quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Tony da Gatorra e a arte do instrumento improvisado

É verão e o Sol Desafinado está em marcha lenta, praticamente em ritmo de férias. Isto porém não quer dizer que os solistas não continuem em suas intermináveis discussões sobre a vida, o universo e tudo mais: na virada do ano, nos encontramos na praia onde os assuntos iam passando por Nikita Khrushchev, Ivan O Terrível, Avatar, Lady Gaga, Glauber Rocha, Samwell (percebam que a função descrita pelo fluxo da conversa é y = -x, onde felizmente x era limitado pelo sono das pessoas ou pelo nascer do sol) e chegou até um peculiar personagem do universo musical gaúcho que ainda não havíamos comentado aqui: Tony da Gatorra.

Para quem não conhece a figura, o seu artigo na Wikipedia dá uma introdução informativa, mas nada dá uma ideia melhor da natureza desse ser do que ser apresentado ao seu maior clássico, "Assassino".

Evidentemente, o que faz Tony se sobressair dos demais hippies malucos que tocam pelas ruas é a gatorra, o instrumento musical que ele inventou. A gatorra é, no fim das contas, uma bateria eletrônica em forma de guitarra de plástico cheia de botõezinhos. Vale notar que qualquer semelhança com um controle de Guitar Hero é mera coincidência: Tony está por aí com sua gatorra desde os anos 90.

Instrumentos malucos, aliás, foi outro tema recorrente no final de semana, com os experimentos do Daniel na recriação artesanal de instrumentos antigos da música folk americana, como o washtub bass, um contrabaixo feito com um balde, e o popular washboard, uma tábua de lavar roupas usada como instrumento de percussão (interessante o foco em itens da lavanderia...). Esta cultura de instrumentos improvisados era muito forte entre os escravos americanos, cuja tradição musical podemos traçar como origem do blues e por consequência do próprio rock and roll.

Não seria Tony da Gatorra então, com seu instrumento de percussão improvisado e suas canções de protesto, um herdeiro legítimo dessa cultura? De certa forma, não seria a gatorra uma espécie de washboard digital?

E finalmente... o Tony da Gatorra não é a cara do ex-guitarrista do Scorpions, Uli Jon Roth? (Aliás, este também adepto dos instrumentos esquisitos.)


(Créditos da montagem ao Daniel, autor da pertinente observação.)

11 comentários:

  1. Não sei se essa informação é inédita para todos mas o guita do Franz Ferdinand tem uma gatorra feita pelo Tony!

    Inclusive o Tony andou tocando com eles na Europa.

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  2. Tony da Gatorra fez uma apresentação no Coquetel Molotov (festival de música alternativa de Recife) em 2006. Eis um depoimento selecionado para uma matéria no site do festival : "O melhor show do primeiro dia foi Tony da Gatorra. O melhor show do segundo dia foi o show de Tony da Gatorra do primeiro. No geral, o melhor show foi o de Tony da Gatorra". Duas coisas me assustam: a seleção do comentário e as outras bandas que tocaram no festival.

    Festivais de música e mau gostos a parte. Gostaria de um dia ouvir uma versão de Tony da Gatorra para o Funk do Suassuna. Seria um clássico!

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  3. Não sei se essa informação é inédita para todos, mas o Tony da Gatorra não tem o dedo indicador da mão esquerda...

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  4. Será que ele vai se candidatar a presidência da república também?

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  5. E eu perdi a discussão sobre o Nikita Khrushchev...

    "Assassino! Não seja uuuuuuum!"

    PS - o Jean fez aquele tipo de piada que comentávamos na praia (depois do Samwell).

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  6. Sou conterrâneo do Tony. Encontro com ele diversas vezes. Um show memorável dele foi na praça do soldado em Esteio, inclusive tem registros no youtube.
    A propósito ele vendeu umas 5 gatorras pro Frans Ferdinand.

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  7. Em 1994 (ou 5) tocamos numa sociedade em Esteio. Abrimos o show com um medley de "In the Flesh" do Floyd com "rock'n Roll" do led. O Cara veio no palco no final do show e ficou uma meia hora babando tipo "bah, cara, que massa..." eu nem sabia quem era. Acho que nessa
    época ele nem era o inventor da Gatorra. Alguns meses depois, vi ele na Band tocando com seu instrumento, aí reconheci.
    Moser

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  8. É um daqueles casos em que o artista tem uma demência tão visível que muita gente acaba levando o trabalho dele a sério.

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  9. Cara, eu ia comentar algo, tava procurando as palavras, mas o F. Schuler encontrou-as para mim.

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  10. Ah, sim... o programa na Band era o "Folharada".
    Aí já viu... Moser

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