sexta-feira, 26 de junho de 2009

Elegias a Michael Jackson

Queria externar meus sentimentos quanto à morte de Michael Jackson. Encontrei o Chico e o André essa noite, ambos também consternados, e o André sugeriu colocar um post curto, para que cada um pudesse deixar nos comentários as suas impressões. Então não vou escrever aqui, mas vou abrir a série de elegias nos comentários.

19 comentários:

  1. Quando recebi do Lucas um SMS avisando da morte do Michael Jackson minha primeira reação foi não acreditar, achar que era uma piada de mau gosto, sei lá. Logo que caiu a ficha, me bateu uma tristeza. Não pela perda do "ídolo", do "ícone", mas uma tristeza pelo homem.

    Obviamente é estranho falar assim de alguém que eu não o conheci, mas todos nós soubemos e acompanhamos mais da vida dele do que de muitos parentes. E esse foi o fardo que ele teve que carregar na vida. Um cara que eu acho que nunca encontrou a paz na vida, talvez nunca tenha sido verdadeiramente feliz. Teve em grande parte da vida tudo que a maioria das pessoas sonha em ter -- dinheiro, fama, prestígio, admiração -- mas ainda assim era atormentado pelos traumas de uma infância perdida. Não acho que ninguém trocaria de lugar com ele se soubesse o custo que tiveram todo esse dinheiro, fama, prestígio, admiração... custo esse que a gente só consegue imaginar.

    Fala-se sempre do personagem caricato que ele encarnou, das plásticas, da mudança de cor, dos escândalos e da obsessão com a infância, muitas vezes com escárnio, mas como não ter pena de alguém que não conseguia aceitar a própria imagem e a própria idade? Ele não teve uma vida fora da mídia, não era algo que ele conseguiria simplesmente "cair fora", ele não tinha a estrutura para isso. Ríamos todos dos sintomas de um homem doente. Espero que hoje tenhamos todos a decência de não rir.

    Eu o admirava. Num mundo de estrelas fabricadas e talentos fajutos, ele foi uma estrela "fabricada" (pelo próprio pai!) que transcendeu isso através do próprio talento, tanto de intérprete como de compositor. Na arte ele conseguiu se desprender das amarras, construir uma identidade de forma tão forte que a sua influência é evidente até hoje. Mas a liberdade e a realização que ele conseguiu na arte, não conseguiu na vida.

    Eu torcia por ele. Que ele encontrasse paz à medida que ele saísse aos poucos do olhar constante do público, que a pressão diminuísse e que com isso ele conseguisse lidar melhor com a vida. De certa forma, ao ser parte do público, eu me sentia um pouco parte dessa pressão. Uma gota nesse oceano que ele passou a vida carregando nas costas.

    Agora ele morre, sozinho, endividado, infeliz, enquanto tentava "emplacar uma volta"... uma volta para o público, para tentar corresponder às pressões que se impunham. Para continuar carregando o oceano nas costas. E por isso eu não consigo deixar de sentir aquela gota de culpa nessa morte.

    Pode-se querer dizer abstratamente que a máquina do entretenimento, de que todos somos engrenagens, fez como vítima o seu símbolo maior. Mas na verdade, o que aconteceu mesmo, é que um homem morreu. Um homem triste.

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  2. Por pensar muito parecido, não tenho nada meu a acrescentar.
    Em compensação, o El Mundo fez um grande especial a ele. Aqui vão alguns comentário sobre sua discografia:
    http://www.elmundo.es/elmundo/2009/06/26/cultura/1245999434.html
    E na capa do elmundo.es está o especial Michael Jackson completo. Vale a pena dar uma olhada.

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  3. Afinal, MJ é aquele cara que não dá para definir. Ele era mais idolatrado, desprezado, odiado, amado, invejado ou o quê? Foi um cara que eu acho que conseguiu despertar estes sentimentos todos em muitas pessoas em suas várias fases. Vejo ele como um homem inocente, que renegava o fato de ser um adulto, e tinha como ídolo um personagem infantil :Peter Pan. Muito provavelmente por ter perdido toda sua infância trabalhando arduamente abaixo da pressão inconseqüente de seu pai.

    Parece que agora sim os anos 80 acabaram. Foi
    o tiro de misericórdia.

    Sílvio Moser

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  4. Algumas observações soltas, complementando com as minhas palavras o belo comentário do Hisham:

    O MJ, assim como muitos outros artistas, tinha esse sério problema de auto-imagem: ele era uma coisa que não queriam ser. Sempre lembro do Kurt Cobain quando falo sobre esse assunto, pois o cara tinha tudo o que uma pessoa pode desejar, mas simplesmente não queria estar nessa realidade.

    Fama, dinheiro e admiração pode sim, destruir o cara. E o artista (como já foi falado em outro post em relação a drogas) tem uma vulnerabilidade maior a essas coisas. E a situação do MJ foi agravada ainda mais pela relação com o pai.

    Eu comprei em setembro do ano passado o CD especial de 25 anos do Thriller, e ouvindo-o de cabo a rabo me fez lembrar que todas as músicas são muito boas. Do Dangerous também tem muitas músicas legais.

    Que descanse em paz...

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  5. Concordo com o Hisham. E o único comentário que fiz com a minha mãe (que foi quem me deu a notícia) foi esse: "Mãe, coitado desse cara, nunca teve uma vida feliz". Pena, senti pena dele hoje.

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  6. Já comecei várias vezes a escrever alguma coisa aqui, mas não sai nada. É assim que eu me sinto. Estranho. Meio desnorteado. Tomei um susto quando ouvi a notícia no rádio.

    Não era apenas o melhor artista pop da história, mas também o mais respeitado pela sua obra e por ser um artista completo.

    Morreu um homem, mesmo. Triste e doente. A morte mais melancólica da história da cultura pop. E não nasceu um mito. Esse já existia há muito tempo.

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  7. Desde que anunciaram os shows do Michael Jackson em Londres eu estava procurando uma música, mas não sabia qual era. Nem nome, nem ritmo, nada.
    Agora há pouco, falando com uma amiga sobre o assunto, ela me mostrou sem querer: Heal the world, do Dangerous.
    Não sei porque, mas estava completamente esquecida, e quando escutei mais uma vez lembrei de todas as vezes segurando o encarte pra tentar acompanhar a música. Acho que foi a primeira coisa que eu traduzi na vida. Por sinal, acho que o encarte também é um dos melhores que já vi. Ouvia tanto, que quando riscou, me deram outro no lugar.
    Não sei se aqueles anos morreram, mas com certeza foram muito marcados pelas suas músicas e me fazem lembrar de muitas coisas, como a ansiedade de ver um clipe novo ou rever pela milionésima o passo da lua no Fantástico, já que eram tempos sem YouTube.
    Bons tempos...

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  8. Michael Jackson foi (é) mais popular que Oasis.

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  9. A idéia de que cada um tivesse o espaço para seu discurso póstumo nos pareceu digna para o SD já que, como músicos e fãs de música, cada um de nós tem uma relação com a obra e a vida de Michael Jackson. Sou conhecido no grupo por ser o mais emocional de todos e é óbvio que nesse comentário aqui não tenho como ser diferente.


    À parte de toda a contribuição que MJ deixou para a cultura popular mundial, esse sujeito "moldou" inúmeras coisas do meu jeito de ser desde criança. Lembro de ter sete, oito anos e imitar MJ na sala da minha casa, ouvindo o Thriller em LP. Depois, quando saiu o Dangerous (que pedi e ganhei de presente de aniversário) a gana era tanta que comecei, por conta própria, a estudar inglês pra entender o que era dito pelo homem. De tanto brincar, acabei vocalista de banda. :)


    Cada geração tem seu referencial, mas, racionalmente falando, o que fica é uma melancolia prévia por acreditar que nosso mundo não comporta mais um artista da envergadura de Michael Jackson. Isso sem contar o fato de que ele era o ícone vivo do espetáculo que foi a década de 80 (a incluir início dos 90) e sua morte enterra de vez o colorido explosivo daquela infância que a maioria de nós vivenciou. É a versão oitentista da frustração de John Lennon: "The dream is over".

    Claro que não sou uma macaca de auditório, que agora vai cortar os pulsos ou ficar em casa chorando a morte de Michael. Nem mesmo quero entrar no mérito da questão de quem era essa figura que passamos a ver nos últimos tempos como um verdadeiro "freak". O que sei é que hoje entendo o sentimento de perda daqueles que tiveram que enterrar Elvis Presley.

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  10. Morre mais um pedófilo.. já foi tarde!!!

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  11. Só pra constar, eu sei que meu sarcasmo é maior que eu às vezes, mas, não sou o anônimo ai.

    Mesmo não concordando com os comentários eloquentes sobre o Michael, também não acreditei que o cara tinha passado pra outra quando li a notícia.

    Não sei o que pensar sobre a "pessoa" Michael Jackson, mas o trabaho do cara era afude.

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  12. Engraçado o André ter falado sobre Heal the World, eu quase escrevi sobre essa música no meu comentário anterior: eu sempre me arrepio quando ouço essa música, tanto a letra quanto a melodia são muito legais e são perfeitas juntas.

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  13. Pelo jeito, o "sol desafinado" da discussão serei eu mesmo, hehehehe. Acho que ando a fim de uma polêmica, só pode ser.

    A morte do Micahel Jackson não me causou nenhum sentimento, na verdade. Nem tristeza, nem sequer espanto. Recebi a notícia com um "ah, tá" despreocuado. Na verdade, o trabalho dele -- por mais que eu saiba e reconheça a sua importância e qualidade em todos os níveis -- nunca me tocou. Exceto, talvez, quando eu estava na 1a série e tinha medo do clipe de "Thriller". ;)

    Para piorar, eu não costumo criar muita pena ou empatia por estas personas públicas que se tornam personagens de tragédica grega, no sentido de que constróem sua própria ruína. Na minha visão, uma enorme parte da infelicidade de Jackson foi fomentada por ele mesmo. Sofrer com a perseguição que a fama traz é uma coisa, comportar-se com traços visíveis de megalomania não tratada é outra.

    Na verdade, a morte dele não me acertou porque, artisticamente, ele já estava morto. Deixou os problemas, dívidas, bizarrices e que tais esmagarem o seu incomparável talento artístico. Jackson foi o último grande artista completo do mundo, mas há tempos não produzia nada de fato relevante (desde pelo menos o "Dangerous").

    Teria me causado alguma consternação, talvez, se ele continuasse fazendo a sua arte, ainda que não conseguisse reproduzir o gigantismo de duas décadas atrás. Entretanto, ele deixou o palco de maneira ainda mais melancólica, por não estar nele. As cortinas, em suma, fecharam -- para ninguém...

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  14. E escuta, esse chororô todo acabou virando desculpa para não debatermos a rodada do fútbol? Show must go on! ;)

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  15. Bom, não comentei nada pra não tomar pedra, mas o Ulisses disse tudo.

    Tu deixaria teu filho de 11 anos num findi com o MJ?

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  16. Richard Wright merece um post postumo, não o mj.

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  17. Mas, só um pouquinho:

    Tu deixaria o teu filho de 11 anos com 80% dos astros de qualquer ramo artístico?...

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  18. ...ou com qualquer estranho, diga-se de passagem?

    Essa história do Michael Jackson sempre foi mal contada. O fato de os pais do guri terem topado o acordo fora da corte por uma bolada de dinheiro (~US$20M) cheira a falcatrua (segundo o MJ, ele "pagou pra não se incomodar mais"). Se o cara tivesse feito sacanagem mesmo com o teu filho, tu ia aceitar a grana e não levar o processo às últimas consequências pra meter o cara na cadeia? E lá nos EUA sendo culpado ele iria mesmo, vide o Mike Tyson. Os pais podiam ter botado ele na cadeia *e* ganho a indenização, mas pelo visto só estavam atrás do dinheiro. O cara era um freak total, tá certo, mas por isso mesmo se tinha alguém no mundo perfeito pra aplicar uma dessas, era ele.

    Bom, agora isso não interessa mais.

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  19. Nem entro no mérito da pedofilia, até porque é muito difícil entender os interesses de cada parte num acordo... Assim como Jackson disse que pagou para não se incomodou, a família pode ter aceito o acordo para não se expôr (as leis de proteção ao menor de idade nos EUA são beeeem diferentes), o que ainda assim não parece ser o caso.

    O certo é que ele foi processado pela Justiça estadual da Califórina (ou seja, uma ação penal, não cível) há poucos anos e ele foi inocentado por falta de provas.

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