quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Os astros de ação e seus públicos-alvo


Semana passada, estava conversando com o pessoal que faz oficina de audiovisual comigo no Pontão de Cultura de São Leopoldo -- incluindo o Silvio -- e debatemos mais uma vez um dos nossos assuntos favoritos desde que o curso começou: Steven Seagal. Ou vocês achavam que a gente discute Godard e Antonioni? Bem, de qualquer maneira, o Steven Seagal é um ótimo exemplo para muitas questões acaloradas no mundo da Sétima Arte, que vai desde a legitimidade do cinema autoral até os desejos dos públicos específicos, e por aí vai.

No caso, estávamos reacendendo esta última discussão, a do público-alvo. Semanas antes, eu havia apontado para qual nicho de mercado e para qual o tipo de consumidor que Seagal fazia os seus filmes. A Joelma, mulher do Silvio, comentou que era verdade, o ator (????) tinha de fato uma legião fiel de fãs num determinado segmento da sociedade. Rapidamente, elaboramos em conjunto uma teoria sobre os astros de ação dos anos 80 (os famosos brutamontes) no que tange ao direcionamento dos seus filmes para certas plateias, o que explicaria o seu sucesso. Vamos às nossas conclusões:

1. Astro: Steven Seagal / Público-alvo: as velhinhas - é incrível como as vovós gostam do Steven Seagal. Elas assistem aos filmes do cara com ardor e satisfação sádicos no olhar. Foi este fenômeno que me chamou a atenção para a questão, e a única explicação que me veio (fora alguma fantasia sexual específica das mulheres avançadas na terceira idade) é que Seagal faz filmes absolutamente moralistas. Bandido, terrorista, punguista, valentão, não interessa: todos eles levam porrada na cara e saem com meia dúzia de ossos quebrados. Fora que o cabelo dele não levanta sequer um fio daquela capa de gel e o terno nunca fica sequer esgarçado - o que nos remete à imagem do "orgulho da vovó", do cara eternamente alinhado, mesmo nas situações mais impróprias. Não é à toa que as produções mais recentes dele saem direto no mercado de home video: as senhoras já não curtem mais ir ao cinema, preferem mesmo o dvd.

2. Astro: Sylvester Stallone / Público-alvo: a classe operária - já Stallone achou um poderoso nicho econômico dentro da classe operária norte-americana. Todos os seus personagens são hard workers, vindos do subúrbio ou do interior. Eles pegam no pesado para conquistar seus sonhos ou defender o seu país; são homens de sentimentos e vontades simples (lutar contra Apolo, o Doutrinador, ou vencer a Guerra do Vietnã). Se o interiorano Rambo ou o suburbano Rocky são os melhores casos, temos ainda o excelente exemplo de Falcão, o Campeão dos Campeões - ou este outro que mostra o seu amor pelos esportes de massa, eterna paixão das classes trabalhadoras.

3. Astro: Jean-Claude Van Damme / Público-alvo: garotas recém entradas na adolescência - mais um musculoso que faz filmes para mulheres: se Seagal atrai as vovós, Van Damme vai em cima das pré-adolescentes. Todos os seus filmes fazem questão de mostrá-lo sem camisa em boa parte da trama (poderiam ter sido escritos pelo Carlos Lombardi), além de mostrar suas pernas e, invariavelmente, a sua bunda. Há sempre uma cena (des)necessária nas produções do belga, em que ele abre um espacato em meio à pancadaria (bem, talvez o público-alvo dele seja outro e eu é que estou sendo inocente...). De qualquer maneira, há normalmente um interesse romântico estereotipado: nunca uma mulher independente e decidida, mas sempre o tipo "princesinha doce e indefesa", com um jeitinho meio virginal. Perfeito para as mocinhas.

4. Astro: Arnold Schwarzenegger / Público-alvo: os nerds - nos anos 80, ninguém dos supracitados fez mais sucesso do que Schwarza, e o motivo é simples: ele acertou no público que mais consome cinema e cultura pop, os nerds. Alguns exclamarão: Schwarzenegger nerd? Impossível! Mas é verdade. O cara pode ser um brucutu, mas a sua fama veio com filmes sobre robôs assassinos do futuro, alienígenas malvados que caçam gente ou aventuras de espionagem em Marte. Mesmo quando faz algo épico, é mais RPG do que epopeia. E quando se aventura na praia de Stallone e faz o bom americano que quer resgatar a filha, o resultado é esse. Quer algo mais geek?

5. Astro: Dolph Lundgren / Público-alvo: os perdedores - o sueco é o seu próprio público-alvo, um perdedor total. O cara só é lembrado por ter sido o vilão em Rocky IV -- ou por ter sido a versão em carne (muita carne) e osso de He-Man. Coitado...

E aí, amigos solistas, vocês me ajudariam na análise mercadológica dos astros de ação dos anos 70, como Charles Bronson e Bruce Lee? O estudo inicial ficou circunscrito apenas aos anos 80...

32 comentários:

  1. Eu tô viajando, ou o Hisham escreveu "perfeito" a respeito de um texto do Ulisses?

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  2. Bah, a cena em que o Arnold dá o cano no Nigel Mansell "recarregado" é genial!!! Foi uma das cenas que marcou minha infância...

    Faltou falar do Chuck Norris! E se for estender para os seriados, ainda temos que enaltecer Angus McGyver e seu inseparável canivete suiço (eu tenho vários por influência direta dele). Se para os nerds Schwarznegger é herói, McGyver é deus... haeuaheuaheuahua

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  3. Eu tô viajando, ou o Hisham escreveu "perfeito" a respeito de um texto do Ulisses? [2]

    Roberto, não faltou, não. Chuck Norris transcende o status do astro de ação, ele é uma deidade própria, seus filmes na verdade são filosofia e o seu público-alvo é a humanidade.

    Nem pensei no Magáiver. Não porque a lista é de cinema, mas porque ela abrange apenas os astros de ação brucutus.

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  4. P.S. - sabia que faria a felicidade do Roberto com a cena do Comando para Matar!

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  5. Vou contar pra vocês um dos meus orgulhos de infância:

    EU TENHO O BONECO DO SCHWARZA NO "COMANDO PARA MATAR", COM BAZUCA E TUDO.

    RÁ!

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  6. Charles Bronson é o mais barbada de todos. O público dele são os feios. Ele é o cara sem graça, que não tem nada de galã e sempre se dá bem no final.

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  7. Eu tô viajando, ou o Hisham escreveu "perfeito" a respeito de um texto do Ulisses?

    Sim. Ao começar a ler o texto não pensei que fosse ter uma categoria na qual eu fosse me identificar, mas realmente Terminator 2 e Total Recall são dois pilares na minha infância!

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  8. Você se esqueceu de comentar que o Dolph Lundgren (DL) fez uma versão bem antiga do Justiceiro (http://www.imdb.com/title/tt0098141/) para o cinema. Aliás, bem melhor do que a versão posterior. O DL conseguiu criar um personagem bem obscuro.

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  9. Sempre achei que o público alvo do Bruce Lee fossem os garotos "losers" que apanhavam dos colegas. Afinal, ele é magrinho, baixinho e ninguém dá nada por ele. Ele é o sonho de vingança dessa turma.

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  10. Pra mim, o público alvo do Bruce Lee é o infantil.

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  11. Concordo com o Roberto! McGyver é o cara! O primeiro disco que eu ouvi do Rush foi o Moving Pictures por causa do seriado!

    Outra, o Dolph não fez o clássico Soldado Universal?

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  12. Outra, o Dolph não fez o clássico Soldado Universal?

    Sim, mas como o #2 do Van Damme. O cara é um perdedor mesmo.

    E ainda estou esperando o inevitável comentário do Barolho sobre a Strato do Steven Seagal...

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  13. Ótimo! O meu preferido sempre foi o Arnold Schwarzenegger, a minha mãe reconhece o cara só pela bunda, hauhauhauhauhaua...
    Sem falar nele como Conan - O Bárbaro!
    E Steven Seagal, odeio o cara!! Nojento! Blé!
    Mas eu gosto daqueles filmes do Schwarzenegger em q ele foge do estereótipo como: Irmãos Gêmeos , Um tira no Jardim de Infância, Junior (Schwarzenegger grávido! ).
    E sobre esses filmes japoneses e chineses eu gosto! É divertido, engraçado! Aqueles mais antigos do Jet Li q ele é careca e usa trança são ótimos, hauhauahua... E vamos combinar, ninguém faz caretas melhores q Bruce Lee! :P

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  14. Pois é, a foto foi escolhida em "homenagem" (!!!) aos guitarristas do blog (aposto que alguém sentiu algum tipo de dor quando viu).

    Jean, o Dolph (ou DL, como disse o Cadu) não só fez o crássico Soldado Universal, como vai aparecer na terceira parte da "saga".

    Cadu, eu não esqueci, só não quis me repetir, já que debatemos isso em outro post. Mas o fracasso da franquia só exalta o aspecto "loser" do DL, hehehehehe.

    Alexandra, esta teoria sobre o Bruce Lee me parece bem válida. Astro: Bruce Lee / público-avo: piás franzinos que apanham. :D

    Hisham, mesmo eu não sendo um nerd tecnológico, me enquandro na mesma categoria. Aliás, lembrei de uma exposição muito empolgada de tua parte sobre o Total Recall quando eu escrevia.

    Julio, acho que o Charles Bronson é mais representativo dos velhões (a contrapartida do Steven Seagall, por assim dizer). Tem algo de transferência fálica da impotência sexual para aquele revólver Magnun do Desejo de Matar -- que, aliás, será refilmado com o Stallone (!!!!!). Fora o bigode, claro. O representante dos feios, pra mim, é o Chuck Norris mesmo.

    Roberto, o "Nigel Mansel" se chama Vernon Wells, faz filmes até hoje como "Silent Night, Zombie Night", "It's a Wonderful Death" e "King of the Ants", onde ele REPRISA o personagem do Commando. Ele próprio define seu mais clássico papel como "Freddie Mercury on steroids".

    Chico, tu é gênio.

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  15. Maísa, tem ainda o Um herói de brinquedo nesta leva de filmes do Schwarza!

    E a tua mãe, hein? Ligeira, ela... :D

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  16. Ia falar antes da banda de blues do SS (que segura a guitarra como se fosse tocar algum axé), e ia continuar falando da banda do Bruce Willis. Mas vou deixar para o Barolho, que tem mais raiva deles por isso...

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  17. O Van Damme tem uma outra coisa que atrai as adolescentes que é a CALÇA CENTRO-PEITO.

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  18. Sobre Comando para Matar: impagáveis as cenas de "papai querido" deste video. Detalhe: tem que ser dublado.
    Pena que não tem a cena que a filha fala "Ah, papai, você é tão quadrado..."

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  19. Sobre Stallone, aguardem post intitulado: "Rocky: mais do que uma série de filmes, uma lição de vida!"

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  20. Precisa realmente comentar algo sobre um guitarrista que segura seu instrumento como uma AK-47?

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  21. Sabem aquela velha brincadeirinha onde a criança segura uma vassoura pra brincar de arminha? Pois é... o SS faz isso com uma guitarra, e o pior, para um público que paga pra assistir!

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  22. AK-47??? HAAAAAAAAAAAA HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA!

    Quero ver se este post do Gustavo sobre o Rocky sai! :D

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  23. O Gustavo não sabe no que pode estar se metendo com o Cadu se não entrar no território sagrado de Rocky Balboa com a devida reverência...

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  24. (E eu me divirto lendo os comentários acima citando "SS" e trocando para "Sílvio Santos". :) )

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  25. (E eu me divirto lendo os comentários acima citando "SS" e trocando para "Sílvio Santos". :) ) [2]

    Eu ia fazer a mesma piada antes, mas achei que era piração particular. Parece que não, hehehehe.

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  26. Um cara que tem este instrumento não precisa de uma guitarra para se expressar.

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  27. Aliás, já com o perdão antecipado por desvirtuar COMPLETAMENTE o post, mas achei isso aqui na Internet agora há pouco e preciso dividir com os nobres colegas.

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  28. Puta que pariu, que troço gênio, Chico. Recomendo fortemente este post, sobre as pérolas do Patrão. Uma delas:

    "Tem muitos artistas que fazem más coisas e morrem cedo, enquanto tem outros que duram, e aí vai ter que mandar matar, que nem eu e a Hebe"

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  29. He - Dolph Lundgren - man é impagável! Meu pai me levou no cinema pra ver quando eu era criança... Ele se divertiu mais que eu...

    Adorei o blog!

    Vero.

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  30. Sobre o Dolph Lundgren... dia desses tava assistindo o Jo soares e o entrevistado era um comediante gordinho carioca... ele relatou que esteve em viajem a LA para fazer um curso/palestra, ou sei lá o que, e, durante o cofee-break, cruzou com o Dolph Lundgren no saguão do local do curso/palestra. Aí ele interpelou o Dolph com a conversa "aí, meu... sou teu fã... vi vários filmes teus, inclusive o (blablabla) e o (blablabla), etc... O Dolph Virou pra ele e se sentiu como astro reconhecido e falou algo tipo "putz,cara, que massa.. nunca cruzei com alguém que se disesse meu fã... vamos tomar um café juntos..." e ficaram a tarde toda sentados jogando conversa fora... Bem, apenas um caso que lembrei... Moser

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  31. Foi essa história do Moser que fundamentou a minha teoria sobre o público-alvo do hômi.

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