terça-feira, 13 de abril de 2010

Por que eu resolvi boicotar a Apple

Ontem, postei duas mensagens no meu Twitter:
I am now officially boycotting Apple: http://bit.ly/cjwkQI - Apple's move is bad for the industry, bad for developers, bad for end users.
Vendo iBook G4 baratinho. Motivo: me livrando dos produtos Apple http://bit.ly/anq8YX
Algumas pessoas ficaram surpresas, incluindo meu primo, que perguntou por que do boicote, e pediu uma explicação "numa linguagem pra leigo". Nas poucas palavras que o Twitter permite, respondi que "a nova licença deles restringe as ferramentas que os programadores podem usar. Se a indústria for por aí, acaba a inovação." Adicionei, pra fazer uma analogia rápida, que é "como se fosse um canal de TV que só aceita vídeos editados com o Final Cut Pro e proíbe o uso de qualquer concorrente." A reação dele resume bem o que senti quando soube dessa notícia.

Ainda assim, em função de outras reações que recebi, achei que valeria a pena explicar melhor o porquê de eu achar isso uma notícia particularmente preocupante.

Na semana passada, a Apple anunciou uma mudança no "iPhone Developer Program License Agreement", a licença que os programadores devem aceitar para que possam desenvolver softwares para a plataforma. Na nova versão, foi adicionada uma nova restrição aos programadores: a Apple agora dita quais linguagens de programação são permitidas para quem quer escrever programas para a sua plataforma. Obviamente, somente aquelas suportadas pelas próprias ferramentas da Apple.

A razão disso foi o iminente lançamento do Flash CS5 da Adobe, que permitiria aos programadores desenvolver aplicações em Flash e convertê-las automaticamente pra que pudessem rodar tanto no iPhone como em outros smartphones, sites web, etc. Permitiria -- se a Apple não tivesse tornado isso agora ilegal. Como era de se esperar, essa jogada deixou furiosos os caras da Adobe que tiveram a trabalheira de fazer esse conversor e estavam prontos para lançá-lo no mercado.

O motivo do meu boicote não é essa rasteira na Adobe, que também não é nenhuma santa (lembram de quando a Adobe conseguiu botar na cadeia um estudante de doutorado que fez uma apresentação mostrando os furos de segurança do formato de eBook deles?). Muito pelo contrário, chega a ser irônico ver essas duas empresas se digladiando hoje, tendo em vista que nos obscuros anos 90 a Apple se manteve viva porque era "a melhor máquina para rodar Adobe Photoshop".

O motivo do meu boicote é que isso abre um precedente inédito na indústria: nunca os programadores foram tão restringidos em sua liberdade de escolha de ferramentas de trabalho em uma plataforma popular como essa. Pior que isso: se fosse só esse o problema, seria um incômodo, mas algo com que os programadores poderiam apenas "se virar e aprender as ferramentas permitidas". O problema maior é que esse movimento da Apple não tem por objetivo "enquadrar os programadores", mas sim impedir o desenvolvimento de programas portáveis.

Um software é "portável" (do inglês portable; deveria ser traduzido "portátil" mas no meio da computação acabou ficou assim) quando ele é feito de modo a poder ser escrito uma vez e poder ser compilado ("empacotado pra rodar") em diferentes ambientes. Exemplos de softwares portáveis são o Firefox (que roda em Windows, Mac, Linux, etc.), o OpenOffice, e os próprios iTunes e Safari, da Apple, que rodam em Mac e Windows. Alguns programas, como o Microsoft Office, têm versões pra Windows e Mac, mas foram efetivamente programados duas vezes, o que, como se pode imaginar, é uma trabalheira.

O que a Adobe tentou fazer com o Flash CS5 foi criar uma ferramenta para programação de "apps" portáveis: programe uma vez e rode seu programa num iPhone, num Motorola, num Nokia, etc. O programador ganha, pois ele tem o trabalho uma vez só e não precisa apostar as fichas em uma só plataforma, e os usuários ganham, por terem mais opção de escolha.

E aí você pensa: e a Apple perde, né? Afinal, os aplicativos da sua plataforma perdem a exclusividade. Foi pensando assim que a Apple fez o que fez. A justificativa que eles parecem ter dado foi que ao proibir camadas de abstração que permitam portabilidade eles estariam prezando pela qualidade dos aplicativos da plataforma. Isso é balela: um sem-número de apps para iPhone têm interfaces totalmente customizadas e look nada "nativo", e também não faltam exemplos de softwares que têm performance excelente mesmo possuindo abstrações para portabilidade.

Mas eles não estão no seu direito de fazer isso para tentar proteger o seu mercado? Legalmente, é claro que sim, tanto que fizeram. Mas vamos tentar dimensionar o precedente que um movimento desses abre para a indústria -- em bom português, "se a moda pega". E se a Microsoft passasse a permitir apenas o uso das suas linguagens preferidas, como C# e VB.NET, para o desenvolvimento de aplicativos para Windows? Claro, ela jamais faria isso com o Windows, plataforma que cresceu e dominou o mercado em grande parte pelo enorme pool de aplicativos disponíveis, desenvolvidos nas mais variadas linguagens. Seria inviável para a própria Apple fazer isso com o Mac OSX -- até porque a viabilidade da plataforma hoje depende de um monte de programas portados de outros lugares.

Mas o que precisa da nossa atenção é que nesses novos ambientes como os smartphones, que vêm fazendo cada vez mais parte da nossa vida e de que somos cada vez mais dependentes, empresas como a Apple estão tentando impor novas regras no jogo. Regras que beneficiam os provedores dessas plataformas, aqueles que vendem o hardware e são os "gatekeepers" das application stores, mas que limitam as escolhas dos desenvolvedores das apps e dos usuários.

Foi graças à liberdade dos programadores de escrever softwares que rodam em múltiplos ambientes que muitos programas hoje são uma realidade, sejam softwares de código aberto ou fechado, do Firefox ao Safari (este último, um programa de código fechado da Apple baseado em código aberto do projeto KDE que foi tornado possível através de uma camada de abstração). Liberdade essa que a Apple agora nega aos programadores que queiram fazer programas para rodar no iPhone.

Será que a Microsoft gostou quando a Apple portou o iTunes para o Windows, e levou embora tantos usuários do Windows Media Player? Bom, é a regra do jogo, não é? Que o usuário escolha e vença o melhor programa. "Afinal, o computador é do usuário e ele instala o que quiser." Pois é, só que agora no novo mundo não é assim. Com as "aprovações" nas App Stores, o fabricante se coloca no direito de dizer o que você pode ou não instalar. E com as restrições de linguagem, o fabricante agora diz pros programadores como eles podem ou não programar.

Você pode se perguntar: "Mas peraí -- esse lance de aprovações já não era assim, por exemplo, no mundo dos videogames? Todo jogo precisa ser licenciado para ser lançado para um console, e afinal de contas, um telefone não é um computador." O problema é que o telefone é o primeiro passo. Hoje em dia os telefones são sim computadores e cada vez mais surgem "gadgets" que tomam o lugar dos computadores pessoais para um número cada vez maior de tarefas. Acaba que o computador é disfarçado de algo que não parece um computador para que os usuários aceitem ter menos liberdade de escolha do que esperariam de um computador. E mesmo no draconiano mundo do licenciamento de videogames, a liberdade de escolha de linguagens de programação e de desenvolvimento de games portáveis pra múltiplas plataformas sempre foi mantida.

Aquilo que a Apple fez ao portar o iTunes para o Windows, ela agora não permite que os programadores façam. Sob o pretexto de manter a qualidade da plataforma, ela impõe mais e mais restrições, mesmo a própria Apple tendo mostrado com o OSX que se pode fazer uma plataforma de qualidade sem restrições desse tipo. Como disse lá no tweet inicial, isso é ruim para a indústria, ruim para os desenvolvedores, ruim para os usuários finais. Nesse iMundo da Apple, as pessoas têm cada vez menos liberdade de escolha.

Que fique claro: não sou daqueles que simplesmente "odeiam a Apple". Meu primeiro computador foi um clone nacional de Apple II, em 1986. Meu irmão xerocava na tabacaria perto de casa páginas e páginas da revista Nibble (muito cara pra comprar!) com listagens de programas em AppleSoft BASIC. Nos anos 90, quando estava desistindo de tentar conseguir trazer dos EUA um Commodore Amiga, meu sonho de consumo era um Macintosh Performa. Isso tudo antes do primeiro iMac colorido sequer existir. Quando fui pros EUA em 2005 finalmente pude ter um Apple de novo, e comprei um iBook G4, o último modelo com chip PowerPC, logo depois que a Apple anunciou a transição para o chipset Intel (que fez com que os Macs se tornassem, basicamente, PCs bonitos e caros -- que o diga meu amigo Fabio que roda Mac OSX num netbook Dell). É com tristeza que eu vejo uma empresa que já brilhou tanto na indústria promovendo inovação tecnológica agora recorrer a táticas como essa para brigar por mercado.

30 comentários:

  1. Eu já não comprava nada da Apple por achar tudo caro. Depois desta então, vou ter que admitir que a Apple fez a HP e Dell parecerem santas. Esperando alguem, que não seja a apple ;), fazer um smartphone ou pad alguma coisa com saída HDMI, GPS e que aguente 1080p.

    ResponderExcluir
  2. Ver a quantidade de apologias da Apple na última semana me faz pensar que entrei no mundo bizarro. Qualquer um que acha que a Apple está fazendo isso pra se defender porque tem medo da Adobe atrasar a evolução do iPhone OS está delirando, acho que eles não estão falando da mesma empresa que fez duas mudanças radicais da arquitetura do Macintosh (uma de software, uma de hardware) nos últimos dez anos.

    ResponderExcluir
  3. O mercado que comanda. Só ele nos dirá se essa jogada da Apple foi boa ou ruim.

    "Rei morto, rei posto". Se a Apple cair em desgraça, outra empresa irá encabeçar a inovação. Até porque nesse mundo da tecnologia de ponta, ninguém é filho de pai bobo!

    ResponderExcluir
  4. Caso a Apple não caia em desgraça, pelo contrário, caso ela domine mais ainda o mercado, a jogada foi boa no "big picture" do desenvolvimento de software? Acho que não ... acho que ela é boa apenas para a Apple e com grandes riscos dessa filosofia atrasar a indústria.

    ResponderExcluir
  5. Meu "computadô do milhão" não tem nenhum dessi pobRema!

    ResponderExcluir
  6. A Apple só irá se dar bem se o consumidor gostar dos resultados dessa manobra. O consumidor só irá se sentir feliz com a Apple se ela oferecer equipamentos melhores que a concorrência. Não irá pagar mais caro por um produto pior.
    É só tomar o caso do CDMA x GSM. O primeiro é melhor, mais robusto e mais seguro. Mas mesmo assim, o segundo venceu a batalha, já que não é necessário pagar royalties, além de ser mais simples de desenvolver. A Nokia já nem fabrica mais celular CDMA. Aqui no Brasil, a Vivo que era a única com essa tecnologia, desistiu e migrou para o GSM.
    Isto já fugiu do controle das empresas individuais. Vejam a pirataria, que além de ser contra o interesse das grandes corporações, é ilegal. Mas hoje em dia ninguém mais tem problemas em baixar músicas de graça ou comprar bolsas e sapatos falsificados.
    Não dá para segurar o mercado. Se o programador não puder programar para o iPhone, irá programar para a concorrência. E se o consumidor gostar mais da concorrência, não vai pensar duas vezes antes de jogar fora suas iTralhas e comprar outros aparelhos. Até porque em questão de hardware, o N97 da Nokia já está dando um laço no Apple...

    ResponderExcluir
  7. iTralhas = melhor definição "fiadasputa" pro sem número de penduricalhos que a Apple despeja no mercado.

    Minha contribuição como usuário eventual dos produtos da empresa (parêntese necessário: uso softwares e hardwares Apple somente no trabalho, duas vezes por semana, na finalização do programa que eu produzo, no Final Cut Pro) é a seguinte: pra vídeo, áudio e fotos (NON PORTABLES, não tenho conhecimento da área de "portables" que o Hisham cita), ao menos dos softwares e hardwares que eu conheço, a Apple ainda é imbatível em estabilidade e desempenho, principalmente para áudio e vídeo.

    Sobre programação, não estou apto a falar. Sobre o mercado, concordo com o Roberto. Não dá pra controlar. Dá pra boicotar, como o Hisham está fazendo, mas... pode ser ignorância minha, mas deve ser muito mais fácil pra ele, programador competente que é, boicotar a Apple, do que pra alguém não-programador como eu. Me corrijam se eu estou errado, mas para um rapaz com baixo salário e nenhum conhecimento de programação como eu não resta muito a não ser esperar o mercado se mexer e reagir aos embates que estão se formando, para então procurar o produto com o melhor custo-benefício.

    ResponderExcluir
  8. Acho que como sempre está acontecendo equivocos, a Apple sempre foi a empresa que pensa muito no usuário, com essa jogada ela relamente quer que a qualidade final da plataforma seja de ponta e concordo com a atitude dela. Imagine você, desenvolveu uma plataforma nova, ok! uma serie de programadores fazem o que querem sem restrição, concerteza vira uma bagunça e um produto de pessima qualidade. Apple sempre foi sinonimo disso, qualidade. Se a microsoft no mundo dos pcs tivesse restringido a instalação do seu windows em hardware de qualidade duvidosa garanto que hoje teriamos um sistema operacional muito melhor do que é. Olhem, eu nem mac não tenho, tenho um dell, mais admiro muito a apple pelas suas atitudes, empresa que tem uma visão de mercado muito a frente de qualquer pessoa que acamos vendo isso somente ao passar do tempo. Um exemplo disso foi a unidade de disquete que deixou de existir nos primeiros imacs em 98, todo mundo criticou mais era uma visão que deu certo, apple estava na frente. Não sei se vocês reparam, mais das muitas novidades que a apple introduz no mercado, sempre acaba sendo copiada por outros fabricantes um tempo depois.

    ResponderExcluir
  9. Sobre Apple x Adobe...

    A Adobe vem se enterrando por conta própria no Mac há muito tempo. Tenho um MacBook desde o início de 2008 e desde então a Adobe se mostrou incapaz de produzir uma versão decente do plugin do Flash para Mac OS X. É um dreno de bateria. Um vídeo de 5 minutos no YouTube deixa a CPU em 70 graus, ventiladores a toda. Impraticável.

    Fazer um runtime para rodar coisas feitas em Flash num iPhone possivelmente teria um efeito semelhante. Mas esta parte é "achismo" meu.

    Achei interessante esse link: http://counternotions.com/2010/04/13/suicidal/

    Sobre desenvolvedores... já existiam restrições:
    1) pagar para ser developer e ter acesso a App Store
    2) ter um Mac Intel e trabalhar com XCode -- o que não acho tão ruim assim :-)

    ResponderExcluir
  10. pra inicio de conversa o q vc falou pra sue primo foi falacioso..nao eh como se fosse uma tv q so aceita final cut... explicar em
    poucas palavras uma questao complexa como essa pra um leigo eh ser muito simplista. assim como a adobe nao foi o unico motivo pra
    apple sobreviver aos 90's como aparentou ser no texto. e ate parece q o FF e o itunes sao portaveis, quem nao eh leigo sabe q tudo tem
    seus metodoszinhos optimizados pra SO+arquitetura destino.

    nao eh balela a questao da qualidade, vc sabe (ou deveria saber) q nao eh pq o soft X ou Y roda mais rapido mesmo na linguagem Z que
    isso vai ser uma consequencia logica de q C++ nao eh o fodao(eu ganho a vida com java ein, so pra constar). e mesmo q nao tivesse sido C,
    se fosse... LUA, mesmo assim pq a apple nao pode ser o gatekeeper de softs pra seus hardws ? ai vem a questao do 'e se a moda pega' ne...
    nao vou nem vir com "e o fato do windows jurar de pe justo q a particao ext2 nao existe ?" ou "cade meu apt-get no win?", pra questao do 'e se a moda pega'
    eu so tenho a dizer que no passado muitos ja juraram que a computacao ia pra o beleleu por X ou Y. apostas provaveis q foram pra o beleleu (e-market) e apostas
    improvaveis milionarias(google), sempre tem alguem q diz q "640k vai ser o suficiente pra todos" e sempre tem alguem q diz "po, da pra fazer $ com soft ao inves de com hard" (coisa sem precedentes antes de bill gates vender o basic pra ibm).
    ou seja, ninguem eh besta, as empresas fazem o q fazem pq tem 1001 cabecas foda de varias areas do conhecimento analisando o mercado. pode dar certo e pode dar merda... mas boicotar algo so pq vai contra uma
    religiao semi-GNU de q eles tao sendo maleducadinhos no campo ideologico me soa... precipitado :(

    nao eh impossivel q o mac-OS seja assim no futuro, assim como nao eh impossivel q o windows 8 seja C# puro, mas ai eu faco a pergunta de ouro:
    seria a microsoft capaz de fazer um SO competitivo se nao fosse com metodos em C/C++/assembly pra x86 (mesmo q só no kernel)??

    no desenv de games tb nao eh a cidade-paraiso da liberdade nao, a briga eh grande e feia!

    portar o itunes pro win nao eh um favor q a apple tem q retornar nao, eh uma oportunidade
    de crescimento de mercado q qq empresa capitalista com pensamento capitalista faria. claro
    q pode-se ter um pensamento "maddog" GNU de q na parsargada isso nao deveria acontecer, mas é dificil ser milionario por acaso ;)

    desculpa dizer, mas chipsets intel NAO fazem os macs serem so pcs bonitos e caros, tais sendo simplista de novo (isso é bom pra convencer leigos).

    a unica coisa q concordo de tudo q escrevesse é que a apple nao precisava recorrer a taticas de capitalismo selvagem pra ganhar mercado, ela poderia vencer pelas ideias, como ja fez 1001x... MAS, se ela quer ser suja, q seja, o tempo dirá, mas assim, a apple ganhando ou perdendo, nenhuma lei cosmica foi quebrada.

    ResponderExcluir
  11. Chico: como me disse uma amiga, dados os preços dos produtos deles, "boicotar a Apple" é a coisa mais fácil que tem. Nas palavras dela: "Aliás, também boicoto os produtos da Ferrari :-P" E sim, não há dúvida que eles fazem produtos excelentes -- e se a sua empresa já gastou pra torná-los disponíveis pra ti, não há por que não usar. Mas o meu dinheiro eles não vão ver enquanto continuarem com essas políticas. Não acho que eles façam nenhum produto que eu considere indispensável ou sem alternativas, seja telefone, computador, sistema operacional, tablet...

    ResponderExcluir
  12. Tenho um MacBook desde o início de 2008 e desde então a Adobe se mostrou incapaz de produzir uma versão decente do plugin do Flash para Mac OS X.

    O Flash pra Linux não é grande coisa também. Na real o Flash é uma tecnologia que meio que "se perdeu" quando começou a querer fazer tudo ao mesmo tempo. Meu palpite é que pra manter a liderança no maior mercado (Windows) eles correram com o feature set e as plataformas menores não têm os mesmos recursos pra desenvolvimento. Há uns tempos atrás andei até pensando que o Flash seria um forte candidato a ser o próximo grande "open sourcing" como foi o de Java, assim que o Gnash estivesse perto de assustar. O Flash teve uma longa vida como tecnologia de transição, mas está mais que na hora de HTML5 tomar o lugar. Só que a problemática do codec de vídeo tem que se resolver (mas há esperança).

    Fazer um runtime para rodar coisas feitas em Flash num iPhone possivelmente teria um efeito semelhante. Mas esta parte é "achismo" meu.

    Já tem Flash Lite que roda decentemente nos Nokias; não sei se esse produto que a Adobe estava pra lançar carregaria o legado todo do plugin desktop pro telefone. E mesmo se ficasse uma carroça, aí acho que eles iriam só queimar a si mesmos, e não a plataforma. De qualquer jeito, a Apple aprova as apps para a Store uma a uma. Se a questão fosse qualidade, não deveria fazer diferença como a app foi escrita, desde que atenda ao "padrão Apple de qualidade" de consistência, responsiveness, etc. É por isso que eu disse que o argumento de qualidade é balela.

    ResponderExcluir
  13. "E Deus disse: Faça-se a livre concorrência. Viu que o mercado era bom e resolveu comprar algumas ações antes de descansar."

    Gênesis, Cap. 1, vers. 32 e 33.

    ResponderExcluir
  14. Ae Gone! Beleza??

    pra inicio de conversa o q vc falou pra sue primo foi falacioso

    É uma plataforma onde conteúdo é aceito ou não em função da ferramenta usada para produzi-lo. Eu acho a analogia válida.

    explicar em
poucas palavras uma questao complexa como essa pra um leigo eh ser muito simplista.

    Concordo! Por isso escrevi esse texto.

    e ate parece q o FF e o itunes sao portaveis, quem nao eh leigo sabe q tudo tem seus metodoszinhos optimizados pra SO+arquitetura destino.

    É lógico que todo software grande tem parte específica de arquitetura, mas não se pode dizer que o Firefox não seja um software portável. Ele roda em trocentos sistemas, e olha quantos % do código são idênticos pra todas as plataformas. O iTunes não tem os fontes disponíveis, mas eu aposto as minhas fichas que não é uma reimplementação, e sim um port. O Safari, ao menos, tem boa parte dos fontes disponíveis e é, sim, um port.
    


    vc sabe (ou deveria saber) q nao eh pq o soft X ou Y roda mais rapido mesmo na linguagem Z que 
isso vai ser uma consequencia logica de q C++ nao eh o fodao

    Se a questão fosse "desempenho das linguagens", a Apple não teria colocado como uma das linguagens aprovadas justamente JavaScript. O desempenho das linguagens não é fator determinante na qualidade dos softwares produzidos. E como eu disse em outra resposta, de qualquer forma o processo de aprovação para cada app é individual.

    pra questao do 'e se a moda pega'
eu so tenho a dizer que no passado muitos ja juraram que a computacao ia pra o beleleu por X ou Y

    Sim, e eu não estou dizendo que "a computação" está indo pra lugar nenhum. Mas muitos já alertaram sobre movimentos dentro da indústria que consideraram nocivos. E muitos não ouviram, ou não se importaram. E por causa disso que as pessoas têm que viver com coisas como DRM hoje em dia.

    (continua)

    ResponderExcluir
  15. mas boicotar algo so pq vai contra uma 
religiao semi-GNU de q eles tao sendo maleducadinhos no campo ideologico me soa... precipitado :(

    Não acho precipitado. Não tenho por que fazer uso de produtos de uma empresa que emprega práticas que eu sou, sim, ideologicamente contra. A Apple não está sendo "mal-educadinha" ao impor as restrições que quiser uma vez que está no seu direito, legalmente falando. Mas eu também estou no meu direito de não querer fazer parte disso, e de querer informar os meus amigos a respeito. Não vejo precipitação.



    seria a microsoft capaz de fazer um SO competitivo se nao fosse com metodos em C/C++/assembly pra x86 (mesmo q só no kernel)??

    Qualquer pessoa que já estudou sistemas operacionais sabe que já no processo de bootstrap de um kernel é necessário código específico para o processador. Mas com o que isso tem a ver, mesmo? :)


    no desenv de games tb nao eh a cidade-paraiso da liberdade nao, a briga eh grande e feia!

    Sim! E isto foi parte do meu argumento: mesmo nesses ambientes não existem restrições como essa que a Apple está impondo. A linguagem interpretada Lua é extremamente bem-sucedida no mercado de jogos, onde o processo de aprovação é bem mais exigente que o da App Store. Scaleform é uma engine de gráficos baseada em Flash(!) que tem jogos publicados para PC, Mac, PSP, PS2, PS3, Wii e Xbox 360.

    Novamente: a questão não é a qualidade, e a questão não é o desempenho, como esses exemplos deixam claro. É uma mera estratégia de lock-in.

    

desculpa dizer, mas chipsets intel NAO fazem os macs serem so pcs bonitos e caros, tais sendo simplista de novo (isso é bom pra convencer leigos).

    Eu acho que eles são só PCs bonitos e caros, sim, sem simplificação. Posso instalar Windows ou Linux em um Mac. Posso instalar OSX (ilegalmente) em um Dell. Logo, tecnicamente falando, são plataformas de hardware tão equivalentes como um notebook Sony e um HP. Quando muito, daria pra apontar como diferença perceptível a EFI, mas isso não chega a ser relevante para os sistemas operacionais de hoje.



    a apple ganhando ou perdendo, nenhuma lei cosmica foi quebrada.

    Concordamos novamente! :) Eles só perderam um consumidor, e isso nem de longe é o fim do mundo.

    ResponderExcluir
  16. "a apple ganhando ou perdendo, nenhuma lei cosmica foi quebrada.

    Concordamos novamente! :) Eles só perderam um consumidor, e isso nem de longe é o fim do mundo."


    Ufa! Tava começando a ficar preocupado. :P

    ResponderExcluir
  17. Fim do mundo só é em 2012, não precisa ter pressa.

    ResponderExcluir
  18. Os programadores não parecem estar sozinhos nas reclamações às novas posturas da Apple. Já li um ou dois textos na "grande imprensa" que reclamavam, ainda que sem os detalhes técnicos, basicamente das mesmas coisas -- especialmente dos aplicativos em relação à plataforma.

    ResponderExcluir
  19. É o Flagg
    Recentemente o Steve Jobs admitiu usar mão de obra infantil em suas fábricas na China!!!

    ResponderExcluir
  20. Atualizando as notícias (valeu, @mascarenhas!)

    Pra quem achava que isso só afetaria o Flash (e outras grandes empresas como a Novell, com o seu MonoTouch que pelo visto agora deve ser ilegal também):

    Apple removes Scratch from iPad/iPhone/iTouch

    O Scratch é um projeto educativo do MIT para ensinar crianças a produzir mídia interativa. Como a mídia interativa que as crianças produzem não é feita com as linguagens sancionadas pela Apple (afinal, é feita, pasmem, com uma linguagem educacional), a distribuição desse software nas ferramentas Apple agora é proibida.

    Esse trecho é especialmente interessante:

    "Discussion on the Scratch forums suggests that it’s because Apple wants to focus on consuming media using these devices, not producing media."

    Prover autonomia aos usuários e promover conteúdo gerado pelo usuário não anda na agenda do dia, pelo visto. Isso me lembra as mudanças do Youtube, que já discutimos aqui no blog ano passado. Pelo visto o "negócio" é gerar uma massa de consumidores passivos, nem que seja impondo barreiras à produção.

    (É por essas que eu sempre digo que iniciativas educacionais baseadas em software proprietário não têm futuro: ao fazer isso só está se ensinando as pessoas a se tornarem mais dependentes dessas plataformas.)

    ResponderExcluir
  21. Ainda tem o AmigaOne com processador PPC pra substituir o teu G4...

    ResponderExcluir
  22. Hisham, mas a melhor forma de boicotar não seria tocando tudo que tiveres da Apple fora, ao invés de vendê-los incentivando seu uso?
    Moser

    ResponderExcluir
  23. Já pensei nisso, Sílvio, e decidi não jogar fora por uma série de motivos:

    * a venda de um produto usado não gera dinheiro para a Apple

    * o notebook é de uma linha descontinuada e não mais suportada pela Apple: as versões mais recentes do OSX não são mais lançadas pra PowerPC (mas Linux tem) -- assim sendo, o uso desse note não incentiva o uso da linha atual de produtos: ninguém que fique com o note terá como ir depois na loja da Apple comprar softwares extras pra ele, colateralmente gerando dinheiro para a empresa em função dessa venda.

    * realisticamente falando, acho difícil vender esse notebook: ele é útil pra quem porventura precise de um Mac para rodar algum software específico, por questão de compatibilidade. Ou seja, se o comprador não comprar o meu, irá comprar algum dos vários outros que tem no MercadoLivre de qualquer forma. Não estaria incentivando ninguém a passar a usar Apple com esta venda.

    * eu não tenho por costume sair jogando fora hardware que funciona, nem rasgando dinheiro, etc.

    * e, finalmente, embora "jogar fora um notebook por questões de princípios" fosse um gesto contundente, fazer isso não seria uma atitude sensata. E antes de tudo, quero deixar claro que minha manifestação nesse assunto é uma atitude sensata, e não movida por radicalismo.

    ResponderExcluir
  24. eu não tenho por costume sair jogando fora hardware que funciona

    Isso notamos graças ao valioso empréstimo daquele belo espécime do período Pré-Cambriano para o curta da oficina do Pontão de Cultura. ;D

    ResponderExcluir
  25. Isso notamos graças ao valioso empréstimo daquele belo espécime do período Pré-Cambriano para o curta da oficina do Pontão de Cultura. ;D

    EXATO! Falando nisso: cadê?? Quero assistir!

    ResponderExcluir
  26. Temos que fazer a montagem final -- que só não rolou ainda por desorganização minha. :(

    ResponderExcluir
  27. Nem sempre o usuário final é tão técnico e tem tanta preocupação global. Muitas vezes, ele está pouco ligando para o custo das coisas, seja a fatura enviada ao meio ambiente ou a algumas vidas (http://actualidad.rt.com/actualidad/internacional/issue_6975.html).
    No caso CDMAxGSM, por exemplo, me lembro das conversas cotidianas que muitos amigos abandonaram a Vivo pelo simples fato dos telefones não terem "chip".
    E acredito que o mesmo acontece com a Apple, que aos olhos leigos é leve, fashion e "que se dane o resto".

    ResponderExcluir
  28. "It comes with a dual-core PowerPC processor, conforming to the Power ISA 2.04 standard."

    Ué, continua sendo PPC, uma versão mais moderna, tá valendo....

    O assunto já tá velho, mas a apple ainda usa PPC G5 nos servidores, não usa?

    ResponderExcluir
  29. O assunto já tá velho, mas a apple ainda usa PPC G5 nos servidores, não usa?

    Xserve? Não.

    ResponderExcluir