segunda-feira, 17 de agosto de 2009

"Lado A Desafinado": os 50 anos do Kind Of Blue, de Miles Davis

No dia de hoje inicio uma série de celebrações de "50 anos" de um monte de coisas. Nos próximos 10 anos terei muitos discos para celebrar, nos 10 seguintes nem tanto - a não ser pelos meus próprios 50 anos (se a minha comemoração de 32 foi daquele jeito, imaginem como vai ser a festa aos 50...).

E a estréia é com o álbum Kind Of Blue, lançado em 17 de agosto de 1959, cujas sessões ocorreram nos dias 2 de março (lado A) e 22 de abril (lado B). O trumpetista Miles Davis reuniu a que talvez seja a melhor linha de frente do jazz de todos os tempos com os saxofonistas 'Cannonball' Adderley (sax alto) e John Coltrane (sax tenor). Ao piano ele teve Bill Evans (o grande co-compositor não-creditado do álbum) - mas para a faixa mais blues do álbum, Wynton Kelly tocou piano. Completam o sexteto: Paul Chambers no baixo e Jimmy Cobb na bateria - este último, o único ainda vivo do sexteto.

Miles queria a total espontaneidade dos músicos - nenhum deles tinha grande idéia do que iriam gravar naquela tarde da primeira sessão. Miles utilizou o conceito de jazz modal ("por escala"), livrando-se da forte dependência da melodia com a harmonia que o jazz (e o bebop, principalmente) tinha até então. Um esqueleto simples de acordes, a restrita utilização de escalas igualmente simples, e um andamento mais cadenciado deram asas à criatividade dos músicos e a álbum se tornou um marco da música, firmando o "Cool Jazz".

Ano passado foi lançada (antecipadamente) uma edição de 50 anos do Kind Of Blue, incluindo todo o c*ralho-a-quatro: vinil em cor azul, CD, DVD, e encartes com muitas fotos. Os comentários dos compradores sobre esta edição não são boas. Além de reclamações em relação à estrutura da caixa (que facilita o surgimento de arranhões no CD), há comentários sobre o pouco material extra de estúdio. Esta última crítica talvez seja injusta: naquelas duas sessões foi gravado apenas um take completo de cada música, com exceção de "Flamenco Sketches" - e ainda assim, este "Alternate take" já está presente nos CDs anteriores a partir de 1997.

E finalmente, explicando o título do Post, que é um link com o título do Blog: apenas na década de 80 descobriram que o equipamento que gravou a sessão do dia 2 de março (o lado A do álbum), estava com um pequeno problema de velocidade. As três músicas ficaram, portanto, levemente fora do tom. A partir de 1992, todos os lançamentos do disco estão com a "corrected speed".

Músicas:
Lado A:
1. So What (9:22)
2. Freddie Freeloader (9:46)
3. Blue in Green (5:37)

Lado B:
1. All Blues (11:33)
2. Flamenco Sketches (9:26)

Vídeos:
- Documentário (compacto) sobre os 50 anos
- "So What" ao vivo (1959)

Para saber mais:
- Kind of Blue no Wikipedia
- Livro do Ashley Kahn sobre o álbum. Já li, é muito bom. Recomendo não só para quem quer saber sobre a história do álbum quanto para quem gosta dos detalhes técnicos de gravação.

4 comentários:

  1. Eu vi uma reportagem na Globo sobre a tal reedição. O Cd parecia bem bonito, todo azul. Mas imaginei que seria bem caro, netão nem me prestei a ir atrás. Parece que fizeram uma reedição em vinil tb lá pelas bandas do Tio Sam.

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  2. Gustavo, confesso que só agora li o teu excelente texto - para eu, que não conheço coisa alguma de jazz, foi uma maravilha. Passei a manhã ouvindo as músicas que tu lincou (ou será "linkou"? enfim...).

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  3. Ulisses, que bom que gostou do texto!

    E espero que tenha gostado do disco. Como muitos falam: "se você ouviu Kind of Blue e não gostou, é porque você não gosta de jazz".

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  4. Confesso que não conheço nada de jazz (só sei os nomes dos famosos de ouvir falar). A expressão cool jazz, por exemplo, aprendi (e entendi) com o teu post. ;)

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