Nas últimas 48h do evento, os "manda-chuva" chegaram na Dinamarca. Lula e Sarkozy ainda tentaram discutir seriamente a questão. Mas Obama, que está sofrendo uma forte pressão do congresso, recuou e preferiu deixar tudo como está.

No fim um acordo tapa-buraco foi proposto. Os países ricos fariam uma "vaquinha" juntando 100 bilhões de dólares para ajudar os emergentes e pobres na questão ambiental. Porém, não haveria nenhuma ação imediata e objetiva para resolver o problema do efeito estufa. Assim, nenhum acordo foi assinado e nada de muito interessante saiu desta reunião. O Protocolo de Kyoto perde sua validade em 2012. Até o momento não existem mais políticas para melhorar a situação a partir desta data. A ONU mostra mais uma vez ser um fantoche sem poder nenhum para resolver as coisas.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Experimento Milgram: obediência ou perversidade?


Esses tempos, encontrei um texto delicioso na Internet -- na verdade, um trecho de um livro lançado nos EUA em 2007 chamado Elephants on Acid, que lista os mais bizarros experimentos científicos que já produzimos. No caso, as tais experiências foram levadas a cabo por cientistas sérios, com verbas governamentais e resultados verificáveis.Talvez alguns achem, à primeira vista, que o livro é uma chacota com a ciência, mas bem pelo contrário: o autor Alex Boese apenas brinca com a imagem do "cientista louco" para falar de ciência de verdade.

Neste site aqui, temos listados os 20 melhores casos dos quase 100 cotejados pelo autor. Vale a pena ler, é entretenimento e informação puros (como LSD injetado em elefantes, o médico que bebia vômito, experiências com cabeças de cachorro e de macacos, e tentativas de desestimular sexualmente os perus -- a ave, não aquele outro peru). Mas teve um que me assombrou e que eu achei genial, especialmente porque a conclusão da experiência é assustadoramente válida.

É o experimento da obediência, realizado em Yale, EUA, anos 1960, e coordenado por Stanley Milgram. O cientista afirmava aos participantes voluntários que a sua intenção era "determinar o efeito da punição no aprendizado". Para tanto, eles tinham que acionar um choque elétrico toda a vez que a "cobaia" (um outro voluntário que deveria decorar uma sequência de palavras) errasse o que estava no gabarito. Detalhe: a cada erro, o choque aumentava 15 volts.

O dado impactante da experiência é que, mesmo tendo a consciência que estavam infligindo dor crescente a alguém, os voluntários continuavam a desferir choques cada vez mais potentes, mesmo com os gritos de angústia da "cobaia". Para os que perguntavam se aquilo não era demais, a resposta era a mesma: “O experimento requer que você continue”. No fim das contas, nada menos que dois terços dos voluntários continuaram apertando o botão de choque até a voltagem máxima, 450 volts, e aparentemente matavam a "cobaia". A porcentagem era ainda maior se os gritos não pudessem ser ouvidos nem vistas as reações de quem estava sendo torturado: a totalidade dos voluntários chegavam a desferir o choque máximo.

Só que a experiência, na verdade, era outra: Stanley Milgram estava interessado em ver até que ponto as pessoas estariam dispostas a seguir uma autoridade de comando. A "cobaia" era um ator que fingia estar levando choques, mas que não estava de fato sofrendo. Os voluntários, obviamente, não sabiam disso. As conclusões foram ditas de maneira assombrosa pelo cientista, que afirmou:

“Eu diria, com base em milhares de pessoas que observei durante os experimentos e na minha própria intuição, que se um sistema de campos de extermínio como os da Alemanha nazista fosse implantando nos Estados Unidos, seria possível encontrar trabalhadores e encarregados pelo seu funcionamento em qualquer cidade de médio porte do país”.

O "Experimento Milgram" acabou revelando uma das nossas facetas mais negras enquanto espécie, aquela que nos faz sentir aliviados quando não nos consideramos responsáveis por nossos próprios atos perversos -- por mais que os tenhamos praticado de maneira consciente, e sabendo das suas consequências. Isso explica desde a fácil massa de manobra que podemos ser até nossas atitudes sociais mais triviais.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Os astros de ação e seus públicos-alvo


Semana passada, estava conversando com o pessoal que faz oficina de audiovisual comigo no Pontão de Cultura de São Leopoldo -- incluindo o Silvio -- e debatemos mais uma vez um dos nossos assuntos favoritos desde que o curso começou: Steven Seagal. Ou vocês achavam que a gente discute Godard e Antonioni? Bem, de qualquer maneira, o Steven Seagal é um ótimo exemplo para muitas questões acaloradas no mundo da Sétima Arte, que vai desde a legitimidade do cinema autoral até os desejos dos públicos específicos, e por aí vai.

No caso, estávamos reacendendo esta última discussão, a do público-alvo. Semanas antes, eu havia apontado para qual nicho de mercado e para qual o tipo de consumidor que Seagal fazia os seus filmes. A Joelma, mulher do Silvio, comentou que era verdade, o ator (????) tinha de fato uma legião fiel de fãs num determinado segmento da sociedade. Rapidamente, elaboramos em conjunto uma teoria sobre os astros de ação dos anos 80 (os famosos brutamontes) no que tange ao direcionamento dos seus filmes para certas plateias, o que explicaria o seu sucesso. Vamos às nossas conclusões:

1. Astro: Steven Seagal / Público-alvo: as velhinhas - é incrível como as vovós gostam do Steven Seagal. Elas assistem aos filmes do cara com ardor e satisfação sádicos no olhar. Foi este fenômeno que me chamou a atenção para a questão, e a única explicação que me veio (fora alguma fantasia sexual específica das mulheres avançadas na terceira idade) é que Seagal faz filmes absolutamente moralistas. Bandido, terrorista, punguista, valentão, não interessa: todos eles levam porrada na cara e saem com meia dúzia de ossos quebrados. Fora que o cabelo dele não levanta sequer um fio daquela capa de gel e o terno nunca fica sequer esgarçado - o que nos remete à imagem do "orgulho da vovó", do cara eternamente alinhado, mesmo nas situações mais impróprias. Não é à toa que as produções mais recentes dele saem direto no mercado de home video: as senhoras já não curtem mais ir ao cinema, preferem mesmo o dvd.

2. Astro: Sylvester Stallone / Público-alvo: a classe operária - já Stallone achou um poderoso nicho econômico dentro da classe operária norte-americana. Todos os seus personagens são hard workers, vindos do subúrbio ou do interior. Eles pegam no pesado para conquistar seus sonhos ou defender o seu país; são homens de sentimentos e vontades simples (lutar contra Apolo, o Doutrinador, ou vencer a Guerra do Vietnã). Se o interiorano Rambo ou o suburbano Rocky são os melhores casos, temos ainda o excelente exemplo de Falcão, o Campeão dos Campeões - ou este outro que mostra o seu amor pelos esportes de massa, eterna paixão das classes trabalhadoras.

3. Astro: Jean-Claude Van Damme / Público-alvo: garotas recém entradas na adolescência - mais um musculoso que faz filmes para mulheres: se Seagal atrai as vovós, Van Damme vai em cima das pré-adolescentes. Todos os seus filmes fazem questão de mostrá-lo sem camisa em boa parte da trama (poderiam ter sido escritos pelo Carlos Lombardi), além de mostrar suas pernas e, invariavelmente, a sua bunda. Há sempre uma cena (des)necessária nas produções do belga, em que ele abre um espacato em meio à pancadaria (bem, talvez o público-alvo dele seja outro e eu é que estou sendo inocente...). De qualquer maneira, há normalmente um interesse romântico estereotipado: nunca uma mulher independente e decidida, mas sempre o tipo "princesinha doce e indefesa", com um jeitinho meio virginal. Perfeito para as mocinhas.

4. Astro: Arnold Schwarzenegger / Público-alvo: os nerds - nos anos 80, ninguém dos supracitados fez mais sucesso do que Schwarza, e o motivo é simples: ele acertou no público que mais consome cinema e cultura pop, os nerds. Alguns exclamarão: Schwarzenegger nerd? Impossível! Mas é verdade. O cara pode ser um brucutu, mas a sua fama veio com filmes sobre robôs assassinos do futuro, alienígenas malvados que caçam gente ou aventuras de espionagem em Marte. Mesmo quando faz algo épico, é mais RPG do que epopeia. E quando se aventura na praia de Stallone e faz o bom americano que quer resgatar a filha, o resultado é esse. Quer algo mais geek?

5. Astro: Dolph Lundgren / Público-alvo: os perdedores - o sueco é o seu próprio público-alvo, um perdedor total. O cara só é lembrado por ter sido o vilão em Rocky IV -- ou por ter sido a versão em carne (muita carne) e osso de He-Man. Coitado...

E aí, amigos solistas, vocês me ajudariam na análise mercadológica dos astros de ação dos anos 70, como Charles Bronson e Bruce Lee? O estudo inicial ficou circunscrito apenas aos anos 80...

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Mesa redonda, bola quadrada: Inter x Santo André, Flamengo x Grêmio

E neste domingo terminou a 39a. edição do Campeonato Brasileiro. Esta foi a mais emocionante e inusitada no sistema de pontos corridos, com as disputas todas em aberto. Porém, conforme o previsto, o Flamengo sagrou-se campeão pela sexta vez, igualando o feito do São Paulo F.C. e deixando o Inter com o vice-campeonato. O Grêmio terminou na oitava posição.
  • Inter 4x1 Santo André
  • Flamengo 2x1 Grêmio
Sobre o jogo do Inter não tenho muito o que falar. Fez sua obrigação e goleou o fraco e rebaixado Santo André. Os gols foram marcados por Alecsandro, Índio, Andrezinho e Giuliano. Nunes ainda descontou com um gol de penalti. A cena inusitada em Porto Alegre ocorreu por conta do gol de Roberson, abrindo o placar contra o Flamengo no Maracanã. Nunca havia visto (e talvez nunca mais verei) o mar vermelho Beira-Rio explodir comemorando um gol tricolor. No mais, acredito que tudo tenha ocorrido na sua normalidade. Aguardo relatos dos solistasdesafinados colorados que foram ao estádio e viram in loco tudo que ocorreu na rodada decisiva...


Todos os outros jogos eram coadjuvantes frente ao tão esperado embate entre o rubronegro carioca e o tricolor gaúcho. O que interessava para os torcedores das equipes que disputavam o título (Inter, São Paulo e Palmeiras) era o resultado deste jogo. O Grêmio entrou desacreditado depois de tudo que se falou durante a semana e com uma escalação reserva que incluía diversas estreias na equipe titular. Ao entrar em campo, a torcida rubronegra gritava freneticamente o nome do adversário. Mas ao contrário dos prognósticos, o time gaúcho não se deixou humilhar para ver ser maior rival sem a taça. Começou o jogo melhor que o nervoso Flamengo. Para espanto geral da nação futebolística, aos 21min o garoto Roberson numa jogada oportunista típica de centroavante, adiantou-se ao marcador no cruzamento de Douglas Costa e desviou a bola para o fundo das redes de Bruno, que pouco teve o que fazer. Estava aberto o placar no Maracanã. E incrivelmente era o Grêmio que o fazia, calando a massa flamenguista que esperava um jogo fácil. No resto do Brasil, a festa se deu nas torcidas que ainda sonhavam com o tropeço do clube carioca.

O Flamengo, que já havia entrado nervoso em campo, ficou mais perdido ainda. Errava passes e gols. Quando as coisas pareciam complicadas, David empatou a partida aos 29min do primeiro tempo. Mas o resultado não bastava, já que a essas alturas o Inter fazia 2x0 em Porto Alegre e botava a mão na taça. O primeiro tempo terminou empatado, mas com uma sutil melhora do mengão. A segunda etapa começou morna e ruim de assistir. Os 2 times não jogavam bem. O Grêmio recuou e o Flamengo errava muitos passes no meio de campo. Adriano até tentou, mas a bola ficava nas mãos de Marcelo Grohe. O tempo passava e o jogo ficava mais nervoso. A torcida calada; a equipe da casa perdida; o visitante recuado saíndo em contra-ataques perigosos com Douglas Costa e Mario Fernandes. Tudo parecia conspirar para um fim de jogo dramático. Até que aos 24min Petkovic, que havia tido sua substituição já requisitada pelo técnico, bateu um escanteio com precisão e Ronaldo Angelin completou de cabeça, virando a partida. Pet saiu logo após o gol e ficou auxiliando o técnico Andrade à beira do gramado. O minutos que se passaram deixaram o jogo mais dramático. Ainda mais com o gol que Maylson perdeu, quase empatando novamente a partida. Quando o juiz Eber Roberto Lopes apontou para os céus e logo após para o centro do gramado, trouxe uma explosão de alegria para o Maracanã e um alívio para a torcida tricolor, que até para ver seu time perder tem que sofrer. Fica para a História um campeão com todos os méritos, que jogou contra um adversário honrado. O resto agora faz parte do anedotário futebolístico.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Um solista no AC/DC: epílogo nas arquibancadas

Finalizando meus relatos sobre o show bombástico do AC/DC em terras paulistanas, vamos à indiada propriamente dita.

Eu tive muita sorte de poder ir de carona com os meus amigos locais, Joel e Priscila -- porque, como eu já disse, chegar no Morumbi é um problema, e sair de lá é um problema maior ainda. Mas o engraçado é que São Paulo é tão descomunalmente megalópode, que nem mesmo os paulistas a conhecem direito. Meus amigos não tinham certeza de como se chegava ao estádio. Fora isso, já tínhamos saído com um carro quando lembraram que aquela placa não podia circular naquele dia/horário por causa do rodízio.

Após uma troca de veículos (e uma viagem de quase uma hora até chegar no estádio), encontramos o já citado estacionamento de R$ 100,00. Eu me dirigi ao meu setor dentro do estádio (a arqubancada mais próxima do palco). Arquibancada sim, por dois motivos: 1) eu queria assistir ao show, não agitar e 2) não tenho mais idade para a pista.

Estava eu lá, sentadinho num dos assentos da arquibancada, cercado por uma fauna que incluia piás bêbados, tiozões animados e famílias inteiras (ao meu lado estava uma mãe com o pecorrucho de uns 11 anos, que não tinha muita ideia do que estava acontecendo), quando aconteceu. Havia previsão de chuva para aquela noite, e o clima estava muito a fim de tornar a previsão realidade. De súbito, do meu lado do estádio, começaram a assomar-se imensas nuvens negras que, no melhor estilo "filme de fantasia dos anos 80", foram lentamente encobrindo o estádio.

Bem, aquela massa escura ia se deslocando lentamente por cima de nós, causando imenso frenesi. Subitamente, todos os vendedores de cerveja, pipoca e picolés sacaram capas de chuva e começaram a vendê-las para o público. Eu já tive a experiência de ver um show abaixo de um toró (Helloween e Iron Maiden, 1998) e sabia que, se chovesse de fato, aquelas capas baratas feitas com o mesmo plástico das sacolas de supermercado de nada serviriam. Por isso, fiquei sentado, quieto, aguardando.

Foi exatamente quando a nuvem negra pareceia estar indo embora (eu já via umas nesgas de céu por trás dela), a chuva começou: pingos pesados e intermitentes. Quase que imediatemente, o responsável pelo som mecânico dos P.A.s teve a abençoada ideia de pôr para tocar War Pigs, do Black Sabbath. Imediatamente, as tantas mil pessoas que já estavam no estádio naquela hora começaram a agir como se começasse uma apresentação do próprio Sabbath: batiam palmas no ritmo, cantavam a letra, faziam coro no riff.

E, tão logo a música terminou, a chuva também passou, num fim quase uníssono. Parecia ser um tributo que os deuses do rock queriam antes de permitir que assistíssemos aos australianos sexagenários.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Calou-se a voz

(1940 - 2009)

Me faltam as palavras. Todos que assistiam aos programas da TVS (hoje SBT), conhecem a voz desse cara. Como fica o sorteio da Tele Sena daqui por diante (só pra ficar em uma das principais atividades dele)?

Lombardi é o símbolo de uma era que... já era. Ele era uma espécie de "the last man standing", ícone máximo de uma geração de locutores da escola "vozeirão" do rádio - aqueles que despertavam a imaginação de donas de casa e empregadas solitárias, que imaginavam nele um homem perfeito. Páreo pra ele, só Don LaFontaine. Que não tinha como patrão o Sílvio Santos. Então, sou mais o Lombardi.

Mas esse era um cara que tinha algo a mais. Lombardi não era apenas um locutor. Ele era O locutor. Sílvio Santos, ao tirar ele da Rede Globo e levá-lo para o SBT, disse:

- Vou te transformar no melhor locutor do Brasil.

Alguém ousa duvidar de SS?