sábado, 20 de junho de 2009

A Escola na Sociedade Pós-Industrial

Vivemos em uma sociedade pós-industrial. Ao contrário da sociedade agrícola, baseada na terra, e da industrial, com seu poder propulsor nos métodos de manufatura e organização mecanicistas, experimentamos uma visão de mundo embasada no conhecimento e na comunicação. Aqui, a sociedade de disciplina perde seu poder. Os defensores do statu quo encontram dificuldades e o vêem como caótico, desorganizado e perigoso. Mas não se dão conta que sua visão que é atrasada.

A escola com disciplinas engessadas, métodos de avaliação grotescos e organização baseada na disciplina, acabam por premiar quem apenas obedece, não analisa, não questiona, em detrimento do pró-ativo, que não se contenta com uma explicação superficial e imprecisa. Isto funcionava muito bem no passado, onde era necessário ter um trabalhador obediente e submisso, apertando parafusos o dia inteiro. Mas num mundo onde as relações humanas, os diferentes métodos de trabalho, a preocupação com o meio ambiente e a tentativa de resgate da vida saudável estão cada vez mais em voga, a forma com que a escola trabalha é um erro brutal!

As disciplinas com seus conteúdos mal explicados e fora do contexto, contribuem para com que o aluno perca interesse e não aprenda. As avaliações não avaliam o aluno como ser pensante e sim como “papagaio”, que apenas ouve e repete. Obviamente, é muito mais fácil aplicar uma prova onde o sujeito tem apenas que dizer o lema da Revolução Francesa do que debater sobre a sociedade européia no século XVIII. É bem mais prático fazer o jovem decorar a equação da gravidade do que ajudar ele a chegar às mesmas conclusões que Newton, utilizando seu próprio intelecto. Isto tudo age contra as novas idéias que experimentamos.

O mundo está mudando muito e muito rápido. E para que consigamos acompanhar as próximas mudanças, temos que fazer uma análise profunda sobre a escola. Está na hora de aumentar a “inspiração” frente à “transpiração”, para que os próximos tenham a capacidade de entender o mundo, e acima de tudo, interagir com ele.

15 comentários:

  1. Como eu sou professor, vou ser o primeiro a comentar. :)

    O único problema não é apenas a escola. O ensino (especialmente no nosso caso brasileiro) está logicamente desafasado, com uma elaboração canhesta, onde se prefere criar um ano a mais no ensino fundamental a implantar turno integral -- uma logística mais complexa, com certeza, mas de resultados muito mais avançados na educação de qualquer pessoa.

    Entretando, a experiência em sala de aula de mostra que não são apenas as instituições, as políticas e os professores estão presos a estes formatos. Os próprios alunos, de uma maneira geral, se colocam nesta posição subserviente. Preferem obedecer a comandos e sugestões de professores a, citando o Roberto, analisar, questionar e ser pró-ativo.

    Seria muito mais fácil para mim, por exemplo, dar ideias prontas aos meus alunos de oficinas de cinema, quando partimos para o trabalho prático. Não raro, eles querem que eu solucione problemas criativos (como terminar um filme, que nome dar aos personagens, etc). Explico sempre que o objetivo das minhas aulas é exatamente forçar o cérebro deles a enfrentar problemas.

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  2. Completando:

    Também não podemos nos iludir que precisamos fazer os alunos de aprofundarem em assuntos sofisticados se nada têm de entendimento prévio sobre eles. Não podemos debater a sociedade francesa do século XVIII sem que, de fato, os alunos saibam o lema da Revolução Francesa, para ficar exemplo inverso ao do Roberto. Queimar etapas é coisa que não podemos fazer.

    Por isso eu sou um grande defensor do turno integral nas escolas -- imersas mais tempo no ambiente escolar, os alunos aproveitam melhor não só conteúdos e informações, mas expandem as suas ideias de convívio social. Afinal de contas, o papel máximo da escola e do educador não é fazer com que alunos aprendam e decorem, mas sim que eles comecem a pensar -- e melhor ainda se eles descobrirem mais sobre eles próprios no processo do que sobre o mundo À volta.

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  3. (ainda não dominei a arte de colocar links nos documentários... Eu, excluído digital)

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  4. Também acho que as escolas em turno integral seríam de grande valia para essa questão. Andei lendo "El Caudillo", que biografa Leonel Brizola. Um dos capítulos analisa os CIEPs. Era uma idéia muito interessante que foi derrubada por motivos de "força maior". Estas escolas de turno integral, além de melhorar muito mais o aprendizado dos jovens, ainda iria protegê-los de grandes encrencas, como o crime, as drogas, a exploração infantil, etc...

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  5. Olha, quem convive comigo sabe a minha opinião sobre os métodos de ensino de professores do ensino médio, com algumas excessões é claro.

    Para exemplificar, sempre gosto de colocar a matemática em questão. Vocês nunca se perguntaram o porque de tanta gente odiar matemática? Eu me pergunto isso seguido, e uma das conclusões que eu chego é que forma de como a coisa é passada aos alunos é que está errado. Como disse o Roberto no exemplo do Newton, quando a coisa está fora de conceito e tu não sabe a utilidade tu acaba não se interessando.

    Todo mundo deve saber a equação de Báscara de cor, mas metade deve saber o que a solução significa.

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  6. Acima leia-se contexto no lugar de conceito ;)

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  7. Oi meninos, entrei em terreno masculino, mas achei que não poderia deixar de fora a minha contribuição.

    Não é somente uma questão de conteúdo das disciplinas e do método empregado pelos professores em sala de aula. Penso que é questão de atualização dos professores em muitos aspectos, mas principalmente tecnológico. As crianças já nascem na frente do computador e já se acostumaram a usá-lo como bengala em tudo. Crescem com o Google que dá as respostas prontas a elas, mas não desenvolvem o senso crítico para saber se a resposta de fato é válida. E quando chegam na idade dos alunos do Ulisses, querem tudo pronto, pois acostumaram assim.
    Não pensam e não são provocadas de forma atrativa a pensar. Um professor que não tem um mínimo de contato com tecnologia não consegue bolar formas de desenvolver o raciocínio dessa geração do ciberespaço.
    Além é claro, que nossos professores dos níveis fundamentais e médio, não se atualizam nem naquilo que deveriam em relação a conteúdo das disciplinas e cultura geral.
    O crescimento tecnológico é rápido demais para nosso sistema de ensino acompanhar em termos de estrutura, mas o mínimo de noção para usar a tecnologia a favor do ensino das gerações digitais deveria existir.

    abs
    Chai

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  8. Caros companheiros de blogosfera! Muito pertinente a discussão iniciada pelo post do nobre Coutinho. Tendo eu estudado um bocado sobre a educação ao longo da minha graduação, penso que posso complementar a discussão. E começo com uma pergunta: pode-se falar de educação sem falar em política? Ou ainda, nosso país seria o mesmo se todos os professores ensinassem a todos os seus alunos? Diante de tão remota possibilidade tive o privilégio de estudar com professores realmente dedicados (que estudam e ensinam a todos os seus alunos) que me liberaram pra aprender, lamentavelmente isso só ocorreu depois de entrar na universidade. Curiosamente podemos pensar que há interesses políticos em deixar a Educação como está, afinal se todos aprendessem na escola votariam nos políticos que estão no governo? Se, na proposta do Coutinho, tivessem aprendido a pensar e discutir a sociedade do sec XVIII ao invés de decorar o lema da Revolução Francesa pensariam antes de escolher seus representantes? Logro imaginar que tudo seria muio diferente. E se um médico está com um paciente em situação grave sem saber que doença ele tem, o que o médico faz? Estuda todo material que possuir que lhe possa ajudar, faz contato com seus pares no mundo inteiro e não descansa antes de descobrir um modo de realizar seu trabalho. E um professor que se vê diante de um aluno que não aprende, o que ele faz? Manda pro psicólogo, pro neurologista e em última instância devolve à família 'desestruturada' dele que ele não pode aprender porque tem 'déficit de atenção'. Défict de atenção de quem? Imaginem se todos os médicos diante de um caso difícil dissessem: infelizmente o problema é do doente, não posso fazer nada... O que é que falta pra educação? Como diz sabiamente a Profa Esther Grossi todos podem aprender, desde que alguém ensine... E ensinar é tarefa que demanda estudo ("Nada mais prático que uma boa teoria"), planejamento, reunião com colegas, etc e tudo isso numa constante, como em qualquer profissão, e por que é mesmo que fica diferente na Educação?

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  9. A visão da Chai sobre a Internet é um argumento muito interessante, pode ser levado em conta.

    Quanto ao interesse político em deixar a educação como está, eu acho que está mais para "desinteresse" do que interesse mesmo. Se as coisas estão boas para os políticos do jeito que estão, deixa assim, não mexe... :)

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  10. Ô seu Courinho, renderam as nossas conversas filosóficas na madruga, hein?

    Faço um comentário com mais consistência amanhã (Coutinho, 2009).

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  11. Vou colocar no meu currículo Lattes todas essas citações...

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  12. Foucault vive! :)

    Alguns comentários aleatórios:

    Esse post do Coutinho me remete a conversas que tivemos lá na praia ainda. A crítica ao modelo escolar baseada na sociedade de disciplina é pertinente (e não pude resistir a ilustrar o post com uma das cenas preferidas do Coutinho de The Wall :) ). Ao mesmo tempo, achei interessante uma ironia da meta-linguagem: ao mesmo tempo que o Coutinho critica as instituições, ele faz isso, pela força do hábito, usando uma dicção altamente acadêmica, usando um fraseado mais comum de ver em papers do que em blogs. Isso é por si só um comentário sobre o "poder condicionante" que o sistema acadêmico atual tem.

    O comentário da Chai foi muito legal, e me lembrou dessa palestra, onde a palestrante conta um episódio em que, pra fazer um trabalho escolar sobre "tartarugas", a filha dela cata o primeiro hit do Google Images, chega na escola, e encontra 30 tartarugas iguais nos trabalhos dos colegas.

    Mas era diferente no "nosso tempo"? Lembro de fazer trabalhos de aula na Biblioteca Pública e ficar jogando com os textos da Barsa, Delta Larrousse e etc. pra tentar produzir um texto "não copiado", fazendo força pra condensar as informações das fontes, mas às vezes me sentindo um cretino por ficar trocando "mas" por "porém" e afins. Ao mesmo tempo, era comum ver uns quantos colegas chegando com o mesmo texto da Barsa passado a limpo.

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  13. A internet ajudou a emburrecer a criançada, eles não escrevem em português, internet tem lingua própria (quando vejo um "naum" ao invés de "não" me dá náuseas).

    E parte da culpa do ensino fraco vem de casa, um pai que deixa uma criança de quinta série levar um celular pra aula tem tomar porrada, tá faltando impor limites pra piazada.

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  14. Boa brincadeira retórica com a fala do Roberto, Hisham. E obrigado por ter me salvo nos links! :)

    Claro que os nossos tempos não eram tão diferentes no que tange a querermos certas facilidades educacionais. Mas a internet criou algo novo, uma gerão que se acredita mais informada e que pode, inclusive, gerar a sua informação.

    Esta facilidade acaba se expressando na sala de aula, onde o professor, antes um opressor que certamente sabia mais, virou uma espécie de computador, de onde se espera que saiam informações claras e fáceis -- o que se reflete até mesmo nos alunos mais aplicados (o que não era praxe nos nosso idos tempos, hehehe).

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