sábado, 6 de junho de 2009

Franquias Hollywoodianas: novas mitologias ou caça-níqueis descarados?

Inspirado pelo lançamento do novo Exterminador do Futuro, que inicia uma nova trilogia da série – o que é estranho, porque, a bem da verdade, não existe uma “trilogia inicial”, eu lembrei de uma notícia que, infelizmente, não consegui achar...

Recentemente, um executivo de algum estúdio em Hollywood confessou que o novo foco da indústria cinematográfica americana é investir em filmes que possam desencadear franquias rentáveis – algo do tipo a saga Harry Potter, por exemplo. O novo arquétipo destas novas franquias é a trilogia malenjambrada Piratas do Caribe: o primeiro filme foi feito sem maiores compromissos do que ser uma reciclagem de um subgênero (as fitas de pirata) para o público do novo milênio. O retorno foi tão bom que alguém decidiu arbitrariamente que A Maldição do Pérola Negra nada mais era do que o início de uma história mais longa e forçou-se, assim, a produção de outros dois filmes.

Para os próximos anos, podemos esperar o reinício de várias franquias do passado (que, no jargão cinematográfico atual, chamam-se reboots): Robocop e Conan estão previstos para recomeçar do zero (como é o atual Star Trek e como foi uns anos atrás Cassino Royale para James Bond). Fora, é claro, todos os próximos filmes produzidos através da Marvel: o que já era uma saga em si só, o universo X-Men, agora virou uma franquia de spin-offs (outro termo moderno) – ou seja, filmes relacionados com o universo, mas que exploram subtramas e não dão seguimento à história principal.

Outro exemplo da Marvel são as atuais produções que devem, no final, se encaixar uma na outra: Homem de Ferro não só resultou na sua sequência, a ser lançada no ano que vem, mas vai ter relações com filmes previstos para o Capitão América e Os Vingadores. Fora que o novo Hulk (que já tem relação com Homem de Ferro) simplesmente dispensou aquele dirigido por Ang Lee uns anos atrás, como se nunca tivesse existido.

Para acompanhar este imbróglio todo, só sendo muito nerd mesmo...

Mas enfim, o que estes filmes em série, como todos seus reboots, spin-offs, sequências e prequels representam de fato? Um impulso criativo de cineastas, fascinados por universos específicos, ou pura ganância? É fato que os filmes de franquia geram uma receita incrível, que transcende as bilheterias e se materializa na forma de produtos licenciados. Assim também como é fato de que estas grandes sagas de fantasia são responsáveis pela criação das mitologias modernas: aqueles conjuntos de histórias que, por mais irreais que sejam (e por isso mesmo), são representações perfeitas da nossa mentalidade enquanto sociedade.

O que vocês acham?

17 comentários:

  1. Pra variar, um pouco de cada. Não duvido que cineastas como o Bryan Singer sejam realmente fascinados pelo mundo dos quadrinhos. A questão é que essa batelada de filmes em série são movidos obviamente pelo dinheiro; alguns "fazem sentido", outros não. "Fazer sentido" aí precisa de muitas aspas, porque a gente atrela isso muito ao resultado final. (Mas acho que não deveria ser assim: uma sequência para Matrix faz todo o sentido dada a história, mas as continuações feitas ficaram, na minha opinião, muito aquém.)

    Observação genérica: os 80s foram cheios de continuações, os 90s menos e nos 00s a moda voltou. Pode ser cíclico.

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  2. Pode ser cíclica a falta de criatividade na cultura de massa, quem sabe?

    Eu acho que as franquias têm muito mais a ver com o dinheiro do que com interesses artísticos (raras são os exemplos contrários). É o caso, por exemplo, da série James Bond. Nunca vai se deixar de fazer um filmes de 007, porque eles fazem parte tão integrante da nossa cultura que não têm como dar errado em termos de faturamento.

    É emblemático, porque muda o ator que interpreta o agente, dificilmente um cineasta se senta na cadeira de diretor mais de uma vez, não raro os filmes são fracos, eles costumam envelhecer mal e ainda assim são considerados clássicos -- porque são filmes de James Bond.

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  3. James Bond é como o Chapolin... mudam os cenários, os enredos, os personagens. Mas a idéia é sempre a mesma. E de fato eu sempre me divirto olhando tanto um quanto outro!

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  4. Bom, não conheço muito de cinema, mas:
    -Eu gosto de ver filmes de quadrinhos.
    -Não gosto de 007.
    -Concordo com o Hisham sobre o Matrix.
    -Adorei os ultimos Batman.
    -Me diverti vendo Rambo III ontem.

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  5. - Eu estou começando a cansar de filmes de quadrinhos, apesar de que, na média, eles têm melhorado substancialmente.
    - Eu gosto de 007 pelo lado folclórico da série (e pelos dois ou três filmes realmente excelentes da série).
    - Acho que a até os irmãos Wachowsky concordam com o Hisham sobre as continuações de Matrix.
    - Os dois últimos Batman merecem um comentário a parte.
    - Rambo É divetidíssimo, porque é folclórico. No IV, eu quase morri de rir com o tiroteio final. :D

    Não se vexe de achar que "não conhece cinema", Jean. Como diria uma amiga minha: "tem gente que não gosta de sexo, mas todo mundo gosta de cinema". Em suma: todo mundo tem opinião sobre cinema, hehehe!

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  6. O Batman adaptado para o cinema é interessante. Lá se vão 20 anos desde a megaprodução do Tim Burton. E podemos dividir em três fases de dois filmes cada:

    1. Era Tim Burton na direção: "Batman" (1989) e "Batman Returns" (1992). Filmes góticos, de caráter satírico e sombrio, com pouca ação e foco sempre nos vilões -- que eram divertidos em sua subversividade, nunca ameaçadores.

    2. Era Joel Schumacher na direção (controlem-se com os trocadilhos): "Batman Forever" (1995) e "Batman e Robin" (1997). Abertamente calcados na série televisiva sem noção dos anos 60. Ação, cenografia, enredos, personagens e efeitos espalhafatosos, um verdadeiro carnaval sem Sapucaí.

    3. Era Christopher Nolan na direção: "Batman Begins" (2005) e "Batman, Cavaleiro das Trevas" (2008): narrativas sofisticadas, clima realista, foco essencial em cima da trajetória do heroi.

    Hoje, a Warner não pensa em fazer outro Batman que não seja com Chris Nolan e seus colaboradores capitaneando o projeto -- resolveram dar o valor ao trabalho autoral e cuidadoso de um diretor e sua equipe. Entretanto, se ele se recusar a tomar a direção uma terceira vez, pode ter certeza que se arranjará outro para o projeto -- por mais que isso arredonde em perder quem está no elenco, perder a confiança de crítica e fãs, etc.

    Porque Batman dá MUITO dinheiro.

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  7. Cara, eu acho que tem casos e casos. Pelo meu trabalho atual, estou acompanhando quase todos esses filmes do universo da cultura pop (quadrinhos, refilmagens e o escambau).

    O que tenho visto é que, em alguns casos, os caras estão conseguindo unir qualidade e "pipoca" com maestria, vide os dois últimos Batmans e o recente Star Trek do J.J. Abrams (eu, pelo menos, achei um baita filme). Só que, ao meu ver, esse mercado já tá quase chegando num ponto de saturação. Ou alguém vai aguentar ver nove (NOVE!!!) filmes com o personagem Nick Fury estrelados pelo Samuel L. Jackson? Acho que vai começar a cansar o público, sacam...?

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  8. Mas um filme "pipoca" não é necessariamente um filme ruim. O motivo final destes filmes, claro, é entreter -- o que não significa que eles não possam dar ao espectador uma experiência de imersão mais interessante do que estes filmes costumam ser.

    Os dois primeiros Terminators, por exemplo, são filmes que tu tem vontade de visitar constantemente, de tão bom entretenimento que são (especialmente o T2). O problema é que a resolução de fazer mais filmes desta série (e de qualquer outra), não é o de explorar as demais possibilidades que este universo proporciona -- é de manter viva uma franquia rentável.

    Sei lá, obras de arte que não partem de um pressuposto intangível do impulso artístico até me entretêm, mas não me encantam. E é falta de criatividade demais... ;)

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  9. Sobre o fenômeno cíclico: acho que o que acontece é que o público fica saturado, "o truque não cola mais", aí eles têm que esperar uma geração seguinte.

    Sobre o 007: já assisti alguns filmes da série do começo ao fim na TV (até porque eu dificilmente largo um filme no meio), mas não sou fã da série. Aliás, 007 é talvez a franquia que definiu a noção de "franquia" (ou talvez a de "franquia hollywoodiana", se a gente pensar nos milhões de filmes de Godzilla) -- não tenho saco pra ver filme do 007 assim como não tenho saco pra ouvir disco do AC/DC.

    Sobre os novos filmes do Batman: adorei eles; acho que aquilo que eu falei do Singer se aplica aos irmãos Nolan também. Acabei de conferir a filmografia do Christopher Nolan e vi que tem dois filmes dele que eu ainda não vi -- hora de ir atrás. Vi também que o tal do Terminator Salvation tem roteiro do Jonathan Nolan, mas isso não é suficiente pra me querer fazer ver (o currículo do diretor me tirou qualquer ponta de vontade também).

    Sobre o Rambo: não lembro de praticamente nada sobre eles fora a cena icônica do Rambo amarrando a fitinha na cabeça e que algum dos filmes se passa no Afeganistão. E não quero relembrar mais nada.

    Sobre a série Batman: os filmes do Tim Burton são "filmes do Tim Burton" e não "filmes do Batman". A filmografia do Schumacher é tão patética que os 1 ou 2 filmes que se salvam provavelmente prestam "apesar dele". Quanto ao Nolan, o maior acerto dele foi se basear nas graphic novels. Quem acha o Coringa do Heath Ledger "foda" não leu The Killing Joke. Eu achei "fiel, dentro dos limites de classificação de censura americana a que o filme se propôs". E já me chamaram de blasé (ou equivalente) por dizer isso mas: será que só eu saí do filme mais impressionado com a caracterização do Duas-Caras?

    Sobre filmes "pipoca": eu gosto de muitos, mas ultimamente poucos têm me apelado. O T2, por exemplo, eu acho genial. Falando em Schwarzenegger, talvez na real eu goste mais ainda do Total Recall (O Vingador do Futuro). Não saí de casa pra ver T3, T:Salvation, Iron Man nem Star Trek (e nem vi eles em casa também). Talvez os dois últimos eu me animaria a ver, mas temo que eu tenha dificuldade em engolir o Star Trek, porque eu curtia muito o elenco original quando era criança.

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  10. Olha ae, olha ae:

    http://www.rollingstone.com.br/secoes/novas/noticias/5458/

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  11. O interessante do 007 é ser comumente relacionado com franquia hollywoodiana quando, na verdade, é uma franquia inglesa. Aliás, o conteúdo de violência e sexualidade dos primeiros filmes de James Bond seriam impossíveis de serem aprovados ainda na formulação pelo Código Hays (a auto-censura do cinema americano, ainda em vigos nos anos 1960).

    Os exemplos de franquia em Hollywood vêm de muito tempo, mas de uma maneira que difere um pouco conceitualmente dos dias de hoje. A Universal, por exemplo, criou um ciclo de obras de horror nos anos 30 e 40 que tinham as mesmas equipes envolvidas, assim como os mesmos atores e diretores, tratando de monstros "clássicos" (Drácula, a criatura de Frankenstein, lobisomem). Em dado momento, o filão estava se esgotando em termos de novas ideias e os roteiristas passaram a promover cruzamentos destes monstros nos mesmos filmes.

    Sobre o primeiro "Drácula" (1931, aquele com Bela Lugosi), por exemplo, há uma história ótima que ilustra o filme como parte de uma franquia: como o processo de legendagem ainda não estava suficientemente deselvolvido (o som no cinema era novidade), os produtores faziam não só o filme em inglês, mas também uma versão em espanhol, destinada ao mercado latino-americano. Se usava o mesmo roteiro (traduzido, logicamente), nos mesmos cenários, só que com equipes e elenco diferentes.

    Em suma, há um "Drácula" em espanhol, feito simultaneamente com o "Drácula" clássico -- simultaneamente MESMO, porque a "equipe espanhola" filmava à noite, assim que a "equipe inglesa" terminava de trabalhar. E, pelo que se comenta, o "Drácula" espanhol é melhor filme que o "Drácula" de fato -- mas foi criado exclusivamente por uma questão de mercado.

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  12. Só uma correção: o "irmão Nolan" não está no roteiro do novo "Terminator". Quem atende por ele são John Brancato e Michael Ferris (parete de Ferris Bueller?).

    Qual foi os filmes do Nolan que tu não viu, Hisham? Eu só não vi o primeiro, feito ainda na Iglaterra...

    E eu fiquei muito impressionado com o Duas Caras, para ficar no teu time... ;)

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  13. Diz na Wikipedia que o Jonathan Nolan trabalhou no roteiro, e que o diretor disse: "I would have to characterize Jonah as the lead writer of the film. I don't know how the WGA rules work. I'm looking at Sam from Sony, you probably know better. But honest to goodness we did the heaviest lifting with Jonah, and that's where we all got that and talked about what we were up to."

    E tu é a terceira pessoa a perguntar quais os dois filmes. :) Foram "Following" e "Insomnia". To vendo que tenho que ver eles logo de uma vez!

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  14. E falando nisso......

    Os três próximos filmes da Pixar serão continuações. Estão no forno sequências de Monstros S/A, Carros e Toy Story.

    "Vamos faturar!"

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  15. Pois no IMDb (que é a minha contrapartida da Wikipedia) não diz nada -- e eu me recuso a aacreditar que ele tenha trabalhado justamente no que é a parte frágil deste Terminator, o roteiro (convicção pessoal, hehehehe).

    Ok, que pena, ele participou do filme... Deve ter sido dele a parte de ideias muito legais. Alguém mais aí viu o filme?

    O "Insônia" é ótimo, um Hitchcock de fim de milênio. É uma refilmagem de um suspense sueco (???) que eu tenho muita curiosidade de ver, mas que não foi lançado no Brasil.

    Já as cotinuações da Pixar têm dois motivos para existir: uma delas é que os universos de "Toy Story" e "Monstros S.A." são suficientemente amplos e podem ser mais explorados ("Carros" eu acho a obra mais fraca deles, ainda sendo uma boa animação). O outro motivo é financeiro mesmo: para poder realizar criações mais adultas, sofisticadas e "autorais" (como são os recentes "Ratatouille" e "Wall-E") de quando em vez, eles precisam de arrecadações mais siginificativas.

    É curioso, na verdade: a Pixar tenta equilibrar dentro da sua própria filmografia a balança do cinema mundial: filmes de sucesso arrasador são os que permitem os filmes menores, mais criativos e artísticos -- por manterem cinemas, locadoras de vídeos, mídia de cinema e que tais em funcionamento ou expansão. Só é graças ao blockbuster que o filme iraniano vai encontrar salas abertas para ser exibido...

    ... Desde que não seja na temporada do verão norte-americano... ;)

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  16. Nossa... pra mim, a temporada de verão americana é um inferno. Pra fazer o programa é terrível, eu gosto de deixar ele equilibrado, com coisas mais obscuras e coisas mais pop. Mas nessa temporada de verão deles só sai os pop, fico sem opções...

    Pra vcs terem uma ideia, nessa semana tem tanto filme estreando por aqui que eu vou poder abrir mão de colocar a Hanna Montana no programa. Vou aproveitar esse final de primavera deles, pq as vacas magras já vão começar...

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  17. Que coisa ruim, né, Chico? Não poder fazer uma matéria com a Hanna Montana...

    :D

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