quinta-feira, 22 de outubro de 2009
Top Seven: Ficções Futuristas fora de Hollywood
Postado por
Ulisses
às
16:48
O filme Distrito 9 é um dos sucessos inesperados de 2009. Feito com uma quantia irrisória para uma ficção-científica futurista (30 milhões de dólares, quase que exclusivamente usados nos seus efeitos visuais), o filme chamou a atenção dos fãs do gênero no mundo inteiro, por escapar do padrão de sci-fi produzida normalmente por Hollywood (pelo menos na primeira metade; depois, vira um filme de ação típico), a começar pela ambientação da trama, que se passa em 2010: um gueto em Joanesburgo, na África do Sul, que abriga alienígenas que são distanciados do convívio com os humanos.
Apesar do aspecto de produção estrangeira, porém, Distrito 9 é uma coprodução EUA e Nova Zelândia. De qualquer maneira, o lançamento da obra aqui no Brasil me lembrou que estas visões de futuros sombrios -- um subgênero de sci-fi que atende pela denominação de "ficção futurista" -- são encontradas com certa facilidade em outras cinematografias que não a hollywoodiana. Sempre obedecem, aliás, ao conceito de distopia: o futuro é sempre corrompido, totalitário ou desesperançoso. Cada sociedade vê este contrário da utopia conforme os seus próprios princípios culturais, o que é uma excelente forma de entendermos o imaginário destes países. Então, com vocês, o Top Seven de filmes de ficção futurista feita longe de Hollywood:
7. Mad Max (idem, Austrália, 1979, direção de George Miller): quando pensamos em "futuro pós-apocalíptico", imaginamos a desolação do deserto australiano de Mad Max. Não que fosse particularmente uma revolução -- road movies futuristas pulularam em toda a década de 70. Mas foi esta fita que conseguiu fugir do ar de filme B (ainda que a sua produção tenha sido precária -- até o carro do diretor foi usado nas perseguições), dando profundidade ao drama dos personagens. A sequência de 1981 é considerada melhor -- e, a terceira parte, a mais engraçada.
6. Planeta Selvagem (La Planète Sauvage, Tchecoslováquia e França, 1973, direção de René Laloux): esta animação lisérgica cult fala de uma raça de aliens gigantes, os Draags, que levam seres humanos (aqui chamados de Oms) para servir de animais de estimação em seu planeta. Com um visual absurdamente delirante (daria boas ideias para clipes do Pink Floyd), a produção começou na Tchecoslováquia, mas a equipe teve que levar o trabalho para a França, por conta de pressões políticas -- o filme, afinal, seria uma alegoria à Primavera de Praga, ocorrida pouco tempo antes.
5. Stalker (idem, URSS e Alemanha Ocidental, 1979, direção de Andrei Tarkovsky): Tarkovsky é mais conhecido por Solaris (que poderia estar nesta lista), mas Stalker é tão instigante quanto. Um evento catastrófico de origem desconhecida cria uma região onde as leis da física não fazem sentido, conhecido como Zona, no centro da qual fica o Quarto, lugar onde as esperanças secretas se tornam realidade. A Zona é cercada por militares, e os únicos que conseguem entrar são os Stalkers, pessoas com poderes mentais que servem de guias para aqueles que querem chegar ao Quarto. O que parece uma trama de aventura vira um filme contemplativo nas mãos do diretor, que investe na poesia das imagens.
4. Akira (idem, Japão, 1988, direção de Katsuhiro Otomo): na minha opinião, este anime é uma das melhores sci-fi já realizadas. O enredo se desenrola em Neo Tóquio, megalópole erguida sobre os escombros de uma guerra nuclear, misturando motoqueiros vândalos, terroristas messiânicos e um programa militar que usa crianças com poderes sobrenaturais como arma. A paranoia atômica do Japão é o tema de fundo, e a violência brutal, apesar (e talvez por isso mesmo) de se tratar de uma animação, chocou plateias no mundo inteiro. Foi o filme que, de fato, mostrou que a animação japonesa também era coisa para adultos, gerando inúmeros animes de ficção-científica nos anos seguintes.
3. Daqui a Cem Anos (Things to Come, Inglaterra, 1936, direção de William Cameron Menzies): se tem um país com tradição em criar futuros distópicos, esse é a Inglaterra, muito por conta deste filme. Baseado num livro de H.G. Wells -- que, vejam só, também escreveu o roteiro --, Daqui a Cem Anos traça a história da humanidade durante um século após uma hipotética Segunda Guerra Mundial (que não tinha acontecido ainda). A experiência daria fôlego para o cinema inglês produzir mais tarde filmes como Laranja Mecânica, 1984, Brazil - O Filme e, mais recentemente, Filhos da Esperança.
2. Metrópolis (idem, Alemanha, 1927, direção de Fritz Lang): sem dicussão, Metrópolis é um dos mais influentes filmes da História. De Blade Runner a Os Jetsons, de HQs a bandas de rock, é quase impossível mesurar o tamanho do impacto que o filme tem até hoje. Seja pelo brilhantismo técnico dos seus efeitos especiais artesanais, seja pelo gigantismo da sua direção de arte, ou ainda pelo roteiro que criticava tanto o capitalismo como o comunismo, esta obra-prima é quase uma lenda. Tal status é incrível, se levarmos em conta que o filme não é visto pelo público na sua versão original há mais de 80 anos, passando por inúmeros cortes e tentativas de remodernização de sua música. Diz-se, aliás, que era o filme favorito de Hitler (o que me parece lenda urbana). Ver Metrópolis é essencial para a compreensão da cultura pós-moderna.
1. Abrigo Nuclear (Brasil, 1981, direção de Roberto Pires): Se fazer uma ficção futurista fora dos EUA é difícil, o que dirá se ela for feita no terceiro mundo? Sim, amigos, o Brasil também já produziu sci-fi! O diretor Roberto Pires era um sujeito engajado em criticar o uso de energia nuclear (depois deste filme, faria ainda Césio 137 - O Pesadelo de Goiânia, baseado no agora esquecido caso de contaminação ocorrido em Goiás nos anos 80). Este Abrigo Nuclear (se alguém achar o filme, me avise) mostra a humanidade abandonando a superfície, tomada pela radiação, para viver em subterrâneos (Matrix copiou!). O filme é tão obscuro que mal se encontra imagens ou informações dele na Internet.
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Adorei o post! E cada vez tenho mais curiosidade de assistir Metropolis...
ResponderExcluirEu sei de outro fã de Metrópolis que é o Roberto, tô esperando alguma declaração dele, hehehehe!
ResponderExcluirE Hisham, tu sabe me dizer qual foi a duração da versão de Metrópolis que tu viu, e qual era o tipo de trilha sonora?
To meio por fora. Acho que só assisti o Mad Max dessa lista :(
ResponderExcluirHehehehe, não precisa se martirizar, Jean. Alguns destes filmes são bem obscuros e de acesso mais difícil. Mas eu te sugiro que assista "Akira" meio que imediatamente, porque é muito bom e tem uma das trilhas sonoras mais curiosas que eu já ouvi num filme (baseada em percussão e coros onomatopaicos), como mostra este exemplo, ou este aqui.
ResponderExcluir(sério, aposto que tu vai gostar).
ResponderExcluirAkira era uma HQ, no meu segundo grau tinha um maluco viciado nas histórias, nunca dei muita bola, agora até fiquei curioso.
ResponderExcluirNunca viu Blade Runner Jean?
Exato, Fábio, era uma HQ, que aliás foi escrita pelo próprio diretor do filme, Katsuhiro Otomo.
ResponderExcluirE Blade Runner é aquela coisa... Melhor perguntar qual dos Blade Runners a pessoa viu, já que tem três versões dele, hehehe!
A versão com o Harison Ford, que deve ser a mais "popular"....
ResponderExcluirPois é exatamente este o problema, Fábio: tem três versões do mesmo Blade Runner com o Harrison Ford: as dos cinemas de 1982, o "director's cut" de 1992 e o "final cut" de 2007. Tem um dvd com as três versões.
ResponderExcluirEu vi há muito tempo a versão que passava na TV (que deve ser a de 1982, a do final tosco que eu nunca gostei embora adorasse o resto do filme e tivesse ele gravado da TV em VHS) e esse ano num ciclo de cinema da UFRGS a versão de 2007. Saí de alma lavada.
ResponderExcluirSobre a versão de Metropolis, a que eu assisti foi a Restored Edition de 2002(?), que usa a trilha original da première.
Tem a versão também do TV Pirata… o Caçador de Andróides invadindo a novela “Fogo no Rabo”
ResponderExcluirAe Ulisses, demorei mas comentei...
ResponderExcluirJá que instigou, Metrópolis é um filme excelente! Pena ser um tanto cansativo, por ser mudo e ter em torno de 2h de duração. Mas de qualquer forma, é impressionante pelos efeitos visuais, o trabalho e a quantidade de gente envolvida, além do enredo. Inclusive se alguém quiser, eu tenho a versão restaurada com a trilha sonora original! Porque aquela trilha que colocaram nos anos 80 é horrorosa...
O abrigo Nuclear não vi, mas fiquei muito curioso. Assisti apenas Césio 137 - O Pesadelo de Goiânia.
Sobre os filmes citados no texto do "Daqui a Cem Anos"... nem vou falar do Laranja Mecânica. Na minha opinião, todos deveriam ser obrigados a assistirem... Gostaria de dar destaque para 1984, baseado na excelente obra homônima do também excelente escritor George Orwell. Pena que o temido "Big Brother" foi depois esculhambado pela Endemol.
Menos mal, Hisham. :)
ResponderExcluirAgora, tenho duas confissões a fazer: 1) eu não gosto de Blade Runner e 2) eu prefiro a versão com "final tosco" - não por causa do final tosco, acho o filme como um todo mais consistente. Mas ainda assim não gosto. :P
E Roberto, tu assistiu o Césio 137???????? Como e onde????
Sobre o Metrópolis, imaginem que a versão original tinha três horas e meia! E achar o filme meio cansativo pode ser explicado pela nossa estranheza em não ouvir nem diálogos nem efeitos sonoros. O filme nos obriga a usar apenas o olhar.
Aliás, se achava que a versão original de três horas e pico estava perdida para sempre, até ser achada uma cópia completa ano passado na Argentina.
ResponderExcluirSobre o uso do Big Brother pelo programa, transformado um termo usado de maneira crítica e mordaz numa... bem, na falta de um termo melhor, numa tolice, me parece algo de muito mau gosto. Mas talvez o cara que tenha tido esta ideia seja mais avançado que nós e deu esta denominação para autocriticar o que ele inventou, quem sabe? Hehehehe.
Vi o filme do Césio no Canal Brasil certa vez que estava convalescendo de uma forte gripe...
ResponderExcluirOutra curiosidade sobre 1984 que esqueci de comentar anteriormente são as cenas que se passam na Battersea Power Station, usina termoelétrica que aparece na capa do album Animals do Pink Floyd.
Ainda sobre o mau uso do nome Big Brother, acho triste quando tomam grandes obras de gênios artísticos e as vulgarizam. Vide Pour Elise de Beethoven, que virou toque de espera nos telefones nos anos 90.
FÜR Elise, mein Junge!!! :)
ResponderExcluirEntschuldigung...
ResponderExcluirÉ que quando eu tocava essa música, tinha uma partitura francesa. Mas então fica "Per Elisa" do "Ludovico di Beethoven", já que foi feita em homenagem a uma italiana.
Caros amigos, talvez por ser mais "vintage" que vocês eu posso acrescentar que o sacrilégio com FUR Elise começou nos anos 80 com aqueles descansos de telefone que usávamos pra por o gancho quando íamos chamar alguém pra atender e ficava tocando a maravilhosa obra de Beetoven!
ResponderExcluirUlisses, teu desgosto por Blade Runner é só picuinha pessoal ou tu acha o filme pouco consistente mesmo?
ResponderExcluirEu simplesmente não curto o filme. Ele não funcionou comigo enquanto espectador... Acho o ritmo, a montagem, a ambientação, as atuações, tudo muito estranho e artificial. Entendo a grandeza atribuída a ele, mas não é um filme que eu goste de ver.
ResponderExcluirBem... Ulisses valeu pelo post, muito legal.
ResponderExcluirCom excessao de madmax que assisti no cinema em tres coroas em 1980(podem me chamar de véio), quando eu tinha 10 anos de idade e passei mal vendo pois como era piá fiquei chocado com as cenas de violencia, nao assisti nenhum deles, mas já to correndo atrás pra assistir. Acabei de baixar o Planeta selvagem, só porque tu falou da viajem lisergica e referenciou o Floyd, me atraiu primeiro. amanhã vou assistir. vou comecar a baixar os outros agora. Acho que vou atrás de Metropolis agora, só espero não ver Freddie Mercury no filme. Valeu.
Moser
Ulisses,
ResponderExcluireu tenho tanto Abrigo Nuclear como Césio 137 em DVD. Se quiser ainda, entre em contato comigo alexisgois@gmail.com
Abraços
Aléxis