Nesta semana foi ao ar aqui na Irlanda um programa chamado Ross Kemp on Gangs, da Sky, e o lugar da vez era o nosso cartão postal, o Rio de Janeiro.
Definitivamente a intenção do repórter era mostrar como REALMENTE a coisa acontece, e não como é documentado pelos "Globo Repórter" da vida...
As entrevistas iniciaram com o taxista do aeroporto, que explicou o era a "Faixa de Gaza", passando pelos moradores das favelas, pelos vigias, que sao os soldados que protegem a comunidade da policia e das facções rivais, chegando ao Dono do Morro, e posteriormente, encontrando em um presídio o ilustre fundador do Comando Vermelho (70's).
O legal é que para cada informação obtida do lado dos bandidos, era buscado o "recontra-puxa" do lado dos policiais, ex:
Ross: "Como os bandidos tem acesso a um armamento tao poderoso?"
Policia: "As armas provem de contrabando da Colômbia e Paraguai..."
Ross: "Como vocês conseguem todo este armamento?"
Tráfico: "As armas vêm diretamente da polícia..."
Ross: "Os criminosos afirmam que as armas são fornecidas pela própria polícia, você confirma?"
Comandante Geral da PM: "ahhhh, erhhh, sim, eles roubam a polícia nos confrontos..."
Agora, o fato que sinceramente me deixou mais assombrado, foi o business que rola no morro entre Facção A x Polícia x Facção B.
Sempre que a polícia invade o morro, a ordem é matar os "soldados" e capturar o Chefe do Tráfico, pois não há vagas nos presídios e somente este segundo tem valor comercial. Tendo a posse do Chefão, a polícia solicita um valor X para o resgate, enquanto ao mesmo tempo o "sequestrado" é oferecido por um valor mais gordinho à facção rival, e quem pagar mais leva! O detalhe é que se a facção rival ganha o leilão, o ex-Chefe (a estas alturas) é entregue literalmente picadinho. Muitas vezes envia-se apenas a cabeça do dito cujo.
Este repórter fez matérias em diversas áreas de risco ao redor do mundo, entrevistando desde os piratas que recentemente andaram sequestrando navios petroleiros americanos até as milícias no Timor Leste e Colômbia. Segundo ele, o RJ foi um dos lugares mais impressionantes, não só pela ousadia dos criminosos, mas pela corrupção impregnada nas instituições policiais.
Ainda bem que o Brasil ainda é associado a coisas boas como futebol e carnaval... mas até quando?
Cheers!
quarta-feira, 15 de julho de 2009
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Pô, Barolho, tem que escrever mais, como nosso "correspondente estrangeiro". :D
ResponderExcluirCara, esta história que tu me contou me lembrou das últimas vezes em que eu fui para o Rio, quando eu descobri a existência de uma imprensa não só sensacionalista (Diário Gaúcho é coisa de maternal se comparado), mas também direcionada ao público das favelas mesmo. Os caras entrevistam os traficas como se entrevistassem polítcos e dedicam manchetes às suas declarações -- lembro de uma que era do tipo "Fulano avisa; o morro vai ser meu!"
Quando a gente aqui ouve falar de expressões como "poder paralelo", "estado paralelo", etc, não conseguimos entender direito se não tivermos visto. É quase, na verdade, uma "sociedade paralela", uma dimensão paralela mesmo ao resto da cidade do Rio. De fato, é impressionante.
E se o repórter que entrevistou piratas etíopes, guerrilheiros colombianos e milícias asiáticas achou o lugar barra-pesada, quem somos nós para discordar...
Na materia tambem eh citada a adoracao das pessoas da favela em relacao aos traficantes. Muitos moradores consideram os traficantes bons lideres comunitarios, pois os mesmos fazem distribuicao de remedios, ranchos e colaboram para o "bem-estar" da comunidade. Isto lembra em termos uma historia do Robin Hood, onde os caram fazem o mal em favor dos menos favorecidos... sei la... nao sei se isto tem volta!
ResponderExcluirImagina, daqui a cem ou duzentos anos, as histórias heroicas de Fernandinho Beira-Mar contra o xerife de Nottingham... Realmente, é meio assustador.
ResponderExcluirUma sociedade necessita organização. Precisa de uma hierarquia, um conjunto de regras, justiça e uma entidade que ofereça vantagens para os seus membros. Este deveria ser o papel do Estado. Mas por incompetência ou pura falta de interesse, existem lugares onde os tentáculos do poder legítimo não chegam. Estes espaços são supridos com outras sociedades organizadas paralelamente.
ResponderExcluirO tráfico garante aos moradores das favelas o que o governo não lhes oferece, e em troca recebe proteção destes. Portanto essa história de mocinho e vilão é muito subjetiva. Isto me faz lembrar Vlad III da Romênia...
Tá aí o link correto do Vlad III!
ResponderExcluirEstes herois nacionais ou ideológicos sempre são sempre polêmicos... É só ver a celeuma que cerca da figura do Che Guevara, para uns o maior arquétipo heroico do pós-moderno, para outros um mero assassino.
ResponderExcluir(putz, agora sim, misturei Che Guevara num post sobre traficantes, ninguém vai entender! :D)
Traficantes cariocas, piratas etíopes, Conde Drácula e Che Guevara... acho que poderíamos citar também Dart Vader e Satan Goss...
ResponderExcluirLembro daquele episodio em que um fuzil foi roubado de um quartel militar no RJ e o exercito invadiu os morros em busca do tal trabuco roubado. A criminalidade caiu bruscamente nas areas ocupadas pelos militares, ateh que os Direitos Humanos entraram em acao alegando que o Exercito nao tinha autoridade para revistar civis e fazer as tais buscas, e que isto era trabalho para as policias militar e civil. Logo logo surgiu um suposto fuzil recuperado e tudo voltou ao seu estado normal, ou anormal. Estranho nao?
ResponderExcluirE também o Doutor Gori e o Karas.
ResponderExcluirAcho que vale acrescentar o relato de que morando uns 3 anos no Rio, eu nunca vi ou fui afetado diretamente por essas coisas. Quando eu morava em Copacabana cheguei a ouvir tiros dos morros próximos em uma ocasião, mas nunca me senti particulamente inseguro. Quando me mudei pro Humaitá, aí era uma tranquilidade só. O mais próximo que cheguei de ser afetado no dia-a-dia era quando operações policiais fechavam o túnel Zuzu Angel (que liga a Gávea a São Conrado, Barra e Rocinha). Eu estudava na Gávea, mas o túnel não era meu caminho -- mas pra quem vinha da Barra, era um transtorno, porque tinha que dar a volta na cidade inteira.
ResponderExcluirEm uma ida recente ao Rio, o bus executivo que eu peguei entre o Galeão e a zona sul tomou uma pedrada que arrebentou um vidro (tivemos que descer na rodoviária e trocar de bus). Mas isso é algo que até poderia ter acontecido aqui também.
Isso acontece tradicionalmente no Centralão Estrada Velha - Vila Brás. :D
ResponderExcluirLegal, Hisham, não sabia que tu tinha morado no Rio!
Aliás, este teu relato não é particularmente novo para mim. Tenho amigos que moram em São Paulo a vida toda e jamais foram vítimas de violência urbana (por mais que a Band e o Datena nos façam pensar diferente). Da minha parte, nunca vi maior terra-de-ninguém do o Centro de Porto Alegre depois das 23 horas e nunca conheci uma cidade em que eu me sentisse mais inseguro do que São Leopoldo (as três vezes que eu fui assaltado na vida foram em terras capilés).
Mas, dando uma de socialista, acho que mais do que a "ameaça às classes médias", a questão das favelas (do Rio e de qualquer outro lugar) passa por esta constatação antropológica de que elas se tornaram quase que "feudos criminais". Atualmente, de acordo com os meus amigos que moram no Rio, existem três tipos de controle político nas favelas: os traficantes, as milícias e as favelas em que não existe poder constituído de nenhuma forma - ainda...
E isso abre interessantes indagações sobre a dinâmica das relações sóciopolíticas dentro destas comunidades. O Estado Democrático de Direito simplemente inexiste: quem governa e controla é quem tem poder de fogo, força militar no sentido amplo da palavra. É uma estrutura que remete (ou que pode remeter, para não fazermos anacronismos) a um modelo de organização política e social anterior à criação do Estado, que a atropologia consagrou com a denominação de Cacicado ou Chefatura (desculpem o link em inglês, mas não achei nada melhor em português. Se alguém quiser, eu explano melhor).
Quem acertou os acentos do post do Barolho? Ele não deveria escrever os "textos sem acentos direto da Irlanda"? ;)
ResponderExcluirFui eu... tomei a liberdade :) Aproveitei e adicionei umas tags. Eu vivo fazendo revisõezinhas desse tipo nos textos do blog (em geral não são muito perceptíveis), considero parte das atribuições de "webestagiário" (afinal, se fosse "webmaster" eu não faria nada, mandava o estagiário fazer :) ).
ResponderExcluirBom, pelo menos os textos chegam sem acentos direto da Irlanda, então não podem nos acusar de propaganda enganosa. :)
Putz, fiquei deprimido agora, se as únicas coisas boas para associar o Brasil é futebol e carnaval etamos ferrados!
ResponderExcluirBah, me lembrei de quando estive no RJ em Copacapana(15 dias na rua tonelero). Minha mãe mora lá, e sempre disse que, quem é afetado pela violência tem a ver com ela. E confirmou-se com todo mundo que eu conversei lá. Se é morador normal, nao há problema. E também com outros amigos que moram lá, a mesma opinião. fui na festa de reveillon de 99/2000 , 3 milhoes de pessoas na beira mar e nada aconteceu. Creio, pela minha experiencia, que o perigo da violencia gerada pelo tráfico é semelhante ao que eu vivo aqui, morando perto da vila brás em SL.
ResponderExcluirUm adendo... como turista no RJ,fui dar uma passeada no Leme. Claro, avisado por pessoas residentes do RJ, levei apenas uns pilas na cintura pra tomar uma agua de coco. Acontece que, brancão como sou, me tiraram pra gringo. Aí uma galerinha nos cercou e começaram a querer nos coagir. "aí, meu... dá unxx 50 centavoxxx pra gente tomarrr um café?". Bem, eu entrei no mesmo papo e disse : "véio, tamo máuss de grana." Aí deixaram eu e minha esposa sair sem maiores interferências. Claro, resumi o papo, ele foi maior, mas foi só pra mostrar que só é vítima de falcatrua quem é sonso das idéias. Aconteceu o mesmo comigo no centro de SP e em Salvador também.
Moser
Moser
Tenho parentes que moram no Rio (capital) e parentes que moram em Macaé (interior do Rio, perto de Cabo Frio, e terra do glorioso time de mesmo nome, que atualmente disputa a igualmente gloriosa Série D do Brasileirão).
ResponderExcluirJá visitei eles várias vezes e digo com toda a certeza que me senti muito mais seguro no Rio do que em Macaé - cujos índices de violência até um tempo atrás regulavam com os de São Leopoldo - acho até que já passaram, não sei ao certo - conhecida pelos números negativos na área. Meus primos, quando moravam em Macaé, foram assaltados inúmeras vezes - inúmeras MESMO, de perder as contas e as calças, literalmente. Morando na Capital, nunca foram assaltados, roubados ou mesmo presenciaram qualquer cena do tipo - e eles vivem na rua, noite e dia.