quarta-feira, 11 de novembro de 2009

A glorificação da tosquice no cinema nacional

Série de emails hoje à tarde, iniciada pelo Ulisses, intitulada "O maior mestre do cinema nacional":

Ulisses: Eu sempre achei que um cara que faz este tipo de filme merece um reconhecimento legendário:
Eu não sei o que é melhor: se a escolha do elenco (Nuno Leal Maia rules!!!), se as participações musicais, se as histórias clichês ou se o absurdo geral das encenações (como o strip da... bem, vejam os trailers).

Roberto: ehuaehuaheuhauehuae... E a sinopse das Sete Vampiras é genial!!! "Depois de ver seu marido ser devorado por uma planta carnívora..."

Hisham: Já eu sempre achei chatíssima essa mania que as pessoas têm de glorificar a tosquice no cinema nacional!

Ulisses: E eu, chatíssimo quem leva a sério uma ironia. ;D

Hisham: É que eu achava que a glorificação da tosquice nacional era uma grande piada... até que criaram o Canal Brasil! :)

Chico: HAHAHAHAHHAHAHAHAHAHHAHAHHAHAHAHAHA

Ulisses: HAHAHAHAHAHAHA, tem razão, o Canal Brasil é como um Popular do Terra do cinema nacional.
Aliás, uma das coisas mais toscas que eu vi na minha vida foi no Canal Brasil, chamava-se "Aluga-se Moças", tinha como estrelas a Gretchen e a Rita Cadilac (a última dando a bunda dentro dum fusquinha, vinte anos antes da carreira pornô).
Apesar de filme tosco ser produzido no mundo inteiro, acho que só no Brasil ele pode ser encarado de três formas:
  1. o tosco que quer fazer coisas boas mas não tem nem dinheiro nem know-how (como o Mojicão);
  2. o tosco que o é por diversão (este Ivan Cardoso);
  3. o intelectual que acredita que a tosquice é um ideal estético elevado, que visa subverter um padrão pré-estabelecido pelas artes elitistas, conservadoras, caretas e por aí vai, e que usa esta justificativa pra preencher sua carreira com bobagens inigualáveis que alguns batem palmas (como o Glauber).
Chico: Melhor definição já feita NA HISTÓRIA para o Glauber Rocha.

19 comentários:

  1. E digo mais: nas cadeiras de cinema na Unisinos, eu era meio que "persona non grata", porque era o único que tinha coragem de dizer que não gostava de Glauber Rocha e/ou Cinema Novo.

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  2. Muito obrigado, Chico.

    Na verdade, para quem ainda não sabe da minha posição em relação ao Cinema Novo, aproveito para deixar bem claro: o movimento foi uma chaga para a nossa produção cinematográfica -- não tanto pela ruindade dos filmes em si (o Nelson Pereira dos Santos até que fez coisas com um certo valor), mas sim pela atitude fora dos sets dos cinemanovistas.

    Entre elas, as campanhas de desqualificação que eles promoviam contra diretores de outras vertentes: o recém-falecido Anselmo Duarte, por exemplo, único brazuca a ter um filme a ganhar a Palma de Ouro e o primeiro a conseguir uma indicação ao Oscar, retirou-se num auto-exílio graças às criticas de gente do Cinema Novo.

    Outra é que, apesar do lema libertário "uma câmera na mão, uma ideia na cabeça" (todo mundo sabe o complemento, né?), os cineastas cinemanovistas foram os que mais rapidamente abraçaram a criação da Embrafilme, produtora estatal sob o comando do regime militar, instituindo de vez a cultura de um cinema mantido pelo dinheiro público e sem necessidade de retorno à população. Subversivos, aham, tô sabendo.

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  3. Mas, só para perguntar, mas o Nuno Leal Maia seria garantia de tosquice num filme?

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  4. Pois esse era um dos meus argumentos quando alguém vinha querer desqualificar a minha opinião. O problema é que a maioria (MAIORIA, não todos) dos defensores do Cinema Novo gosta dos filmes do movimento porque a maioria (MAIORIA, não todos) dos "entendidos" bota o Glauber Rocha e sua patota num pedestal. Só que ninguém se interessa em estudar realmente o que foi o movimento, senão ficariam sabendo de todas essas podreiras.

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  5. E só pra responder: SIM, Ulisses. NLM É TOSCO.

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  6. Apesar de todas as tosquices de sua vida, Nuno Leal Maia teve sua redenção no mais antológico papel de sua carreira: Gaspar Kundera em "Top Model", novela das 7 de 1989 (meu deus, vinte anos atrás!!!) -- Gaspar é um hippie remanescente de sua geração - um surfista quarentão que mora em frente à praia e cuida dos jovens filhos (Elvis, Ringo, Jane Fonda, Olívia e Lennon) que teve com mulheres diferentes, numa relação de amor, compondo uma família harmoniosa, mesmo com a ausência das esposas que o abandonaram. Outra coisa que eu lembro eram os flashbacks onde Gaspar se lembrava da sua banda de rock na juventude, "Os Besouros". :)

    Vale a pena ler o resto do resumo do enredo na Wikipedia, que conta ainda com Malu Mader como a mocinha, Cécil Thiré como o vilão yuppie e Taumaturgo Ferreira como o grafiteiro problemático. Nada pode ser mais 1980s.

    Não deixem de conferir também as tracklists das trilhas sonoras nacionais e internacionais, que além da imperdoável (e infelizmente inesquecível) versão de Kiko Zambianchi para "Hey Jude", vai desde Cascavelletes até "Heaven" do Warrant(!), que era o tema da personagem de Suzy Rêgo, chamada Carla Pinto (coincidência?).

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  7. Bah gente! Até pode ser uma tosquice... mas me diverti muito! Fiquei pensando em que tipo de seres abomináveis, as mulheres enjauladas se transformaram (No meu pc o vídeo fica muito escuro) - “dominadas pela sanha bestial de seus donos e senhores” Huahuahauhauhauhau...

    E a o anúncio do atores: “Regina Case: Uma empregadinha para todo o serviço!” HUAHUAHAHA...Genial!

    Além é claro do “Pode o amor e paixão durar 30 séculos!?” Realmente este é um segredo que as múmias levaram para a tumba, hauhauhauahuahua...

    Adorei o tema!!! Vou ver os outros trailers! :D

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  8. Ah, que é engraçado, é! Com certeza!

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  9. Maísa, não é teu computador que está com problema na imagem, é que a fotografia do filme é ruim de lascar mesmo. :D

    Do trailer da "Múmia", a melhor parte para mim é quando o narrador orgulhosamente proclama: "pela primeira vez cenas do antigo Egito num filme nacional", ou coisa assim.

    Mas o mais incrível é que a Luci aqui LEMBRA da música das "Sete Vampiras", e que ela, criança, queria ir no cinema ver o filme da música. Foi salva pela sensatez da mãe. :D

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  10. Cara, que é engraçado é. Mas como o Uli comentou, acabou com todo o conceito do cinema nacional.

    Isso me lembra até um papo que tive com o Chico qdo visitamos o museu da língua portuguesa em SP. Lá tem um vídeo extremamente produzido e de muito bom gosto, feito nacionalmente.

    Como comentei com o Chico, aquilo me deu uma ponta de esperança de que nem todo Cinema no Brasil está perdido.

    Claro que tivemos excelentes filmes. Mas não é a isso que me refiro. Falo do fato de todo mundo achar que o cinema nacional é ruim por default. E isso vai até de encontro a um post do Hisham sobre as olimpiadas do Rio, falando que brasileiro acha que tudo que é de fora é melhor.

    No caso do cinema pode ter sido um dia, mas a coisa tá mudando, e bastante!

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  11. E o cinema nacional não é ruim por default???

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  12. O Gritador é nacional e é maravilhoso.

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  13. Eu quase coloquei esse comentário. Mas daí eu entendi a mensagem subliminar do Roberto.

    A priori (por default) é ruim. Nada impede de tu olhar o filme e gostar no final.

    E é disso que eu tava falando. Parece q tudo que é feito no Brasil, a priori, é ruim. Barreira de preconceito!

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  14. O Gritador é uma das melhores produções do cinema nacional!!!

    Tem alguns filmes bons, mas são fora do padrão. Ultimamente tem melhorado bastante. Mas ainda existem algumas coisas imperdoáveis, como o áudio por exemplo.

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  15. Hahahaha... Eu desconfiei q podia ser com o filme, mas preferi abstrair, hauhauhauhauh...

    Sim Uli, esse trecho tb me chamou bastante a atenção, aliás, várias coisas me chamaram a atenção, mas se for listar ficará muito comprida! :P

    O cinema Nacional tem melhorado muito, e tb temos q dar um desconto em relação à comparação, eles tem uma tremenda estrutura, grana a perder de vista e apoio, bom vcs sabem melhor do q eu! Pobre dos nossos cineastas!

    Vcs são vaidosos!!! Huhauhauhauhauhauha... Ok, ok, O Gritador é muito bom mesmo! Eu até tinha comentado com o Uli, que fiquei surpresa quando assisti, não estava esperando um filme tão bom! Viu, o cinema nacional está se recuperando! ;)

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  16. O que costumamos esquecer (comentei antes, mas vou deixar claro) é que filme ruim é produzido às carradas em todos os lugares do mundo. Não é só porque os últimos três filmes alemães recentes que eu assisti são fantásticos que o cinema germânico não produz bobagens.

    By the way, ninguém produz tanto filme ruim como os EUA, mas é pelo mesmo motivo que eles fazem filme bom como ninguém: a estrutura de indústria. E eles tem a esperteza de saber quais artifícios usar para fazer com que tu pense ter assistido a um bom filme quando tu viu uma bobagem (como é o caso do Transformers ou Independence Day).

    A respeito da nossa produção tosca, é legal ver o que os estrangeiros têm a dizer sobre o caso.

    E Ninho dos Pequenos também é genial. :D :D :D

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  17. Não consegui postar o link que eu queria, vai no seco mesmo: olhar estrangeiro sobre nossa tosquice:

    http://www.youtube.com/watch?v=wa5pOsljMik

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  18. Eles gostam lá fora! Então deve ser bom!

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