quarta-feira, 29 de julho de 2009

Politicamente INcorreto: engraçado ou ofensivo?

Quem leu os comentários do post anterior do Jean - no qual ele aponta um belo disco do grande e saudoso Jeff Healey - pôde conferir que houve uma pequena polêmica quanto ao título que ele havia escolhido para o texto. Quando recebi a atualização no meu e-mail, lá estava escrito no título:

Vocês sabiam que eu compro CDs? Cegueta mas não maneta

Não tenho vergonha em assumir que me deleitei muito com o humor negro destilado pelo Jean no título. Ri, e ri alto. Qual não foi minha surpresa quando abri o blog pra comentar sobre o post, e vi que o título havia sido mudado. Estranhei, tanto que deixei o comentário que ali está, uma espécie de lamentação pelo primeiro título ter sido modificado, possibilitando que outros dessem risada, como eu. Ao menos foi o que eu imaginei de início.

Depois, conversando com o Hisham - assim como o Jean já explicou - entendi o por quê da mudança. Só aí eu fui me dar conta de que outras pessoas poderiam achar a frase uma ofensa pessoal, de alguma forma. O que não foi o caso deles dois, Hisham e Jean, já que não são cegos ou tem perna mecânica, "Roberto Carlos style".

Não que eu saiba, ao menos, né amiguinhos? :)

Brincadeiras à parte, a questão me deixou um pouco intrigado. Até que ponto estamos sendo politicamente corretos em mudar o título? Até que ponto isso é realmente ofensivo? Até que ponto não estamos "censurando" esse título com uma certa dose de hipocrisia? Tudo isso me passou pela cabeça porque um dos tipos de piada e humor que mais me faz rir é o politicamente INcorreto. Parece que hoje em dia é cada vez mais feio achar graça neste tipo de sacada. O humor negro e politicamente incorreto parece cada vez mais restrito à Internet e a alguns poucos nichos da grande mídia, como o CQC, por exemplo (que faz piadas a torto e a direito com gaúchos, corintianos, gays, etc, e é engraçado, pra mim). Por que? Será que a gente não está muito rançoso, muito chato com esse assunto?

Pessoalmente, eu sempre simpatizei com o politicamente incorreto porque sempre tive a impressão de que a maioria das cabeças que defendem o "certinho" demais tem algum tipo de culpa no cartório. Ninguém é santo, correto 100% do tempo. Nem mesmo acredito que alguém tente ser correto o tempo todo. Por isso, o politicamente incorreto me parece mais sincero, mais "cara limpa".

Além disso, sempre soube rir de mim mesmo. Portanto, como sou branco como cera e uso óculos, convivo e acho graça dos apelidos que me foram dados ao longo da vida por conta dessas características: quatro-olhos, cegueta, urso branco, Gasparzinho, branquelo, Michael Jackson, entre outros.

Sei que cada pessoa tem uma maneira de lidar com o assunto. Alguns não aceitam bem essas brincadeiras - podem, por exemplo, interpretar como bullying -, e, como disse, entendo perfeitamente a preocupação dos guris quanto à questão do título do texto. Mas, fica aí a minha pergunta: será que é pra tanto? Na minha opinião, não. Quero saber a de vocês.

Fica aí um texto do humorista Maurício Meirelles sobre o assunto também.

Obs: este post é uma homenagem pessoal ao mestre Mussum, falecido há 15 anos, um dos mestres do humor politicamente incorreto. CACILDIS!

11 comentários:

  1. Quem assiste os DVD da TV Pirata se horroriza imaginando: "E se isso passasse hoje?" Seria um processo por cena...

    Se pensarmos ao extremo, realmente não tem como fazer uma piada sem ser politicamente incorreto. Desafio alguém a contar uma piada (engraçada), que não envolva nenhum credo, raça, cor, sexo, etc.

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  2. Concordo com o Gustavo, não tem como ser humorístico sem correr o risco de se ofensivo.

    É só ver o alvo mais habitual dos humoristas nacionais, os nossos queridos políticos: certamente eles ficam ofendidíssimos com a tonelagem diária de avacalhação que recebem de cômicos, cartunistas, comentaristas e população em geral. Se pararmos para pensar, eles teriam todo o direito do mundo de enfiarem processos até os gargumilhos de vários meios de comunicação por danos morais -- o que não acontece porque, bem, os políticos sabem que os humoristas estão falando a verdade. ;D

    O limite do politicamente incorreto é quando a piada é usada diretamente para rebaixar, humilhar e denegrir abertamente (e não servir de crítica) alguma característica/situação de uma pessoa (o seu credo, a sua origem étnica, etc).

    Não acho que o título do Jean se enquadra nisso, muito pelo contrário: o que ele deixa claro no texto é que o cara é um belo de um guitarrista, independente de ser cego ou não.

    Ofensivo por ofensivo, acho que o meu post sobre os Transformers, por exemplo, pode ter sido ofensivo para as pessoas que gostaram do filme. Especialmente porque eu usei de bastane ironia. E eu estava fazendo exatamente uma defesa de valores politicamente corretos.

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  3. Olha, eu sempre fui um adepto do politicamente incorreto e tinha a ilusão de que todo mundo entendia como ironia o tempo todo. Mas em um certo momento (e o André é prova disso) recebi uma chuva de críticas por uma porrada de comentários que na minha cabeça a galera levava na boa.
    Sou fã do humor sarcástico e dos trocadilhos inteligentes, mas acho que depende do público que se quer atingir. Quando o foco é uma galera muito diversificada e numerosa, fica impossível que alguém não esteja em um bom dia ou momento. Pode ser ranço, carga histórica ou qualquer outro fator, não necessariamente um "auto-preconceito".
    Por exemplo: todo mundo deste blog riria se no dia 26/07 alguém viesse aqui e perguntasse "O que muda de cor, anda pra tras e come criancinha?".

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  4. Olha, eu sempre fui um adepto do politicamente incorreto e tinha a ilusão de que todo mundo entendia como ironia o tempo todo. Mas em um certo momento (e o André é prova disso) recebi uma chuva de críticas por uma porrada de comentários que na minha cabeça a galera levava na boa.
    Sou fã do humor sarcástico e dos trocadilhos inteligentes, mas acho que depende do público que se quer atingir. Quando o foco é uma galera muito diversificada e numerosa, fica impossível que alguém não esteja em um bom dia ou momento. Pode ser ranço, carga histórica ou qualquer outro fator, não necessariamente um "auto-preconceito".
    Por exemplo: todo mundo deste blog riria se no dia em que morreu o Michael Jackson alguém viesse aqui e perguntasse "O que muda de cor, anda pra tras e come criancinha?".

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  5. Achei que este seria o texto que mais teria comentários pelo conteúdo polêmico mas, parece, que o pessoal ficou com receio de ser "julgado" , ou não!

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  6. Também fiquei com essa impressão. Ou não!

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  7. Mesma coisa com o post sobre homossexualidade, semanas atrás.

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  8. Eu não dei reply porque pra escrever tudo que eu penso sobre o assunto ia dar um texto de uns 5x do tamanho do post original e no final ninguém ia entender o meu ponto de vista anyway! :)

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  9. Confesso que não postei um comentário pois achei que minha posição seria muito dura com os caros amigos (roubei do Chico Buarque! Shame on me!

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  10. (encurtando)
    Professora pergunta ao joazinho : "o que é relação sexual?". Ele responde : "um monte de gente, bebendo, fumando, etc... entra numa kombi...todo mundo bebado... de repente cai num precipio e todo mundo morre." Professora pergunta : "tá, o que tem de relação sexual nisso?". Joãozinho responde : "Sei lá, mas todo mundo se fudeu.".
    Ao desafio do gustavo.
    Moser

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  11. Aí tu tá indo contra a moral e os bons costumes. Conta essa piada numa roda de frescos pra ver quantos "Keéissoooaaa!" que tu vai ouvir...

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