No dia de hoje inicio uma série de celebrações de "50 anos" de um monte de coisas. Nos próximos 10 anos terei muitos discos para celebrar, nos 10 seguintes nem tanto - a não ser pelos meus próprios 50 anos (se a minha comemoração de 32 foi daquele jeito, imaginem como vai ser a festa aos 50...).
E a estréia é com o álbum Kind Of Blue, lançado em 17 de agosto de 1959, cujas sessões ocorreram nos dias 2 de março (lado A) e 22 de abril (lado B). O trumpetista Miles Davis reuniu a que talvez seja a melhor linha de frente do jazz de todos os tempos com os saxofonistas 'Cannonball' Adderley (sax alto) e John Coltrane (sax tenor). Ao piano ele teve Bill Evans (o grande co-compositor não-creditado do álbum) - mas para a faixa mais blues do álbum, Wynton Kelly tocou piano. Completam o sexteto: Paul Chambers no baixo e Jimmy Cobb na bateria - este último, o único ainda vivo do sexteto.
Miles queria a total espontaneidade dos músicos - nenhum deles tinha grande idéia do que iriam gravar naquela tarde da primeira sessão. Miles utilizou o conceito de jazz modal ("por escala"), livrando-se da forte dependência da melodia com a harmonia que o jazz (e o bebop, principalmente) tinha até então. Um esqueleto simples de acordes, a restrita utilização de escalas igualmente simples, e um andamento mais cadenciado deram asas à criatividade dos músicos e a álbum se tornou um marco da música, firmando o "Cool Jazz".
Ano passado foi lançada (antecipadamente) uma edição de 50 anos do Kind Of Blue, incluindo todo o c*ralho-a-quatro: vinil em cor azul, CD, DVD, e encartes com muitas fotos. Os comentários dos compradores sobre esta edição não são boas. Além de reclamações em relação à estrutura da caixa (que facilita o surgimento de arranhões no CD), há comentários sobre o pouco material extra de estúdio. Esta última crítica talvez seja injusta: naquelas duas sessões foi gravado apenas um take completo de cada música, com exceção de "Flamenco Sketches" - e ainda assim, este "Alternate take" já está presente nos CDs anteriores a partir de 1997.
E finalmente, explicando o título do Post, que é um link com o título do Blog: apenas na década de 80 descobriram que o equipamento que gravou a sessão do dia 2 de março (o lado A do álbum), estava com um pequeno problema de velocidade. As três músicas ficaram, portanto, levemente fora do tom. A partir de 1992, todos os lançamentos do disco estão com a "corrected speed".
Músicas:
Lado A:
1. So What (9:22)
2. Freddie Freeloader (9:46)
3. Blue in Green (5:37)
Lado B:
1. All Blues (11:33)
2. Flamenco Sketches (9:26)
Vídeos:
- Documentário (compacto) sobre os 50 anos
- "So What" ao vivo (1959)
Para saber mais:
- Kind of Blue no Wikipedia
- Livro do Ashley Kahn sobre o álbum. Já li, é muito bom. Recomendo não só para quem quer saber sobre a história do álbum quanto para quem gosta dos detalhes técnicos de gravação.
segunda-feira, 17 de agosto de 2009
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Eu vi uma reportagem na Globo sobre a tal reedição. O Cd parecia bem bonito, todo azul. Mas imaginei que seria bem caro, netão nem me prestei a ir atrás. Parece que fizeram uma reedição em vinil tb lá pelas bandas do Tio Sam.
ResponderExcluirGustavo, confesso que só agora li o teu excelente texto - para eu, que não conheço coisa alguma de jazz, foi uma maravilha. Passei a manhã ouvindo as músicas que tu lincou (ou será "linkou"? enfim...).
ResponderExcluirUlisses, que bom que gostou do texto!
ResponderExcluirE espero que tenha gostado do disco. Como muitos falam: "se você ouviu Kind of Blue e não gostou, é porque você não gosta de jazz".
Confesso que não conheço nada de jazz (só sei os nomes dos famosos de ouvir falar). A expressão cool jazz, por exemplo, aprendi (e entendi) com o teu post. ;)
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