Não sei se os caros solistas desafinados têm acompanhado este caso: na Escola Estadual Barão de Lucena, localizada na Vila São Tomé, em Viamão (região metropolitana de Porto Alegre), uma professora inovou na punição a um aluno anjinho, que pichou as paredes recém pintadas do colégio. O menor de 14 anos, aluno daquela belezura que só uma sexta série da rede estadual sabe ser, fez o ato de vandalismo logo após um mutirão da comunidade escolar, que visava exatamente reformar a pintura da escola.
Revoltada com o desrespeito, a professora Maria Denise Bandeira não teve dúvida: ao descobrir a autoria da pichação, deu tinta e rolo de pintar para o guri e o obrigou a ir de sala em sala, cobrindo os rabiscos com tinta. Outros alunos gravaram em celulares a punição e logo em seguida os revoltados pais entraram em ação e foram reclamar com a diretora -- e agora o caso está na Secretaria Estadual de Cultura (SEC).
Claro que as mais variadas impressões surgiram sobre o fato -- e, mais interessante de tudo, há um apoio mais ou menos velado à atitude da educadora. A comunidade em geral concorda, os especialistas da educação têm reservas, a SEC parece ter gostado da ideia e os pais estão apontado que seu filhote foi humilhado, não só com a punição, mas com xingamentos da professora, que o teria chamado de "bobo da corte".
Eu, como professor, fiquei mais atento a este acontecimento por conta de uma coincidência: assisti nesta semana a um dos melhores filmes que tratam da relação aluno-professore que eu vi na minha vida, o francês Entre os Muros da Escola (que eu comento mais detidamente neste outro texto). O que importa aqui é que a história é absolutamente realista e mostra uma triste verdade: nem sempre o professor é aquele super-herói que salva os alunos problemáticos. Às vezes, ele se perde nos seus erros.
A professora foi acusada de se exceder ao chamar o moleque de "bobo da corte". Quem dá aula (e quem tem boas lembranças de seu tempo de escola) sabe que isto não é nada comparado com o que um professor pode dizer em sala de aula. Eu sei por experiência própria, sou um educador que não mede muitos limites de imposição verbal para pôr ordem no recinto. Sempre lembro de uma história que me contaram, de uma professora que se dirigiu a uma classe barulhenta de maneira ponderada, dizendo: "vocês têm razão em não aprender... O mundo precisa de lixeiros, de empregadas domésticas, de motoristas de caminhão".
Aparentemente, o menino de 14 anos está traumatizado e não quer voltar à escola. Parece que já perdeu duas provas, inclusive. Eu, da minha parte, digo: que ótimo. Porque, se ele tem 14 anos e está na 6a série (em idade que se ingressa no ensino médio), ele nunca deu muita bola para provas mesmo. Em segundo lugar, me deixaria mais chocado se o anjinho estivesse indo à aula como se nada tivesse acontecido. Mostraria que ele está, de fato, perdido para a escola. Se o ato da professora acertou de tal forma a consciência do moleque, fazendo ele sentir tal vergonha de toda a situação, talvez ela tenha agido mais certo do que pensou num primeiro instante.
E, quem sabe, ao invés de ter perdido o aluno, deu a grande lição que ele precisava.
quinta-feira, 24 de setembro de 2009
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Eu como boa viamonense, filha de professora que escuta todos os dias o cotidiano de se dar aula em uma comunidade carente, com problemas sérios, com marginais vendendo seus “produtos” e atrocidades acontecendo, onde o professor ñ tem a mínima autoridade pq muitas vezes tem medo! To aplaudindo a atitude dessa professora e os professores de viamão estão radiantes! Afinal alguém teve peito pra colocar limite num guri de 14 anos, já que os pais não fazem, até pq tem que ficar bem claro, educação vem de casa!
ResponderExcluirÉ engraçado comparar como os jovens são bem tratadinhos hoje em relação à como meu pai conta que eram tratados os alunos no tempo dele. Não é de surprender que a deliquência hoje seja em números tão expressivos. Não há mais limites nem parâmetros de certo e errado. Apoio totalmente a professora. Vagabundo tem que ser tratado como vagabundo.
ResponderExcluirMe choca o fato de a mídia fazer todo esse alarde. A professor fez o que tinha de fazer. Afinal ela que manda ali no pedaço. Ela mesmo declarou que dois professores da mesma escolha já tinham sido agredidos por alunos. E apareceu algo na mídia? Poste agora pode mijar no cachorro e cachorro tem que ficar quieto e aceitar?
Concordo com a professora e bato palmas para ela! Acho um absurdo isso! E concordo com as palavras do Uli.
ResponderExcluirSó tem uma coisa que me faz pensar um pouco. A tal professora que vc citou que tentou agredir a moral dos alunos falando de diversas profissões, que digamos, hoje não exigem alguma escolaridade. Eu tenho como regra que toda profissão é digna. Antes trabalhar dignamente do que roubar ou pedir esmola.
Mas tirando essa questão das profissões, sempre achei que a melhor maneira de dar uma "sacudida" em algmas pessoas não é batendo e nem xingando com palavrões, mas sim "agredir" a moral dela! Querendo ou não, é assim que a coisa anda. As pessoas só se "mexem" quando tem a sua moral afetada.
Voltando ao texto do Uli, eu tenho a mesma visão. Essa professora talvez não tenha perdido um aluno, mas sim ganho um cidadão!
Que voltem as tampinhas de garrafas e o milho.
ResponderExcluirÉ absurdo um professor agredir um jovem desta forma. O menino queria apenas se expressar. Quem sabe ele não seria um novo Toniolo. Depois desse trauma, duvido que o garoto consiga seguir na arte da depredação do espaço público. Pode ser que tenhamos perdido para sempre um grande delinquente que poderia ajudar a quebrar os paradigmas da vida em uma sociedade de direito.
ResponderExcluirApós refeito do acesso de riso ao que fui acometido pelos comentários do Guto e do Roberto posso fazer o meu.
ResponderExcluirA escola só errou num quesito: tinha que ter cobrado a tinta dos pais do ofendido "estudante"!!!
Justamente essa semana me mandaram essa charge:
ResponderExcluirhttp://miriamsalles.info/wp/?p=4116
Acho que tem bastante a ver.
As crianças de hoje em dia são criadas com muita frescura. Os pais têm medo de falar com os filhos, ainda mais com os pequenos.
ResponderExcluirÉ a "coisinha mais fofinha" o bebê dando "tapinha" na cara do papai e da mamãe...todo mundo ri e acha lindo! Aí quando estão crescendo acham que tudo pode, totalmente sem limites!
Quando eu era criança, as professoras mandavam limpar todas as semanas a mesa que a gente riscava! Não tenho nenhum trauma por isso!
Essa professora fez muito bem e concordo que a escola deveria ter cobrado a tinta dos pais.
Se ele não recebe educação em casa, alguém precisa realmente educa-lo.
E tenho dito!!! hahaha
Coutinho,
ResponderExcluirAs paredes haviam sido pintadas em mutirão dias antes pelos próprios alunos, pintura esta da qual o pixador não participou. Minha dúvida é, se ele queria se expressar porque esperou que todo mundo dedicasse seu próprio feriado na pintura?
Gustavo Pohl,
Que comentário mais viadinho o teu. Não sou nem um pouco à favor de punições como as citadas por ti. Não pense que o fato de acharmos justo que punições existam como forma de educação signifique que queremos ser desumanos e castigar da forma que tu afirmou.
Fabio, ambos estão sendo irônicos ;)
ResponderExcluirFábio, o Coutinho é o rei das galhofas. Eu mesmo ri durante MUITO tempo com este comentário dele -- aliás, não sabia que o tal Toniolo era um sujeito de carne e osso. :D
ResponderExcluirA Raquel disse uma coisa muito certa: também tinha que, de tempos em tempos, limpar a classe. Lembro de uma outra ocasião, que a minha turma de 1o do médio (na época, segundo grau) foi coagida a entregar os responsáveis por arrancar as placas de tombamento de patrimônio das classes. Como todo mundo tentou se proteger, a turma INTEIRA foi suspensa, apesar da chiadeira de alguns pais que reclamaram de injustiças contra seus anjinhos.
Miguel, a tua charge realmente resume a situação. Hoje, o professor vive à beira de um colapso nervoso (mais do que antigamente) por viver com estas imensas pressões.
Certo! Obrigado pelos esclarecimentos. Na verdade eu só conheço mesmo o Jean e o Hisham deste grupo então não estou à par das personalidades e posições de cada um. Mas bom saber! Na próxima oportunidade estarei ciente!
ResponderExcluirE considerando o comentário como ironia, realmente é bem engraçado! Aliás, eu não tinha seguido o link do Toniolo!
HAHAHA... Isso aqui ta muito divertido, o Roberto estava certo em me dizer para comentar! Polêmica em cima de polêmica, hehehe... Eu já tinha recebido essa charge, até imprimi pra minha mãe colar na secretaria da escola, uma pequena indireta! :D
ResponderExcluirConcordo com o Flagg eles deveriam ter mandado a conta da tinta para os pais, bem parecida com a China em que eles matam o condenado e mandam o custo da bala para os familiares. Mas deixemos os requintes de crueldade para os chineses!
Exato, Maísa, também lembrei da China! :D
ResponderExcluirSe a tua mãe conhecer a professora, manda dizer que ela recebe total incentivo do Sol Desafinado, hehehe!
Isso me lembra meu 1º grau no Espirito Santo, eu e um colega (Diego, o Jean conhece) pichamos a frente do colégio, mas não nos obrigaram a pintar nada!
ResponderExcluirMas falando sério, na época pareceu "legal" fazer aquilo, o colégio é de freira e elas eram muito cheias de frescura! Foi tipo um "protesto" com elas.
HAHAHAHA...Agora os podres começam vir à tona! Quem ñ tem teto de vidro q atire a primeira pedra! Hauhauhaua...
ResponderExcluirUli, vou passar o link pra minha mãe passar pra ela, de repente ela dá uma olhada aqui e vem palpitar tb!!!
Mas seria uma grande honra, Maísa! Faça isso, por favor!
ResponderExcluirFabio Utzig, primeiramente sou Guto e não Gustavo.
ResponderExcluirO tom realmente foi de brincadeira.
O fato é acho que tudo depende de que lado da "corda" você se encontra...