segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Barreiras do debate: as pautas proibidas


Os comentários feitos pelos nobres colegas blogueiros Hisham e Ulisses em um post passado me encorajaram a escrever sobre um assunto que me incomoda algumas vezes: as barreiras do debate. Por que existem assuntos proibidos de serem discutidos? E por que, mesmo podendo-se debater, existe muitas vezes uma inibição ao se colocar contra alguma idéia?

Como se diz no popular, "política, religião e futebol não se discute... se respeita!" Ok! Respeitemos as diferenças... mas contrariar idéias é deselegância, falta de educação, pecado??? O problema está em como e com quem se debate o assunto. Pode-se conversar sobre futebol tranquilamente se existirem opiniões razoáveis sobre organização tática, qualidade dos jogadores, retrospectos das equipes, conhecimento das regras do jogo... mas geralmente os debates esportivos se tornam facilmente um bate-boca incontrolável. Em política é pior ainda, pois muitas vezes o choque de opiniões é precedido de interesses pessoais e partidários. Na religião o caso é mais grave ainda, já que duvidar de Deus ou dos dogmas religiosos é pecado e pode levar o sujeito diretamente ao inferno.

Na verdade, vejo que o grande problema em todos estes assuntos "proibidos" são as paixões e os interesses. As paixões fazem com que percamos o senso de realidade e tornemos o debate um jogo de ofensas pessoais. Já os interesses fazem com que não nos demos por vencidos e tentemos impor nossa opinião até o fim. Isto transforma a discussão em um jogo de ganha-perde, onde apenas um lado vence e o outro é sumariamente derrotado.

Contrariando essas idéias, acredito que todos assuntos são passíveis de debate. Principalmente se tratando de política e religião, onde esta cultura do "intocável" foi de certa forma imposta, afim de evitar que o sujeito comum pense muito sobre isso e acabe por se dar conta do quão ridículo são algumas idéias e ações praticadas nesses meios. Ao abrir a mente para novas opiniões e diferentes pontos de vista, com certeza crescemos intelectualmente. Podemos ver os defeitos de nossas crenças ou então reforçar nossas convicções. No momento em que deixamos de lado as paixões e os interesses, transformamos um jogo ganha-perde em um jogo ganha-ganha, onde as duas partes saem em vantagem. Além disso, uma discussão inteligente é um ótimo exercício de retórica e tolerância!

19 comentários:

  1. Ô Hisham, por que sempre eu e tu ficamos discutindo em lados opostos do ringue? Temos uma facildiade muito grande de não concordar com a opinião do outro. Fiquei me perguntando isso este fim de semana, tenho minhas teorias mas nenhuma delas me convence.

    E eu me policio nos debates se eu vejo que EU posso descambar pro bate-boca de "manter o argumento so por manter". Fico desapontado comigo mesmo nas ocasiões em que isso ocorre. Entro muito fácil neste tipo de discussão, e confesso que às vezes não tenho vontade de entrar no debate por causa disso (imagina se eu tivesse vontade sempre...).

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  2. Ô Hisham, por que sempre eu e tu ficamos discutindo em lados opostos do ringue?

    Pra começar, porque nós nos dispomos a entrar no ringue. :)

    Aposto que muita gente discorda assim como tu das coisas que eu escrevo, e muita gente discorda assim como eu das coisas que tu escreve, mas é raro essas pessoas aparecerem e (a) se sentirem à vontade para discordar francamente (b) se disporem a escrever-escrever-escrever a respeito.

    Temos uma facilidade muito grande de não concordar com a opinião do outro.

    Reparei isso esses tempos também. Também não tenho teorias que me convençam. Talvez sejamos simplesmente de escolas de pensamento diferentes em um nível filosófico muito de raiz, o que faça que, por propagação, sigamos divergindo dos galhos e folhas. Talvez tenha certa dose de dificuldade de comunicação pelo fato do nosso ferramental de conceitos ser diferente (muitas vezes as tuas discordâncias me parecem mais mal-entendidos, não raro por incapacidade minha de me fazer entender).

    (Ato falho hilário: relendo o parágrafo anterior me dei conta que escrevi "divertindo" ao invés de "divergindo". Talvez esteja aí uma explicação também: nossos debates fazem a diversão nossa e dos nossos amigos ;-) )

    Longos argumentos têm a tendência de descambar e em tempos passados eu me divertia com o aspecto "jogo" da coisa, na medida em que envolve lógica. Hoje eu não me importo com "perder ou ganhar discussões", mas sim em "atingir consenso" (quando se trata de decisões), "chegar na verdade" (quando se trata de uma questão factual) ou "entender a posição do outro" (quando se trata de opiniões).

    Hoje em dia a retórica não me atrai, e aliás, quando eu percebo eloquência sendo usada como ferramenta, sempre fico com dois pés atrás. Pior que usar retórica pra "vender ideias" (argh), é o uso de falácias -- isso sim me tira do sério e demanda do meu auto-controle. Com o passar do tempo consigo lidar melhor com isso.

    Sem querer soar como rasgação-de-seda-diplomática, o que eu posso dizer é que, todas as vezes que discordamos e debatemos aqui no blog, meu conceito de ti nunca caiu, o que é um bom sinal. Eu aprendo muito nessas discussões (seja com informação nova que os outros me passam, seja fazendo novas sinapses para tentar esclarecer meus próprios pontos) e é por isso que eu gosto delas.

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  3. Mas... falando em futebol, cadê o bola quadrada dessa semana??

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  4. A mente que se abre a uma nova idéia jamais voltará ao seu tamanho original - Albert Eistein

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  5. Talvez sejamos simplesmente de escolas de pensamento diferentes em um nível filosófico muito de raiz.

    Seria o lógico, mas tenho outros amigos assim e com quem não costumo debater tanto. Pode ser o gosto de debater com alguém "à altura" - tu é um contendor de peso, me faz pensar com calma no que eu não concordei para que eu possa expressar minha visão.

    Ou, talvez, pelo fato de termos uma certa característica em comum que pesaria mais que as diferenças: somos muito assertivos nos nossos argumentos, parecemos ter uma certeza inabalável do que falamos (mesmo que não tenhamos tanta assim, ou que sejamos suscetíveis a bons argumentos contrários).

    Aliás, o bom de ver perspectivas diferentes de mundo é um caminho excelente para derrubar os nossos conceitos pré-determinados do universo, a fim de contruir novos (depois que me provaram semana retrasda que existe uma árvore que dá sagu, não tenho mais nenhuma certeza na vida e estou dividando até da minha data de nascimento).

    Sei lá... Ainda bem que torcemos para o mesmo time! :D

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  6. Espero que a prova não tenha sido apenas o link da Wikipédia, pois afinal há controvérsias quanto a ele. Lendo a discussão referente e o histórico, fica claro que tem duas coisas diferentes que se chamam sagu, uma é a palmeira oriental, outra é o doce feito aqui com mandioca. :)

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  7. tenho outros amigos assim

    E agora explica essa parte. ;-)

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  8. Aquele paulista filho da puta me passou a perna, então...


    Tenho outros amigos assim = "de escolas de pensamento diferentes". Deixei espaço para outras interpretações? Nem notei, hehehe!

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  9. Tá virando viadagem essa discussão.

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  10. (Chico - provando não ser um debatedor "à altura" de Ulisses e Hisham)

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  11. Boa Chico!!! Finalmente apareceu alguém para acabar com essa frescura...

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  12. Pauta proibida não existe.

    E sim, eu sou o semeador da discórdia!

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  13. Nem tinha levado por esse lado! Queria ver se ele ia dizer "nerd", "cientista", "existencialista", ou sei lá o quê. :)

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  14. Sou essencialmente existencialista. E vocês?

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  15. ... eu sou tudo e nada ao mesmo tempo...

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  16. Putzgrila, eu tive que fazer uma busca no Google pra saber quem era essa criatura que tu linkou.

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