sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Outros Onzes de Setembro

É difícil desvincularmos a data de hoje do episódio das Torres Gêmeas, em 2001. O "onze" conjugado com o "setembro" passou a ter um significado único. Parece, de certa forma, que este dia só começou a existir no calendário da cultura ocidental naquele ano.

Claro que é só entrar na Wikipedia, na seção "Neste dia..." para ver que 11 de setembro também é o Dia Nacional da Catalunha, que foi quando nasceram Brian De Palma (cineasta americano), Theodor Adorno (filósofo alemão) e Franz Beckenbauer (que, de acordo com o pessoal do Monty Python, também é um filósofo alemão).

Mas o dia de hoje tem significados históricos mais próximos de nós. Foi no 11/09 de 1973 que o Chile sofreu o golpe militar mais pavoroso da história da América Latina, com direito a bombardeio do palácio do governo, o La Moneda, pela Aeronáutica chilena, e à morte do presidente deposto, Salvador Allende (até hoje se debate a versão oficial, de que ele teria se suicidado com um tiro de metralhadora -- tudo indica que ele de fato se matou).

Para a América Latina, foi um baque inesperado e assustador: o Chile foi o primeiro país da região (e, até onde eu saiba, do mundo) a eleger um governante socialista, identificado com o comunismo, de maneira democrática, o próprio Allende. Também foi a última nação a cair no manto da obscuridade das ditaduras do Cone Sul, e a que produziu o regime ditatorial mais violento e espúrio. O próprio golpe, arquitetado pelo antes fiel protetor do presidente, general Augusto Pinochet, foi reflexo do que viria pelas décadas seguintes. A destruição do La Moneda pelos aviões de combate e as histórias tenebrosas do Estádio de Chile (transformado em campo de concentração pelos militares e que hoje tem por nome Víctor Jara, músico torturado e morto na ocasião) vivem no imaginário das esquerdas da América do Sul e de toda a população chilena até hoje.

Já outro 11/09, vejam vocês, é tipicamente gaúcho: é o dia em que o coronel rebelde, encrenqueiro-mor e sem-noção exemplar Antônio de Souza Neto proclamou a República Rio-Grandense, durante a Revolução Farroupilha, em 1836. A data consagrada ficou o 20 de setembro de 1835, quando começa a revolta numa escaramuça na Ponte da Azenha (como não poderia deixar de ser, logicamente; certas badernas acontecem até hoje por aquelas bandas...). Mas, quase um ano depois, os farrapos ainda eram tratados como simples rebeldes pelo Império do Brasil. Muito se debateu sobre as reais intenções republicanas dos integrantes do movimento (Bento Gonçalves, o líder, era abertamente monarquista) e hoje se acredita que a proclamação de independência de Neto teria muito mais valor estratégico do que ideológico -- obrigaria os regentes imperiais a dar mais importância às reivindicações farroupilhas, dando um novo nível ao conflito: de sedição pura e simples a guerra entre nações.

Seria justo dizer que, se EUA e Chile tiveram seus "onzes de setembro", que o Brasil também teve o seu -- e que os encrenqueiros da vez fomos nós? Brincadeirinha puramente retórica.

Aliás, mais sobre a Guerra dos Farrapos no Sol Desafinado nas proximidades dia 20 de setembro.

4 comentários:

  1. feliz dia das Torres Gêmeas, feliz aniversário Adorno, feliz dia do golpe no Chile, feliz proclamação da República Rio Grandense!

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  2. Falando em bombardeio ao palácio do governo, quase tivemos um fato similar em Porto Alegre, quando em 1961 a tentativa de golpe pelos militares encontrou o então governador gaúcho Leonel Brizola como impecílio. A base aérea de Canoas recebeu a ordem de bombardear o Palácio Piratini e redondezas, onde Brizola estava entrincheirado discursando pelo rádio em favor da Legalidade. Sorte que os sargentos e o General Machado Lopes ficaram do lado do Brizola.

    Falando nisso, podia fazer um post sobre este fato hein Ulisses! É uma das passagens mais interessantes da história gaúcha moderna.

    ...quando começa a revolta numa escaramuça na Ponte da Azenha

    A Azenha é sempre lembrada na História como palco de grandes batalhas e importantes decisões!!!

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  3. A Azenha é sempre lembrada na História como palco de grandes batalhas e importantes decisões

    Mas e quem disse que o episódio da Ponte da Azenha foi uma grande batalha? :D

    De fato, a Legalidade é um evento histórico fantástico, talvez o último grande momento da história rio-grandense. No caso do quase bombardeio do Piratini, foram exatamente os sargentos e as patentes mais baixas que, durante a madrugada, sabotaram aviões e pista de decolagem da base aérea de Canoas, impedindo os pilotos de cumprir as ordens.

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  4. Me lembro perfeitamente do "ultimo" 11 de setembro catastrofico, o de 2001.
    Eu estava prestando o servico militar naquele ano e no momento em que o primeiro aviao atingiu uma das torres, soou o alarme no Batalhao de Infantaria da Base Aerea de Canoas, e todos os soldados disponiveis se concentraram no alojamento da PA (Policia da Aeronautica). No mesmo instante, os rumores de que os EUA estavam sendo bombardeados tomaram conta da instalacao militar. Em poucos minutos o Comandante da Infantaria declarou estado de alerta. Minutos depois, todos vimos ao vivo pela televisao o segundo aviao completar o servico. Resumindo: passamos 1 semana de sufoco com todos os soldados de prontidao para qualquer eventualidade.

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