terça-feira, 4 de agosto de 2009

"Vossa Excelência é um canalha!": luta de titãs no Senado

Fazia um tempinho que o Senado Federal não nos brindava com algum bom bate-boca para animar o baile político de Brasília. De uns anos para cá, a chamada Câmara Alta do Congresso passou a rivalizar em chinelagem com a Câmara dos Deputados, costumeiro antro de negociatas e lar de políticos estúpidos (que rivalizam em idiotice, claro, com o povo que os elegeu). Nos últimos anos, tem sido frequente a encenação de farsas satíricas na tribuna (ou palco) senatorial, protagonizadas especialmente pelos seus presidentes -- como no caso de Jader Barbalho em 2002 (numa denúncia levantada, acreditem se quiser, pelo já-foi-tarde Antônio Carlos Magalhães).

Pois ontem tivemos um duelo de titãs no Senado, daqueles que mereciam uma crónica épica para si só. O fandango envolveu o sempre faca-na-bota Pedro Simon, eterno senador pelo Rio Grande do Sul (em seu quarto mandato), que pedia mais uma vez que o nosso já debatido José Sarney deixasse a presidência daquela Casa. Aliás, quem conhece a trajetória parlamentar de Simon sabe que ele defende com força a saída de senadores, ministros e que tais, quando estes paracem envoltos em confusões. Ontem, porém, ao discursar para um Senado vazio (bem ao modo das segundas-feiras no Planalto Central), Simon incorreu na fúria de dois monstros sagrados (mais monstros do que sagrados, vejam bem) da política alagoense.

O primeiro a tomar as dores do Lorde do Maranhão e do Amapá foi Renan Calheiros -- do mesmo partido de Simon, o PMDB, e ele mesmo um presidente do Senado destituído por conta de um escândalo, em 2007 (pelo menos, tem muito bom gosto para escolher suas amantes...). Renan começou a atacar Simon, ao proferir que era "esporte preferido" do senador gaúcho denegrir o ex-predidente durante os "últimos 35 anos", lembrando que Simon não queria Sarney na chapa de Tancredo Neves (no que, temos que convir, Simon tinha toda a razão). O caxiense não leva desaforo para cara e, para ficar no campo light do que poderia dizer, acusou Renan de ter feito alianças com Fernando Collor -- que, vejam vocês, foi eleito senador pelo estado de Alagoas (campanha pela emancipação deste estado do resto do Brasil, pelo amor de Deus!) e que, mais incrível ainda, estava dentro do Senado naquela hora.

Collor mandou Simon engolir suas palavras, digeri-las e fazer o que quisesse com elas -- ou seja, cagá-las. Collor, aliás, usou a sua conhecida expressão facial enlouquecida ao xingar Simon, olhos vidrados e dedo em riste. Há que se ter respeito pelo homem: seu pai, o saudoso senador Arnon Afonso de Mello, tentou matar a tiros (dentro do Senado!) seu inimigo político Silvestre Péricles de Góis Monteiro, em dezembro de 1963. O papai de Collor, porém, tinha mira ruim e acabou acertando três tiros no senador acreano José Kairala, que nada tinha que ver com a história e morreu. O que aconteceu com Arnon de Mello? Foi cassado mas não condenado, e retornou às funções senatoriais em 1970, sendo reeleito oito anos depois. Morreu placidamente no exercício da função.

Ora, vá que Collor tente acertar Simon e acabe atingindo, sei lá, o importantíssimo senador Papaléo Paes (não é brincadeira, tem um cara com esse nome). Simon vai ter que esperar (sentado) as denúncias que Collor ameaçou fazer ao senador riograndense durante o nhenhenhém de ontem.

Enquanto isso, o Conselho de Ética vai arquivando as denúncias contra Sarney. E nós, aqui, ficamos no aguardo do próximo escândalo, desejando ardorosamente que um parlamentar grite em alto e bom som para algum ilustre colega: "Vossa Excelência é um canalha!".

32 comentários:

  1. CONTÍNUOS! Bando de contínuos!

    Não, contínuos não. Seria um desrespeito de minha parte. Com os contínuos, claro.

    ResponderExcluir
  2. E eu aprendendo história com vcs, mas ao mesmo tempo cada vez mais sem esperança nos politicos brasileiros.

    ResponderExcluir
  3. O que me impressiona é como que esta história de Papai Collor foi tão bem abafada durante a candidatura de 1989. Não lembro de ninguém comentando isso naqueles idos tempos...

    ResponderExcluir
  4. Pra não ficar só no comentário engraçadinho: o Pedro Simon é um cara, no mínimo, interessante de ser estudado. Não sei dizer se ele se mete nessas confusões de tempos em tempos apenas para "mostrar serviço" ou se é por convicções políticas mesmo (o que eu realmente espero que seja). Não sei se ele é mais fogueteiro do que realmente um bom político. Mas ele é um dos poucos que mete o dedo na cara desses coronéis ainda no Senado. E isso, por si só, já é positivo. Nesse caso, mesmo que a intenção dele não seja das melhores, mesmo que seja uma auto propaganda, os fins justificam os meios.

    ResponderExcluir
  5. Gostei do "crónica" com a ortografia portuguesa (que agora, com o Acordo, é oficialmente válida no Brasil!). :)

    ResponderExcluir
  6. Putz Jean!!?! tu ainda tem esperanças!?!?!

    Politico honesto no Brasil é urubu branco, nunca vi um!!

    ResponderExcluir
  7. ae Chico, alguém que concorda comigo que dependendo dos fins é possível justificar os meios. Simon tem meu apoio, sendo convicção política que serve pra publicidade dele ou não.

    Há quem questione a utilidade do Simon como político, mas vejam bem: se os senadores só(só!) aceitassem ganhar seus salários nada modestos e fizessem "nada", a situação dos cofres brasileiros já estaria melhor. Não é preciso haver tanta ganância dessa classe, querendo roubar milhares, milhões, bilhões em esquemas fraudulentos e um pouco arriscados. Por que não se contentam em receber um salário suficientemente alto sem nem precisarem fazer muita coisa?
    Que todos sejam igual ao Simon, "inúteis" e honestos.

    ResponderExcluir
  8. A honestidade do Simon é questionável....

    ResponderExcluir
  9. Bom, tudo na vida é questionável. Questionemos então. :)

    Baseado em que tu põe a honestidade do Simon em dúvida?

    ResponderExcluir
  10. Enquanto aguardamos a resposta, recordemos. Pois recordar é viver.

    ResponderExcluir
  11. Simon era amigo do meu pai nos gloriosos tempos de luta contra a Ditadura pelo MDB, então me sentirei tentado a defender o senador, hehehe.

    Mas eu não o acho um político "inútil". É necessário a figura de parlamentares que se prestem a cuidar da retidão da instituição e não apenas a apresentar projetos de lei. Além disso, ele cumpre a sua função de representação de uma unidade federativa (que o motivo da existência do Senado ao lado do Câmara de Deputados) e defende os direitos do RS com frequência. Qual é outro senador gaúcho a aparecer desta forma? Zambiazi?

    De fato, acho interessante a honestidade dele ser questionável, porque é um cara que -- pelo que tudo indica -- não enriqueceu através destes quatro mandatos (mas sempre posso estar enganado). Seria por alguns casamentos políticos, vez que outra?

    ResponderExcluir
  12. P.S.: interessante ver o perfil do Simon no site do Senado, para acompanhar a atuação dele em comissões, proposições, etc. Dá para chegar a alguma conclusão pessoal, pelo menos, sobre o trabalho dele.

    ResponderExcluir
  13. Gostei do "crónica" com a ortografia portuguesa.

    Putz, Hisham, cheguei a pensar em corrigir, mas agora que tu apontou o erro vira folclore, hehehe!

    ResponderExcluir
  14. Como eu sempre digo pro Jean, politico é tudo filho da p*&¨%, o Simon fez o maior discurso contra o Sarney, mas aqui no RS fez que não viu nada nos escandalos da Yeda.

    Por mais honesto que a pessoa seja, quando filiada a um partido politico a coisa muda, sempre existe um fundo de campanha, um dinheiro que rola por fora e etc. Os partidos são sujos.

    O politico tem poucas opções, ou entra no esquema, ou se omiti ou cai fora. Botar contra o partido é suicidio.

    ResponderExcluir
  15. Não sei se eu concordo com o Fábio -- afinal, enquanto senador, o Simon não tem como função esbravejar contra o governo estadual, já que são esferas diferentes. Quem tem que se preocupar com a governadora falcatrua são os deputados estaduais.

    Importante ressaltar que o Simon e a Yeda são de partidos diferentes (PMDB e PSDB), que aliás, estão em lados opostos do ringue político nacional no momento.

    ResponderExcluir
  16. São esferas diferentes, mas a Yeda é apadrinhada dele. Ele sempre defendeu a Yeda.

    ResponderExcluir
  17. E o ministério público federal está (ou estava) investigando a Yeda, o que põe tudo na mesma "esfera".

    Quanto PMDB e PSDB, é tudo farinha do mesmo saco, se matam em um dia e no outro estão fazendo alianças.

    ResponderExcluir
  18. Mais uma informação para esquentar o debate.

    Aliás, precisamos de um post sobre a Yeda.

    ResponderExcluir
  19. Ps: sou a favor de que estas afirmações saiam da esfera do "é tudo uma merda" e ganhem uma análise mais aprofundada.

    ResponderExcluir
  20. Ps2: não estou defendendo ninguém, só quero entender um pouco mais as afirmações dos comentários.

    ResponderExcluir
  21. Eu nem gosto de discutir politica, eu trabalho a 11 anos numa instituição politica.

    Independente do partido, SEMPRE rolo um caixa 2 e negócios mau explicados. E o pior que quem trabalha aqui que se "fode" com as alianças e etc.

    ResponderExcluir
  22. a Yeda é apadrinhada dele

    De fato, isso eu não sei (sei que a Yeda começou a carreira partidária no PSDB, não no PMDB). Mas alianças fazem parte do "jogo político", por assim, devido à natureza da constituição partidária do país. Estes "casamentos políticos" são frenquentes e nenhum político se salvaria se levantarmos todos eles. O Brizola foi contra o impeachment do Collor, por exemplo.

    o ministério público federal está (ou estava) investigando a Yeda, o que põe tudo na mesma "esfera"

    Quando um alto cargo do Executivo (como é o caso de governadores) precisa ser investigado, ele é investigado na instância federal. Se o Ministério Público está fazendo o seu trabalho de maneira correta (e, para variar, parece estar fazendo), um senador não tem que se manifestar se não estiver envolvido de alguma forma na investigação. Agora que o MP sugeriu o afastamento da governandora, podemos esperar alguma posição dele.

    Quanto PMDB e PSDB, é tudo farinha do mesmo saco, se matam em um dia e no outro estão fazendo alianças

    Na minha visão, este é o maior mal da política nacional. É a tal da governabilidade, que parece ser tipicamente brasileira: para poder governar, o partido eleito para os cargos de Executivo precisam prometer benefícios para outros partidos para ter maioria nos Poderes Parlamentares e traçar com eles, não raro, alianças excusas (vide caso do Mensalão).

    No fim das contas, quase nenhum partido nacional tem uma ideologia visível e clara que dite as suas ações enquanto governo -- fora, talvez, os radicais como PSTU, PRONA e que tais. Isso faz o eleitor escolher a "pessoa", e não a "proposta ideológica" do partido. Na minha visão, enquanto isso exisitir, nossa democracia nunca amadurecerá.

    ResponderExcluir
  23. Independente do partido, SEMPRE rolo um caixa 2 e negócios mau explicados

    Cara, te admiro por ter que aturar este tipo de situação, deve ser uma merda mesmo.

    ResponderExcluir
  24. Fábio, tu chegou no que eu considero a origem de todo o problema. Por quê SEMPRE rola um caixa 2 e negócios mau explicados?

    Porque as pessoas DEIXAM isso acontecer. Brasileiro tem preguiça de cobrar honestidade, além de uma memória muito curta: o cara roubou? Joga uma notícia nada-a-ver pra gerar uma polêmica e ninguém mais lembra de nada.

    Me lembrei agora daquela ridícula campanha em 2005 do "não ao desarmamento", que fez todo mundo esquecer o Mensalão...

    ResponderExcluir
  25. Não acho o Simon "inútil", só dei um exemplo pra ilustrar. Todos caras são questionáveis, resta escolher aqueles que os fins possam justificar os meios(caixa 2 ou não).
    Em especial em relação ao Simon, ele tem meu apoio e tem história interessante. Tem gente que fala que ele era omisso na ditadura, que nem precisou ser exilado, etc. Acho isso uma bobagem, até porque já escutei as histórias dele da época, quando ele era acordado de noite, ia nas delegacias de pijamas e ajudava na liberação de estudantes, etc

    ResponderExcluir
  26. Como estou viajando, não consigo acompanhar muito bem os últimos acontecimentos políticos do país e do RS. Portanto vou me abster de palpitar sobre o que ocorre.

    Só gostaria de fazer alguns comentários sobre tudo o que li neste post. Não conheço muito bem a história do Pedro Simon. Só sei que desde que ouço falar em política, ouço o nome dele. E desde sempre ele mete o dedo na cara dos maiores coronéis deste país. Mesmo assim, nunca vi ninguém conseguir derrubar ele. Ou seja, Acho difícil ele estar metido com a esfera mais podre da política nacional.

    Alianças políticas são um caso à parte. Isto é a base da política. Mesmo tendo pontos de vistas diferentes, as alianças devem ocorrer visando um bem comum. Isto acontece na política, no meio empresarial e na vida pessoal de todos nós. O problema é que, como o Ulisses comentou, no Brasil os partidos não tem visões sólidas. Andam de acordo com a corrente do mar e se unem muitas vezes com má fé. Mas isto só resolveria com uma profunda reforma política além da mudança cultural do brasileiro.

    Para terminar o comentário, uma curiosidade: Arnon Afonso de Mello é filho de Lindolfo Collor, ilustre leopoldense e colega de profissão do não menos ilustre, Chico Pereira. Ministro do Trabalho, Indústria e Comércio no governo Vargas, ajudou a instituir as leis trabalhistas no país.

    ResponderExcluir
  27. Bom, "Vossa Excelência é um canalha" pode não ter rolado ainda, mas que tal "cangaceiro de terceira categoria"?

    E isso que é a Câmara Alta do país!

    ResponderExcluir
  28. Roberto, Arnon de Mello não é filho do Lindofo Collor, ele é do outro ramo da família do nosso amado ex-presidente... :D

    E o vídeo que o Hisham lincou... maravilhoso! Notem a dificuldade do Sarney achar qual a sineta mais alta, mesmo após tantas vezes sentado naquela cadeira.

    ResponderExcluir
  29. Tens razão! De qualquer forma, o "fernandinho" tem a política forte em sua genética...

    Que pena que estou perdendo tudo isso. Pelo jeito estão divertidas as coisas por aí! Cangaceiro de terceira categoria é ótimo!!!

    ResponderExcluir
  30. Bãin, essa eu vi de passagem ontem. O melhor foi o Ricardo Boechat se matando de rir depois!

    ResponderExcluir
  31. Pessoas, eu já tenho praticamente 40 anos. Já vi Lula defendendo proletariado (sim, é verdade), me lembro do tempo da ditadura, fiz festa com a derrocada da mesma, me lembro do scorpions no rock´rio agitando a bandeira do brasil no dia da votação do maluf x tancredo, do sarney tomando conta do governo, me lembro muito claramente da eleição do governo do estado entre Jair Soares (arena) x Pedro Simon (MDB) em 1982... me lembro de tanta coisa... e hoje digo que, apesar de ser anteriormente defensor do voto consciente, hoje digo com todas as palavras : "EU ANULO MEU VOTO!" . Não quero fazer parte desta corja. É tudo revoltante, ver adversários que se degladiavam em campanhas eleitorais hoje serem amigos "coligados". Cês se lembram da foto que coloquei no vídeo de "Brain Damage", onde estavam Lula, Itamar, Sarney e Collor sorrindo pra câmera? pois é. E não me falem mais desta MERDA toda.
    Moser

    ResponderExcluir
  32. Gostei que o Silvio veio para encerrar o assunto. :D

    Pois eu não sei se eu também, daqui um tempo, vou começar a me inclinar a este tipo de atitude, a de anular o voto (ou começar uma luta armada, só para ter algo novo para fazer, hehehehe).

    E aquela foto era um dos pontos altos do show no que tangia ao telão. A reação da plateia era imediata!

    ResponderExcluir