O filme
Distrito 9 é um dos sucessos inesperados de 2009. Feito com uma quantia irrisória para uma ficção-científica futurista (30 milhões de dólares, quase que exclusivamente usados nos seus efeitos visuais), o filme chamou a atenção dos fãs do gênero no mundo inteiro, por
escapar do padrão de sci-fi produzida normalmente por Hollywood (pelo menos na primeira metade; depois, vira um filme de ação típico), a começar pela ambientação da trama, que se passa em 2010: um gueto em Joanesburgo, na África do Sul, que abriga alienígenas que são distanciados do convívio com os humanos.
Apesar do aspecto de produção estrangeira, porém,
Distrito 9 é uma coprodução EUA e Nova Zelândia. De qualquer maneira, o lançamento da obra aqui no Brasil me lembrou que estas visões de futuros sombrios -- um subgênero de sci-fi que atende pela denominação de "ficção futurista" -- são encontradas com certa facilidade em outras cinematografias que não a hollywoodiana. Sempre obedecem, aliás, ao conceito de
distopia: o futuro é sempre corrompido, totalitário ou desesperançoso. Cada sociedade vê este contrário da utopia conforme os seus próprios princípios culturais, o que é uma excelente forma de entendermos o imaginário destes países. Então, com vocês, o Top Seven de filmes de ficção futurista feita longe de Hollywood:
7. Mad Max (idem, Austrália, 1979, direção de George Miller): quando pensamos em "futuro pós-apocalíptico", imaginamos a desolação do deserto australiano de
Mad Max. Não que fosse particularmente uma revolução -- road movies futuristas pulularam em toda a década de 70. Mas foi esta fita que conseguiu fugir do ar de filme B (ainda que a sua produção tenha sido precária -- até o carro do diretor foi usado nas perseguições), dando profundidade ao drama dos personagens. A sequência de 1981 é
considerada melhor -- e, a terceira parte, a mais
engraçada.
6. Planeta Selvagem (
La Planète Sauvage, Tchecoslováquia e França, 1973, direção de René Laloux): esta
animação lisérgica cult fala de uma raça de aliens gigantes, os Draags, que levam seres humanos (aqui chamados de Oms) para servir de animais de estimação em seu planeta. Com um visual absurdamente delirante (daria boas ideias para clipes do Pink Floyd), a produção começou na Tchecoslováquia, mas a equipe teve que levar o trabalho para a França, por conta de pressões políticas -- o filme, afinal, seria uma alegoria à
Primavera de Praga, ocorrida pouco tempo antes.
5. Stalker (idem, URSS e Alemanha Ocidental, 1979, direção de Andrei Tarkovsky): Tarkovsky é mais conhecido por
Solaris (que poderia estar nesta lista), mas
Stalker é tão instigante quanto. Um evento catastrófico de origem desconhecida cria uma região onde as leis da física não fazem sentido, conhecido como Zona, no centro da qual fica o Quarto, lugar onde as esperanças secretas se tornam realidade. A Zona é cercada por militares, e os únicos que conseguem entrar são os Stalkers, pessoas com poderes mentais que servem de guias para aqueles que querem chegar ao Quarto. O que parece uma trama de aventura vira um
filme contemplativo nas mãos do diretor, que investe na poesia das imagens.
4. Akira (idem, Japão, 1988, direção de Katsuhiro Otomo): na minha opinião, este anime é uma das melhores sci-fi já realizadas. O enredo se desenrola em Neo Tóquio, megalópole erguida sobre os escombros de uma guerra nuclear, misturando motoqueiros vândalos, terroristas messiânicos e um programa militar que usa crianças com poderes sobrenaturais como arma. A paranoia atômica do Japão é o tema de fundo, e a violência brutal, apesar (e talvez por isso mesmo) de se tratar de uma animação, chocou plateias no mundo inteiro. Foi o filme que, de fato, mostrou que a animação japonesa também era
coisa para adultos, gerando inúmeros animes de ficção-científica nos anos seguintes.
3. Daqui a Cem Anos (
Things to Come, Inglaterra, 1936, direção de William Cameron Menzies): se tem um país com tradição em criar futuros distópicos, esse é a Inglaterra, muito por conta
deste filme. Baseado num livro de H.G. Wells -- que, vejam só, também escreveu o roteiro --,
Daqui a Cem Anos traça a história da humanidade durante um século após uma hipotética Segunda Guerra Mundial (que não tinha acontecido ainda). A experiência daria fôlego para o cinema inglês produzir mais tarde filmes como
Laranja Mecânica,
1984,
Brazil - O Filme e, mais recentemente,
Filhos da Esperança.
2. Metrópolis (idem, Alemanha, 1927, direção de Fritz Lang): sem dicussão,
Metrópolis é um dos mais influentes filmes da História. De
Blade Runner a
Os Jetsons, de HQs a
bandas de rock, é quase impossível mesurar o tamanho do impacto que o filme tem até hoje. Seja pelo brilhantismo técnico dos seus
efeitos especiais artesanais, seja pelo
gigantismo da sua direção de arte, ou ainda pelo roteiro que criticava tanto o capitalismo como o comunismo, esta obra-prima é quase uma lenda. Tal status é incrível, se levarmos em conta que o filme não é visto pelo público na sua versão original há mais de 80 anos, passando por inúmeros cortes e tentativas de
remodernização de sua música. Diz-se, aliás, que era o filme favorito de Hitler (o que me parece lenda urbana). Ver
Metrópolis é essencial para a compreensão da cultura pós-moderna.
1. Abrigo Nuclear (Brasil, 1981, direção de Roberto Pires): Se fazer uma ficção futurista fora dos EUA é difícil, o que dirá se ela for feita no terceiro mundo? Sim, amigos, o Brasil também já produziu sci-fi! O diretor Roberto Pires era um sujeito engajado em criticar o uso de energia nuclear (depois deste filme, faria ainda
Césio 137 - O Pesadelo de Goiânia, baseado no agora esquecido caso de contaminação ocorrido em Goiás nos anos 80). Este
Abrigo Nuclear (se alguém achar o filme, me avise) mostra a humanidade abandonando a superfície, tomada pela radiação, para viver em subterrâneos (
Matrix copiou!). O filme é tão obscuro que mal se encontra
imagens ou informações dele na Internet.