terça-feira, 16 de junho de 2009

Homossexualidade juvenil: moda adolescente ou nova rebeldia?

Como alguns aqui sabem, eu sou professor há um curto espaço de tempo (cerca de quatro anos) e dou aula para o ensino médio – o antigo segundo grau. Graças a esta atribuição, tenho um contato muito próximo com a atual prole de adolescentes. Podemos pensar que eles são muito díspares de nós quando adolescentes (ainda mais para quem, como eu, concluiu este período escolar vai fazer 15 anos...), mas, a bem da verdade, não são diferenças tão grandes. As poucas que de fato existem, contudo, servem para dar a impressão de grande abismo entre gerações.

Tenho notado que há uma mudança no comportamento que tange a curiosidade sobre temas sexuais. Enquanto que na minha época, as dúvidas ficavam centradas em como fazer certas práticas (e se o nosso corpo era de fato “adequado” a elas – “quantas vezes eu consigo gozar numa transa?”, por exemplo), hoje a grande curiosidade fica por conta da homossexualidade.

Eu, como sou um professor cabeça aberta, permito que aconteçam digressões do assunto das aulas para qualquer direção, já que é isso que faz, de fato, as crianças aprenderem. E sempre que o assunto envereda para a direção vida sexual, o debate sempre se foca na condição de ser gay ou lésbica. O lesbianismo, aliás, é quase que uma febre entre as meninas. Por mais que elas não troquem carícias, beijos ou transem propriamente umas com as outras, várias delas têm estabelecido com as amigas uma relação de possessividade sexual, facilmente vista em scraps e comentários nos sites de relacionamento. Elas chamam as outras de gostosas, tesudas, dizem que “pegariam se pudessem”, quando não dizem algo como “esta aí é minha”.

Logicamente, o tom é de brincadeira. Mas não para imaginar esta forma de relação de amizade há uns tempos atrás. Uma mulher jovem ter algumas ações bissexuais – como beijar as amigas em festas e bares, cena que, aliás, se tornou comum – não choca mais quase ninguém da mesma faixa etária. E declarar-se bissexual é, para várias meninas, um argumento fortíssimo em prol da sua afirmação pessoal.

Frequente também são meninos assumindo serem gays cada vez mais jovens, numa proporção bem maior de adultos homossexuais admitidos. Tempos mais liberais? Nem tanto, eu diria. Alguns, assim que assumem sua opção – normalmente para um grupo de amigos, mas não para a família ou mesmo para outros adultos – colocam-se na posição de incompreendidos, exatamente por serem gays. Desta forma, podem expressar o seu desajustamento frente ao mundo e (mais uma vez) afirmando-se pessoalmente.

As dúvidas que acontecem em sala de aula dão um retrato curioso desta abordagem diferenciada dos teenagers do novo milênio: eles se perguntam se homossexualidade é questão de opção ou se a pessoa nasce assim, se ela será promíscua ou tranquila e, acima de tudo, se ela será gay ou lésbica para o resto da vida. Nesta última preocupação, para mim, reside a resposta: a rebeldia dos dias de hoje é se declarar homossexual, nem que seja para trocar de ideia lá na frente – assim como o ex-hippie que virou homem de negócios, o ex-punk que abandonou o movimento para sustentar a família, ou o ex-metaleiro que cortou o cabelo em prol de conseguir emprego.

Por outra via, acontece um movimento ao contrário: o de manutenção da castidade e repressão da sexualidade – qualquer que seja. Novas bandinhas pregam valores virginais e a mais nova febre da faixa etária, a série de livros Crepúsculo, é um exemplo de conteúdo sensual em doses extremamente homeopáticas.

13 comentários:

  1. CAAAAAAAR$%%ww@$LHO, SÔUMVIADOENTÃO!

    Excluindo as piadinhas do Comissário Gordon: estranho e abismal pra mim é uma banda de "rock" pregar valores virginais (WHAT DÃ FÃCK????), e um filme de vampiros com conteúdo sensual comparável ao de uma novela das seis.

    Repressão da sexualidade no século 21 é uma coisa que ainda me assusta muito, e só mostra como este tipo de caretice deixa o mundo um lugar pior.

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  2. Isso dá assunto para outro post, na verdade.

    Eu concordo contigo -- desde que leve-se em conta que o contraponto ao careta pode ser algo como o Samwell...

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  3. (não deixo o link que leva ao Sanwell por consideração ao bom gosto alheio)

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  4. Eu não tenho consideração ao bom gosto alheio:

    http://www.youtube.com/watch?v=fbGkxcY7YFU

    ALGUÉM POR FAVOR TRAGA A DISCUSSÃO DE VOLTA PARA O PATAMAR SÉRIO, EU NÃO ESTOU CONSEGUINDO

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  5. Eu acho que essas manifestações americanas puritanas são coisas que vêm "de cima pra baixo". Essa história de "anel da pureza" (coisa que eu nunca tinha ouvido falar até agora), ainda mais com endorsement de Jonas Brothers e afins, soa como marquetagem descarada. Isso aí é obra da direita americana, fazendo o seu melhor pra produzir uma nova geração de conservadores. Se o negócio é abstinência+rebeldia, acho muito mais "true" o movimento Straight Edge.

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  6. aiaiai.. ta tão ta... me sinto na obrigação agora de contribuir pra essa discussão..
    Como teenager que leu crepúsculo(e amou!) e HETEROsexual..concordo com o eterno prof. ulisses que ta acontecendo muito seguido de adolescentes ficarem com duvida sobre a preferencia sexual..lembro até que numa das nossas aulas nós falamos sobre isso.. é dificil dize se é questão de escolha ou se a pessoa nasce gay ou lesbica...já achei que fosse de nascer mesmo.. 'ou tu nasce hetero OU tu nasce homo'..mas agora eu nao sei mais...
    acho que o que ta acontecendo entre as gurias é que elas tão começando a ter muita intimidade umas com as outras..não é uma coisa ruim..só um poco exagerado..e acaba parecendo uma relação de namorada. Mas talvez, é o 'conceito' de amizade entre as gurias que tenha mudado..daí nao é 'meio lesbico' uma guria coloca a mão no peito da outra..é só intimidade e amizade...
    . . . e pra fala nessas que se pegam nos bares..é só questão de corpo mesmo..nao importa o que ta na frente..se colocasse um cara no lugar de uma delas a mesma coisa ia acontecer.. nao é um fato de ser bisexual..essas aí nao são.. Pra ser bi, a atração por outra guria tem que ser pelo jeito, pela delicadeza..ou pelo cheiro..ou.. sei lá! o cabelo!..coisas que nos fazem automaticamente nos sentirmos atraídos por uma pessoa do sexo oposto ;)
    ...nao é ser bi gostar do corpo de outro ou outra do mesmo sexo..a pessoa só tem bom senso pra dizer o que é bonito e o que não é..

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  7. E que baita contribuição! Senão ia ficar esse bando de véios aqui fazendo hipóteses. Praticamente um Flávio Alcaraz Gomes e os Guerrilheiros da Notícia. :)

    Do que eu lembro do meu tempo de colégio, as relações de amizade entre as gurias sempre foram muito mais possessivas do que entre os guris. Lembro até de um célebre episódio em que duas resolveram "discutir a relação" em plena aula e a aula literalmente parou (professora inclusive) pra ouvir o bate-boca das duas, que, sem surpresa alguma, terminou em choro e uns "eu achei que tu fosse minha amiga" em meio a soluços. Lastimável.

    Outra coisa óbvia é que as mulheres são muito mais desencanadas em relação a corpo do que os homens -- tu não vê homem dizendo que acha outro bonito, enquanto as mulheres não têm problemas de achar outras mulheres bonitas. Isso é social.

    Uma coisa meio relacionada que eu lembrei agora e que é "sinal dos tempos" é a quantidade de mulheres hetero que tu vê dizendo que se sentem "atraídas" pela Angelina Jolie. Acho engraçado porque ela nunca me atraiu em particular, mas acho que consigo ver o que as mulheres veem nela: uma certa agressividade latente que chega a ter um ar andrógino.

    Outra "sex symbol" que eu vejo que as mulheres invariavelmente adoram, mais que os homens, é a Madonna. No caso da Madonna é mais evidente ainda como as mulheres sentem não desejo pela Madonna, mas de certa forma, de "ser a Madonna": a atitude decidida, forte, no-bullshit, etc -- características que socialmente imprimem como sendo primariamente "masculinas". Por romper essa barreira a Madonna exerce um fascínio por muitas mulheres. Cansei de ouvir de mulheres que "adoram a Madonna", mas que quando tu vai ver, nem costumam ouvir as músicas dela. Corroborando essa coisa que a Madonna é mais um "símbolo de atitude" do que um "sex symbol" propriamente é que tu vê que dificilmente tu vê homens fãs dela (uma vez que pelo mesmo motivo que ela fascina as mulheres ela intimida os homens), e a popularidade dela com o público gay (já que essa "troca de papéis" que ela representa também tem uma carga muito andrógina).

    Resumindo, me desviei falando da Jolie e da Madonna mas acho que o ponto que eu estava fazendo era que muitas vezes as atrações homo das mulheres (em particular nas hetero) são mais por características "masculinas"/andróginas do que pela feminilidade da outra em si (como disse a Tamani, coisas que nos fazem atraídos pelo sexo oposto), mas por razões sociais dos "dias de hoje" elas têm mais vazão pra externar isso do que um homem que admire alguma "característica feminina" de outro (o que, obviamente, é "viadagem").

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  8. Foi-se Adão e Eva, agora é Adão e Ivo.

    Mas quanto mais bixonas melhor, quem me faz falta é quem NÃO vai na bola.

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  9. Contribuição excelente da Tamani. E os comentários do hisham muito próprios. As mulheres nunca tiveram problemas em comentar o corpo da amiga, ou de alguma estrela. Agora, na nossa sociedade, imagine um homem comentando coisas tipo "acho o brad pitt bonito". Eu, particularmente, não vejo problema nenhum em dizer que tal ator é bonito, etc... isso em absoluto não indica homossexualismo. Eu acho alguns homens bonitos, mas não significa que eu seja sexualmente atraídos por eles.
    Moser

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  10. "Praticamente um Flávio Alcaraz Gomes e os Guerrilheiros da Notícia."

    Sempre achei que esse seria o nosso fim. :D

    No melhor estilo Roberto Coutinho, vou fazer um comentário mais consistente depois. Primeiro, tenho que analizar bem os ótimos desenlaces das novas contribuições.

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  11. Silvio... tu é gay?

    Tudo bem, pode se abrir com a gente.

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  12. Enfim, o comentário mais consistente, conforme o prometido, vem agora.

    Em primeiro, um detalhe que me chamou a atenção: imaginei que o post traria discussões mais amplas, mas parece que o pessoal, em geral, ficou com medo de soar preconceituoso e não escreveu, hehehe.

    Anyway, vou começar pelos argumentos da Tamani (orgulho de ser professor destas pessoas inteligentes!). Ela diz " que ta acontecendo entre as gurias é que elas tão começando a ter muita intimidade umas com as outras..não é uma coisa ruim..só um poco exagerado". Concordo, inclusive a discussão que eu proponho certamente não é de marcar certo ou errado em termos de comportamento. Não é uma crítica, é uma constatação: as meninas têm desenvolvido em suas relações de amizade um subtexto que é reflexo dos novos tempos. Não quer dizer que sejam lésbicas ou bi, ou mesmo que estão em dúvida sobre a sua sexualidade.

    Logicamente que o fato das mulheres construírem amizades mais possessivas e admirarem mais a beleza das outras (mesmo querendo que, no fundo, as outras fossem umas barangas) permite que este tipo novo de comportamento: à possessividade no nível da maneira de falar (no discurso) pode ser agregado um elemento sensual que não indica necessariamente preferências sexuais.

    O curioso é que, na semana que fiz este post, saiu na Revista Época a matéria "Ser Bi está na moda", tratando de assuntos similares.

    Hisham, a tua contribuição foi daquelas tão boas, mas tão boas, que merece um post só sobre isso -- e um espaço no Flashback!

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  13. quero é que essas modinhas passem logo, antes que o mundo fique um lugar insuportável de tanto viado.

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